17- As alianças
Um dos tópicos mal compreendido pela maioria dos nossos irmãos, é o das alianças [concertos, pactos, testamentos] que o Senhor fez com Seu povo, ao longo da história da humanidade.
Em geral compreende-se que a Antiga Aliança de Êxodo 19 e 24 – a que ‘gera para a escravidão’ (Gl 4.24) do pecado – era a que envolvia o Santuário terrestre, a Lei Cerimonial, sacerdotes, etc. Trata-se de um equívoco muito lamentável.
Ora, o sistema de sacrifícios, oferecidos de acordo com a lei cerimonial, era o ‘Evangelho em símbolos’, pois nele prefigurava-se o Messias. Consideremos: como poderia ser possível que o ‘Evangelho em símbolos’ – sendo ‘o poder de Deus’ (Rm 1.16) – viesse a ‘gerar para a escravidão’ do pecado?
A Nova Aliança vai de Éden a Éden
A Nova Aliança, também chamada de Concerto da Graça, estende-se de Éden a Éden e tem duas fases [estágios, etapas ou dispensações]: a primeira, antes da cruz e a segunda, depois da cruz. Ela não gera para escravidão.
“O concerto da graça foi feito primeiramente com o homem no Éden, quando, depois da queda, foi feita uma promessa divina de que a semente da mulher feriria a cabeça da serpente. A todos os homens esse concerto oferecia perdão, e a graça auxiliadora de Deus para a futura obediência mediante a fé em Cristo.
Prometia-lhes também vida eterna sob condição de fidelidade para com a lei de Deus. Assim receberam os patriarcas a esperança da salvação. Esse mesmo concerto foi renovado a Abraão, na promessa: ‘Em tua Semente serão benditas todas as nações da Terra.’ (Gn 22.18)”. Assim, a Aliança da Graça – Nova Aliança ou Novo Pacto – recebe também o nome de Aliança ou Concerto Abraâmico e gera para liberdade do domínio do pecado, conforme lemos em Gálatas 4.21-31.
A Antiga Aliança, a que REALMENTE gera escravos do mal (Gl 4.24)
Quando um de nós muda de país, deve sujeitar-se às leis que constituem a nova nação que nos está acolhendo. Assim, após tirar Seu povo da servidão do Egito, o Senhor apresentou-lhes as condições para se tornarem ‘cidadãos do Seu reino’.
E o fez nestes termos: “Agora, portanto, se realmente obedeceres a Minha voz, e guardares o Meu pacto, então sereis o Meu tesouro peculiar acima de todos os povos, porque toda a terra é Minha. E sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êx 19.5-6 - KJ).
É evidente que, nessa passagem, por ‘Meu pacto’, Ele não Se referiu à Aliança da Graça [ao Concerto Abraâmico ou à Nova Aliança], e, sim, à Sua Lei, os dez mandamentos, conforme Deuteronômio 4.13 (KJ): “E Ele vos declarou o Seu pacto, que ordenou que cumprísseis, os dez mandamentos; e os escreveu em duas tábuas de pedra”.
E o povo, de fato, entendeu que Ele lhes falava a respeito de eles guardarem a Sua lei, tanto que, desavisadamente, responderam: “Tudo o que disse Yahweh, faremos” (Êx 19.8).
Entendiam eles que eram, sim, suficientemente capazes de estabelecer sua ‘justiça própria’; que tinham em si próprios, em suas naturezas humanas, poder de guardar Sua Lei; que lhes seria possível obedecer-Lhe apenas com as próprias forças. O que levou os israelitas a darem ao Senhor essa infeliz resposta, foi que, após quatro séculos de escravidão, eles:
· não estavam bem cientes, não sabiam – como a maioria dos professos cristãos nos nossos dias – da extensão da própria pecaminosidade;
· tampouco reconheciam a própria incapacidade de guardarem a Lei apenas pelos próprios esforços; na realidade, estavam crendo que ‘poderiam erguerse por puxar seus próprios cabelos para cima’! De modo leviano entendiam que a má árvore – a natureza humana pecaminosa – produziria bons frutos.
E, como Ele desejava ensinar-lhes a lição de que, por si próprios, lhes seria impossível obedecer-Lhe, selou com eles este pacto didático, proposto por eles mesmos:
“E Moisés veio e disse ao povo todas as palavras do SENHOR, e todos os juízos. E todo o povo respondeu a uma voz e disse: Todas as palavras que o SENHOR disse nós faremos.
E Moisés escreveu todas as palavras do SENHOR, e levantou-se de manhã cedo e construiu um altar sob o monte, e doze pilares, segundo as doze tribos de Israel. E ele enviou jovens dos filhos de Israel, que ofereceram ofertas queimadas, e sacrificaram ofertas pacíficas de bois ao SENHOR.
E Moisés tomou metade do sangue, e o colocou em bacias; e metade do sangue aspergiu sobre o altar. E ele tomou o livro do pacto e o leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: Tudo que o SENHOR tem dito faremos, e seremos obedientes. E Moisés tomou o sangue e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue do pacto que o SENHOR fez convosco a respeito de todas estas palavras” (Êx 24.3-8 - KJ).
Essa foi uma cerimônia única; nunca mais foi repetida em tempo algum, porém vigora até o dia de hoje. Trata-se das ‘obras da lei’. ‘Justiça própria’. Legalismo. Com ela selou-se a Antiga Aliança que ‘gera para a escravidão’ do pecado. Fundamenta-se em promessas humanas.
Foi ratificada pelo sangue de bois, novilhos. Não estava, porém, relacionada com as cerimônias no Santuário terrestre, o qual ainda nem tinha sido construído.
Israel celebra a Nova Aliança, em sua primeira fase ou dispensação
Após algumas semanas, enquanto Moisés se demorava em seu encontro com Deus, os israelitas fizeram um bezerro de ouro, e o adoraram, rompendo o pacto que haviam feito com o Senhor. Constrangidos assim, aprenderam as lições que Ele desejava lhes ensinar:
· A profundidade da pecaminosidade de suas naturezas humanas;
· A impossibilidade de guardar a Lei apenas por seus próprios esforços; e
· A necessidade de perdão, por intermédio do Salvador, simbolizado na lei cerimonial do Concerto Abraâmico, ou seja, a Nova Aliança, a Edênica.
De boa vontade, aceitaram então e celebraram, com o Senhor, outro Pacto: a Nova Aliança em sua primeira fase, com a lei cerimonial, que apontava para a missão, vida e experiência do Salvador. Aceitaram, então, a renovação do Pacto feito com Adão e com Abraão, que se fundamenta na promessa de Deus em nos livrar do domínio do pecado. (Ver gráfico à página 164).
Se a aliança edênica é mais antiga, por que se diz ‘NOVA’?
Segundo Hebreus 9.18-20, a ‘Antiga Aliança’ de Êxodo 19 e 24, foi ratificada com o sangue de novilhos, lá no Sinai, fato que ocorreu cerca de dois mil e quinhentos anos depois da primeira fase da Nova Aliança (ou o Concerto da Graça) ter sido celebrada lá no Éden.
A Nova é, pois, bem mais antiga que a Antiga. Entretanto, é chamada de ‘Nova’ porque o sangue que a ratificou foi o derramado na cruz, cerca de mil e quinhentos anos depois do Sinai. A Aliança Edênica denomina-se ‘Nova Aliança’ porque a sua ratificação deu-se por último.
Sabe-se que o sangue dos sacrifícios de animais e de aves, que era oferecido também no Santuário terrestre, segundo prescrevia a lei cerimonial, era apenas simbólico, pois tipificava o sangue do Salvador, que viria a ser derramado na cruz do Calvário.
Efetivamente foi esse sangue que ratificou a Nova Aliança, conforme está descrito em Mateus 26.27-28: “E [Jesus] tomando o cálice, deu graças, e lhes deu, dizendo: Tomai, bebei todos vós dele. Este é o Meu sangue do novo pacto, o qual é derramado por muitos para o perdão dos pecados”.
A nova promessa em Jeremias 31
Jeremias, que viveu no ano 600 a.C., ou seja, cerca de novecentos anos depois do Sinai, profetizou que a primeira fase da Aliança da Graça seria substituída pela segunda fase, denominada ‘Nova Aliança’ ou ‘Novo Pacto’.
Ele o faz nestes termos: “Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que Eu farei um novo pacto com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o pacto [o Antigo, o de Êxodo 24, obviamente] que Eu fiz com os seus pais no dia em que Eu os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles quebraram Meu pacto
[Dt 4.13, isto é: transgrediram a Lei de Deus ao adorar o bezerro de ouro], embora Eu os tenha desposado, diz o Senhor” (Jr 31.31-32 - KJ; Hb 8.8-9 - KJ).
Estejamos bem atentos para não confundirmos ‘Meu pacto’, que são os dez mandamentos, com qualquer das alianças que Ele celebrou com o Seu povo. Em Hebreus 8.8-9 e 9.18-20, encontramos as duas referências à Antiga Aliança de Êxodo 19 e 24. Note-se que, no Sinai, houve dois pactos bem distintos:
Estude-se o capítulo 32 de Patriarcas e Profetas de E. G. White, p. 385 [371.1].
A segunda etapa muito mais gloriosa do que a primeira
Relembrando: a ‘Aliança da Graça’ compõe-se de duas fases: antes da cruz e depois da cruz. Queremos chamar a atenção para um fato que poderia induzir alguns a um entendimento equivocado: Paulo, por exemplo, em Hebreus 9.1-15, refere-se à segunda fase da Aliança da Graça – a de depois da cruz – como sendo a ‘Nova Aliança’ ou ‘Segunda Aliança’; e, à primeira fase, chama de ‘Antiga Aliança’ ou ‘Primeira Aliança’.
Se não estivermos atentos, gera-se confusão. Nessa epístola, Paulo considera que, na segunda fase da Nova Aliança, houve a substituição do
Santuário [terrestre pelo celestial]; do sacerdócio [levítico pelo de Melquisedeque]; do Sumo Sacerdote [humano pelo divino – Jesus Cristo]; das ofertas [sangue de animais pelo sangue de Jesus Cristo]; e da frequência [múltiplas vezes por uma única vez].
Em Hebreus 9.21-22, temos também a descrição da inauguração do Santuário terrestre: “Também aspergiu parte do sangue sobre o tabernáculo e sobre todos os utensílios do serviço de culto, porque conforme a lei tudo é purificado com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão”.
O ‘defeito’ da primeira fase da ‘Nova Aliança’, a da graça
Lemos em Hebreus 8.7 (KJ): “Porquanto, se o primeiro pacto [primeira fase da Nova Aliança, antes da cruz] fora sem defeito, nenhum lugar se teria buscado para o segundo [a de depois da cruz]”. E qual era, pois, esse referido defeito?
Era este: “Porque é impossível que sangue de touros e de bodes remova pecados” ou “... se oferecem assim dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto” (Hb 10.4 e 9.9 - RA). Era precisamente esse o ‘defeito’: o sangue dos animais era simbólico. O perdão era oferecido em promessa de que viria o Salvador.
Frisemos, novamente, que o ‘primeiro pacto’, aqui em foco, nada tem a ver com a Antiga Aliança de Êxodo 19 e 24. Daí que não faz qualquer sentido atribuir o ‘defeito’, acima referido, à adoração do bezerro de ouro por parte dos israelitas. Note-se, igualmente, que o texto esclarece que o referido ‘defeito’ não estava no povo, e, sim, na própria primeira fase da Nova Aliança.
Quando estou sob a Antiga Aliança e quando estou na Nova Aliança?
Estou sob a ‘Antiga Aliança’, estou recebendo a Lei sem Cristo quando entendo que posso vencer a tentação por minhas próprias forças, sem precisar citar a Palavra autorrealizável com fé. À semelhança dos israelitas digo: ‘Tudo o que falou Yahweh obedeceremos e praticaremos’ (Êx 24.7; 19.8).
Tal engano me conduz a esta situação terrível: à escravidão do pecado, pois, em minha natureza humana, não existe poder algum, capaz de resistir ou de vencer uma única tentação.
E quem está, HOJE, sendo meu companheiro nessa infeliz desdita? Todos os que não praticam o método de Jesus; os que esperam vencer as tentações SEM exercer, sem cultivar a fé no poder criador e transformador da Palavra para lhes dar a vitória.
Os que estão tentando formar um caráter cristão, buscando obedecer a Deus confiando apenas na capacidade humana. São os que leem um mandamento bíblico e entendem que são eles mesmos que devem cumpri-lo.
De sorte que mergulham, assim, no tenebroso mar das ‘obras da lei’ (Rm 3.20, 28). Afundam-se no legalismo, na justiça própria, ‘tendo aparência de piedade, mas negando o poder dela’ (2 Tm 3.5 - KJ).
E, trajados com esses ‘trapos da imundícia’ (Is 64.6), iludem-se com o pensamento de que gozam da aprovação divina. É nada mais do que essa a real causa da ‘mornidão’ na nossa querida ‘igreja em Laodiceia’ (Ap 3.15-16). Esses, se continuarem nessa atitude herética, ouvirão do Senhor: “Apartai-vos de Mim ...” (Mt 7.23).
Devemos sempre manter diante de nós o desastroso perigo que existe na tentativa de se formar um caráter cristão sob a Aliança que ‘gera para escravidão’ (Gl 4.21-31), isto é, que nos mantém sob o domínio do mal.
E, quando confio no Senhor, nas Suas promessas ao enfrentar qualquer tentação, citando a Palavra com fé, estou sob a ‘Nova Aliança’ que ‘gera para liberdade do mal’. Valendo-me da ‘espada do Espírito, que é a Palavra de Deus’ (Ef 6.17); estou então recebendo a Lei ‘em Cristo’, andando ‘conforme o Espírito’ (Gl 5.16) a fim de jamais satisfazer ‘os desejos da carne’. Quando estou na ‘Nova Aliança’ sou coparticipante ‘da natureza divina’ (2 Pe 1.4 - KJ).
Na ‘Nova Aliança’ o Senhor manifesta Sua onipotência em mim, um frágil ser humano. É assim que entro ‘no descanso’ de Hebreus 4: abandono meus ‘trapos de imundícia’.
Ao invés de continuar vestindo-os, possibilito, ao Espírito Santo, me vestir com ‘linho fino branco, resplandecente e puro. Porque as obras justas dos santos é o linho fino branco’ (Ap 19.8). De sorte que, em minha experiência, poderei estar balançando: ora estando na ‘Antiga’ e ora na ‘Nova Aliança’. Amém? É óbvio que o ideal é permanecer sempre na ‘Nova’.
Oremos ao Senhor: “Pai bondoso, dá-nos a graça de estarmos sempre sob a Nova Aliança. E muito obrigado pelas lindas vestes de linho puro, finíssimo. Em nome de Jesus Cristo, o bendito Mediador da Aliança da Graça. Amém”.
GRÁFICO DAS ALIANÇAS
Apoio ao conteúdo deste capítulo
“Outro pacto, chamado nas Escrituras o ‘velho’ concerto, foi formado entre Deus e Israel no Sinai, e foi então ratificado pelo sangue de um sacrifício.
O concerto abraâmico foi ratificado pelo sangue de Cristo, e é chamado o ‘segundo‘ ou o ‘novo‘ concerto, porque o sangue pelo qual foi selado foi vertido depois do sangue do primeiro concerto. Que o novo concerto era válido nos dias de Abraão, evidencia-se do fato de que foi então confirmado tanto pela promessa como pelo juramento de Deus, ‘duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta’ (Hb 6.18)”.
Então, no Sinai, fizeram-se dois pactos [alianças], e não um só! Primeiramente celebraram a Antiga Aliança que gera para a escravidão do pecado e, após a adoração do bezerro de ouro, celebraram a Nova Aliança, em sua primeira fase. Observe:
“Não poderiam esperar o favor de Deus mediante um concerto que tinham violado; e agora, vendo sua índole pecaminosa e necessidade de perdão, foram levados a sentir que necessitavam do Salvador revelado no concerto abraâmico e prefigurado nas ofertas sacrificais.
Agora, pela fé e amor, uniram-se a Deus como seu Libertador do cativeiro do pecado. Estavam então, preparados para apreciar as bênçãos do novo concerto. ...
“A mesma lei que fora gravada em tábuas de pedra, é escrita pelo Espírito Santo nas tábuas do coração. Em vez de cuidarmos em estabelecer nossa própria justiça, aceitamos a justiça de Cristo. Seu sangue expia os nossos pecados.
Sua obediência é aceita em nosso favor. Então o coração renovado pelo Espírito Santo produzirá os ‘frutos do Espírito’. Mediante a graça de Cristo viveremos em obediência à lei de Deus, escrita em nosso coração. Tendo o Espírito de Cristo, andaremos como Ele andou”.
“O espírito de escravidão é gerado por procurar viver de acordo com a religião legal, através de seu esforço para cumprir as reivindicações da lei em nossa própria força” , isto é, sem praticar o Método de Jesus.
“Se, sob a aliança abraâmica não tivesse sido possível que os seres humanos guardassem os mandamentos de Deus, todos estaríamos perdidos. A aliança abraâmica é a aliança da graça. ‘Pela graça sois salvos’. ‘Mas a todos quantos que O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que creem no Seu nome’. (Jo 1.12).
Filhos desobedientes? Não, obedientes a todos os mandamentos divinos. Se não fosse possível que fôssemos observadores dos mandamentos, então por que faz Deus da obediência a Seus mandamentos a prova de que O amamos?”
“Se bem que esse concerto [Novo, Edênico ou Abraâmico] houvesse sido feito com Adão e renovado a Abraão, não poderia ser ratificado antes da morte de Cristo.
Existira pela promessa de Deus desde que se fez a primeira indicação de redenção; fora aceito pela fé; contudo, ao ser ratificado por Cristo, é chamado um novo concerto. A lei de Deus foi a base deste concerto, que era simplesmente uma disposição destinada a levar os homens de novo à harmonia com a vontade divina, colocando-os onde poderiam obedecer à lei de Deus”.
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