18 - Uma Análise da Carta a Baker

tocados por nossos sentimentos

 

A fim de avaliarmos com inteira segurança a crítica que acabamos de transcrever, vamos primeiramente recordar a:
  

Carta a Baker na Íntegra


Carta 8, 1895 de Ellen G. White ao Pr. Baker

“Seja cuidadoso, extremamente cuidadoso ao apresentar a natureza humana de Cristo. Não O apresente às pessoas como um homem com propensões ao pecado. Ele é o segundo Adão. O primeiro Adão foi criado como um ser puro, imaculado, sem mancha de pecado nele; foi feito à imagem de Deus. Podia cair, e caiu pela transgressão. 

Por causa de seu pecado, sua posteridade nasceu com propensão inerente para a desobediência. Mas Jesus Cristo era o Filho unigênito de Deus. Ele tomou sobre Si a natureza humana e foi tentado em todos os pontos em que a natureza humana é tentada. Podia ter pecado; podia ter caído, mas nem por um momento houve nEle qualquer propensão para o mal. Foi assediado pelas tentações no deserto, como Adão foi assediado pelas tentações no Éden.

Evite toda discussão a respeito da humanidade de Cristo que dê lugar a mal-entendidos. A verdade anda perto do caminho da presunção. Ao tratar sobre a natureza humana de Cristo, você precisa cuidar ao extremo toda afirmação, impedindo que suas palavras signifiquem mais do que devem e assim você perca ou obscureça a clara percepção de Sua humanidade combinada com a divindade. 

Seu nascimento foi um milagre, pois o anjo disse: ‘E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus Lhe dará o  trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o Seu reino não terá fim. 

E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço varão? E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus’ (Lucas 1-31-35).

Estas palavras não se referem a qualquer ser humano, exceto ao Filho do Deus Infinito. Nunca, de modo algum, deixe a mais leve impressão nas mentes humanas, de que uma mancha de corrupção, ou inclinação a ela havia em Cristo, ou que Ele, de alguma forma, cedeu à corrupção. 

Foi tentado em todos os pontos como o homem é tentado, contudo foi chamado ‘o Ser Santo’. É um mistério que foi deixado sem explicação para os mortais, que Cristo pôde ser tentado em todos os pontos como nós o somos, e, no entanto, ser sem pecado. A encarnação de Cristo foi e sempre será um mistério. 

O que foi revelado é para nós e nossos filhos, mas que todo o ser humano seja advertido contra a idéia de considerar Cristo totalmente humano, como qualquer um de nós, pois não pode ser. Não é necessário que saibamos o exato momento quando a humanidade se uniu à divindade. Devemos firmar nossos pés sobre a Rocha, Cristo Jesus, como Deus revelado na humanidade. 

Percebo que há perigo na abordagem de assuntos que tratem da humanidade do Filho do Deus Infinito. Ele humilhou-Se a Si mesmo quando viu que tinha tomado a forma humana, e que poderia compreender a força de todas as tentações pelas quais o homem é assediado.

O primeiro Adão caiu; o segundo Adão apegou-Se firmemente à mão de Deus e à Sua Palavra nas mais probantes circunstâncias, e Sua fé na bondade, misericórdia e amor do Pai não oscilou em momento algum. 

‘Está escrito’ foi Sua arma de resistência, e essa é a espada do Espírito que todo ser humano deve usar. ‘Já não falarei muito convosco; por que se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim’ (João 14.30). – nada que seja suscetível à tentação. 

Em nenhuma ocasião houve reação favorável às suas múltiplas tentações. Nenhuma vez Cristo pisou no terreno de Satanás, para não lhe dar qualquer vantagem. Satanás nada encontrou nEle que encorajasse seus avanços.”
 

Uma Análise da Carta a Baker  


Pelo Pr. Ralph Larson – O que oferece US$1.000,00 a quem apresentar uma única citação de Ellen G. White, afirmando que Jesus possuiu a natureza de Adão antes da queda! (vide nota de referência 480 deste).

Quais foram os problemas na experiência do Pr. W. L. H. Baker que deram origem à carta de conselhos escrita por Ellen White?
Quanto aos conselhos profissionais e práticos, que ocupam a maior parte da carta, não devemos especular, já que ela – a Sra. White – escreveu ao Pr. Baker: “Estáveis abatidos e vos sentíeis desanimados ... Considerais vosso trabalho como um fracasso.” 

Porém os intérpretes de Ellen White aparentemente pensaram que duas páginas e meia de conselhos cristológicos, dirigidos ao Pr. Baker, não incluíram uma declaração adequada ao problema, e se aventuraram a escrever uma em seu lugar. Se resumíssemos a declaração escrita por eles diria assim: “Você, tem estado equivocado ao crer que Cristo veio à Terra na natureza humana do homem caído.”

Proponho que este esforço, ainda que bem intencionado, foi totalmente desnecessário. Em meu parecer a declaração de Ellen White é suficientemente clara e satisfatória. Ela escreveu: “que todo o ser humano seja advertido contra a idéia de considerar Cristo completamente [totalmente] humano, como qualquer um de nós.” A ênfase é minha.

Procuremos analisar cabalmente esta declaração, tendo cuidado de não misturar uma “eiségesis” – nossa própria interpretação – com a “exégesis” – o significado das palavras da autora. Os seguintes pontos pareceram inquestionáveis:

a. O propósito da mensagem é admoestar.

b. A advertência, ainda que dirigida ao Pr. Baker, se estende a “todo ser humano”.

c. O tema da advertência é cristologia, isto é, a doutrina de Cristo.

d. Os termos empregados não limitam a advertência à natureza humana nem à natureza divina de Cristo. A autora fala de Cristo em Sua totalidade, Cristo em Sua plenitude, em Sua inteireza, o Salvador divino-humano que tanto é Deus como homem. 

Isto é evidente nas palavras da oração, e seu contexto, que nos levam a sermos prudentes não seja que “assim você perca ou obscureça a clara percepção de Sua humanidade combinada com Sua divindade.” A ênfase é minha.

e. O conteúdo específico da advertência é que tenhamos cuidado de não apresentar Cristo diante das pessoas como: 1 – Completamente humano, 2 – Como um de nós.

Esta advertência vem imediatamente depois de umas declarações que sustentam que o nascimento de Cristo foi um milagre de Deus, e que a descrição bíblica de Cristo como o Filho de Deus não pode aplicar-se a nenhum ser humano senão a Cristo.

É necessário que assinalemos que não tem cabimento para uma natureza divina em um Cristo que fosse completamente humano?
É necessário que assinalemos que não há cabimento para uma natureza divina em um Cristo que em Sua grandiosidade fosse como um de nós?

Por que temos dificuldade em nos dar-nos conta de que a advertência de Ellen White ao Pr. Baker era de que tivesse cuidado para que sua frisante ênfase na humanidade de Cristo não viesse a fazer com que seus ouvintes perdessem de vista a importante divindade de Cristo, e que chegassem à conclusão de que na vida de Cristo pudesse ter havido pecado? (Não esqueçamos que esta advertência contém não menos de dez declarações que afirmam que Cristo nunca pecou, nem sequer uma única vez).

Vacilamos em aceitar o significado óbvio da advertência escrita porque não podemos aceitar que exista um cristão que creia que, na vida de Cristo, pudesse ter havido pecado?

De fato, tem havido muitos cristãos que tem acreditado que, na vida de Cristo, pudesse ter havido pecado. Estes tem sido classificados geralmente em dois grupos: 

A. Os chamados modernistas – este  termo faz tempo que está em desuso e tem sido substituído pelo termo mais geral: liberais – que surgiram em fins do século XIX e nos princípios do século XX. Eles ensinavam que os descobrimentos científicos tem comprovado que o registro bíblico do nascimento miraculoso de Cristo não tem fundamento, e viam a Cristo simplesmente como um grande e bom homem, não como o Filho de Deus. 

Eles não vacilaram em admitir a possibilidade de pecado na vida de Cristo – a menos que também negassem a realidade do pecado, como outros tem feito. Estas pessoas enfrentaram a vigorosa oposição dos líderes adventistas de seu tempo, assim como de outros cristãos conservadores. Eram classificados entre os piores inimigos de Cristo e do Evangelho. É difícil acreditar que o Pr. Baker tivesse continuado no ministério adventista se tivesse adotado as doutrinas dos modernistas.

B. Os Adocianistas [ou adocionistas] da igreja primitiva. Estes eram um número significativo de cristãos que criam que Cristo iniciou Sua vida terrestre como um ser completamente humano, como um de nós, mas que eventualmente foi adotado para converter-Se no Filho de Deus. Não pareciam preocupar-se muito pelo pecado que pudesse haver existido na vida de Cristo, anterior à Sua adoção. Suas opiniões encontram-se nos escritos dos Pais da igreja cristã, acerca dos quais Ellen White advertiu ao Pr. Baker.

Minha análise da carta a Baker, apresentada neste site, tem-me levado à concluir que o adocianismo [ou adocionismo] é o erro contra o qual Ellen White advertiu ao Pr. Baker. Parece-me que a explicação que os intérpretes de Ellen White tem dado a esta carta é totalmente artificial e estranha, uma explicação que só pode ser o fruto de haver ignorado a clara declaração de Ellen White quanto ao problema.

É de conhecimento geral que os pioneiros da Igreja Adventista vinham de uma grande variedade de antecedentes religiosos e teológicos, e que, depois da grande decepção do ano de 1844, eles dedicaram muito tempo, e estudo, ao desenvolvimento de uma plataforma de verdades bíblicas sobre a qual puderam unir-se. 

Em suas primeiras conferências bíblicas conseguiram chegar a um acordo comum acerca da natureza de Deus, a natureza do homem, o sábado, a justificação pela fé, etc. Sem dúvida, não puderam chegar a um acordo quanto à natureza de Cristo.

Arianismo

No início do século, todavia, ouviam-se algumas vozes entre nós que advogavam em diferentes maneiras por limitadas idéias acerca da divindade de Cristo.  Falando de forma geral, estes conceitos pertenciam ao que os teólogos tem denominado arianismo, em homenagem a um sacerdote de Alexandria, chamado Ário, que, com muito vigor, defendeu opiniões similares nas grandes controvérsias cristológicas do século IV. 

Segundo Ário –  e aqueles que crêem em suas idéias – Cristo não havia coexistido com o Pai através de toda a eternidade, senão que foi criado pelo Pai em algum ponto do tempo antes da história do mundo. Cristo era visto como o maior e mais elevado dos seres criados por Deus. Por essa razão Ele não podia ser “o verdadeiro Deus”, senão uma forma de deidade inferior e menor. 

Ellen White não usou o termo técnico arianismo, mas deixou a certeza da divindade eterna de Cristo em sua grande obra ‘O Desejado de Todas as Nações’, de tal forma que os erros cristológicos, específicos do arianismo, foram ineqüivocadamente refutados.  Por exemplo: “Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai.” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 19).

“O nome de Deus, dado a Moisés para exprimir a idéia da presença eterna, fora reclamado como Seu pelo Rabi da Galiléia. Declarara-Se Aquele que tem existência própria.” (O Desejado de Todas as Nações, págs. 469-470). “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada..” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 530).

À luz deste claro testemunho, os erros cristológicos do arianismo desvaneceram-se gradualmente, e duvido que hoje exista algum Adventista do Sétimo Dia, estudante da Bíblia, que pense que Jesus era um ser criado.

Adocianismo [ou adocionismo]


De igual maneira, sem identificar o erro cristológico com seu termo específico, Ellen White achou ocasião para refutar os princípios do adocianismo, que diz que Cristo não era o Filho de Deus ao nascer nem durante a primeira parte de Sua vida terrena, senão que converteu-Se em Filho de Deus por adoção. 

Este conceito foi ensinado em Roma, entre os anos de 189199 d. C., por um mercador de couro, chamado Teodoro, nascido em Bizâncio.  Foi desenvolvido e ampliado por Paulo de Samosata, que serviu como bispo de Antioquia, durante os anos 260-269 d. C. 

Devido à forte influência de Paulo de Samosata, este conceito tornou-se muito popular entre as igrejas orientais e nas igrejas da Armênia, onde se manteve por muitos séculos.  No século VIII foi defendido entre as igrejas ocidentais por Elipando de Espanha. 

Ainda que tivesse diversos matizes nas opiniões dos adocianistas, três conceitos básicos predominavam. Os comentários e os argumentos de Ellen White a estas idéias encontram-se não só em ‘O Desejado de Todas as Nações’, senão também num testemunho pessoal dirigido a W. L. H. Baker, um pastor que trabalhava no distrito de Tasmânia, quando Ellen White vivia na Austrália e trabalhava no manuscrito de sua obra ‘O Desejado de Todas as Nações’.  
 
Nesta interessante carta encontramos:

(1) uma advertência ao Pr. Baker quanto a ocupar muito tempo com a leitura, 

(2) um aviso quanto a não aceitar as tradições dos Pais – termo que, ao ser escrito com letra maiúscula, refere-se aos Pais da igreja e 

(3) uma admoestação quanto a ensinar teorias especulativas que não seriam de proveito para os membros da igreja. Ademais refuta especificamente, ponto por ponto, os erros do adocianismo – descritos na seqüência:

I. Conceito Adocianista: Ao nascer, Jesus não era o Filho de Deus. Nasceu de uma mulher de maneira igual a todos os homens. Ainda que possa ter nascido de uma virgem, este feito não havia tido nenhum significado teológico. Nasceu como filho de homem, não como Filho de Deus.

Ellen White escreveu ao Pr. Baker: “Mas Jesus Cristo era o unigênito Filho de Deus ... Seu nascimento foi um milagre de Deus pois o anjo disse: ‘Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; o Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi Seu pai; e reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o Seu reino não terá fim. 

Então Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, uma vez que não conheço varão? Respondeu-lhe o anjo: Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso O que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus.” (Lucas 1:31-35). Estas palavras não se referem a nenhum ser humano, exceto ao Filho do Deus Infinito.” Carta 8, 1985. A ênfase é minha.

II. Conceito Adocianista


Jesus não era o Filho de Deus durante a primeira fase de Sua existência terrena. Era um ser humano normal com conceitos de pureza e santidade muito elevados, pelos quais lutou heroicamente, mas não foi divino em nenhum sentido.

Durante esta fase de Sua existência, posto que era completa e exclusivamente humano, devia possuir as mesmas tendências ao pecado e manchas de corrupção que todos os humanos possuem. Pode ter sido vencido pela tentação e inclusive pode ter pecado. 

Mas nenhuma destas coisas, em vista de sua luta heróica e contínua por alcançar a santidade, O tinham desqualificado para converter-Se no Filho adotivo de Deus ao culminar Seu progresso espiritual. Paulo de Samosata o expressou desta maneira: “Maria não deu à luz a Palavra, porque Maria não existia desde a eternidade. Senão que ela deu à luz a um homem do mesmo nível que nós.”  A ênfase é minha.

Ellen White escreveu ao Pr. Baker: “Que cada ser humano permaneça em guarda para que não façam a Cristo completamente humano, como um de nós, porque isto não pode ser.” Ênfase minha.

“Nunca, de modo algum, deixe a mais leve impressão nas mentes humanas, de que uma mancha de corrupção, ou inclinação a ela havia em Cristo, ou que Ele, de alguma forma, cedeu à corrupção”.

“Não O apresente às pessoas como um homem com propensões ao pecado.”

“Podia ter pecado; podia ter caído, mas nem por um momento houve nEle qualquer propensão para o mal.” Carta 8, 1985.

Esta interessante expressão, “nem por um momento”, parecia indicar que Ellen White se retraía de horror ao conhecer a posição dos adocianistas. Talvez eles pudessem contemplar serenamente a possibilidade de que houvera propensões perversas [cultivadas],  corrupção e algum pecado na vida de Cristo, mas ela não podia conceber semelhante conceito. 

Esta parecia ser sua maior preocupação na carta ao Pr. Baker. Na carta ela reitera um total de dez vezes que Cristo não pecou, excluindo cuidadosamente a possibilidade de sequer uma única ocasião em que Cristo houvesse cedido a tentação.

“Em nenhuma ocasião houve uma resposta as muitas tentações de Satanás.” Ênfase minha.

III. Conceito Adocianista: Como resultado de Suas lutas heróicas para conseguir a santidade, Jesus foi finalmente adotado para ser o Filho de Deus. 

Há diversas opiniões quanto a quando isto aconteceu. Alguns crêem que foi um processo gradual, outros pensam que aconteceu no batismo de Jesus, e outros crêem que foi em Sua ressurreição. Depois de Sua adoção, a humanidade uniu-se com a divindade.

Ellen White escreveu ao Pr. Baker: “Não é necessário que saibamos o momento exato quando a humanidade se combinou com a divindade.” Ênfase minha.

Apesar desta precisa e clara refutação aos erros do adocianismo – em sua carta ao Pr. Baker –, Ellen White abundou, em sua obra ‘O Desejado de Todas as Nações’, sobre os temas da divindade e preexistência de Cristo, assim como em Sua total impecabilidade [ausência de pecado] através de toda Sua vida.

Alguns tem estudado a carta a Baker, e, talvez devido ao pouco conhecimento que têm dos específicos erros cristológicos adocianistas, que ela refutou tão energicamente, tiveram dificuldades com a expressão “em nenhum momento houve nEle uma propensão ao mal [perversa] .” 

Alguns tem visto nesta declaração uma evidência de que ela acreditava que Cristo tomou a natureza não-caída de Adão. Outros, ao comparar essa declaração com os comentários que ela faz sobre o tema no ‘O desejado de Todas as Nações’, tem chegado a desafortunada conclusão de que ela se contradiz a si mesma ao apoiar ambas as posições. 

Nenhuma destas conclusões tem fundamento. Uma vez que reconheçamos que o propósito da carta a Baker é rebater todos os pontos do adocianismo, com os quais o Pr. Baker, aparentemente, havia se envolvido mediante os escritos dos Pais da igreja, a linha de pensamento de Ellen White se torna clara como o cristal. 

E de nenhuma maneira podemos usar o fragmento de uma carta pessoal, dirigida a um pastor em Tasmânia, para contrariar todas as declarações a respeito da natureza humana de Cristo, que se encontram em ‘O Desejado de Todas as Nações’, que é claramente o legado consciente e deliberado de sua posição cristológica ao mundo inteiro. 

Fazer isto seria uma hermenêutica questionável, para não dizer outra coisa.

Quanto à natureza humana de Cristo, Ellen White, separando-se conscienciosamente da Cristologia da Reforma, adota a mesma posição que o teólogo suíço Karl Barth sustentou, e pela mesma razão. Façamos a comparação:
]
Karl Barth: “A carne – no que se converteu a Palavra – é a forma concreta da natureza humana marcada pela queda de Adão ...

“Mas não se deve debilitar-se ou obscurecer-se a verdade salvadora de que a natureza, que Deus assumiu em Cristo, é idêntica à nossa natureza, tal como o vemos à luz da queda. De outra maneira como poderia Cristo ser realmente como nós? Que relação teríamos com Ele?
“Jesus não recusou a condição e situação do homem caído, senão que a tomou sobre Si mesmo, a viveu e a elevou como o eterno Filho de Deus.” 

Ellen White: “Teria sido uma quase infinita humilhação para o Filho de Deus, revestir-Se da natureza humana mesmo quando Adão permanecia em seu estado de inocência, no Éden. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado.”  
 
“A fim de elevar ao homem caído, Cristo tinha que chegar ao lugar deste, tomou a natureza humana, e levou as fraquezas e degenerações da raça.” 
 
“Ao tomar sobre Si a natureza humana em sua condição caída, Cristo não participou no mínimo em seu pecado.” 

Concluo dizendo que, se utilizarmos os princípios hermenêuticos corretos, seria impossível usar a carta de Baker para contradizer o escrito em ‘O Desejado de Todas as Nações’. 

Comparar a natureza humana de Cristo com a natureza não-caída de Adão, distinguindo-a da natureza do homem depois da queda, certamente não foi o propósito da autora desta carta. É evidente que ela estava respondendo às necessidades de um problema totalmente diferente – o desafortunado envolvimento do Pr. Baker com os erros cristológicos do adocianismo.

E a evidência, de nenhuma maneira, dá lugar a que se acuse a Ellen White de sustentar ambas posições na controvérsia sobre a natureza humana de Cristo. Quando os princípios hermenêuticos corretos são aplicados, seus escritos sobre o tema são muito claros, conscientes e inequívocos. 

Qualquer intento de traçar uma linha demarcatória entre a natureza humana de Cristo e a nossa, deve ser eliminado completamente por esta simples porém profundamente significativa declaração: “Ele foi, em Sua natureza humana, precisamente o que você pode chegar a ser.” 

Comentário:


Como o Pr. Larson magistralmente apresenta, a carta ao Pr. Baker é nada mais que uma admoestação contra o adocianismo! A ‘nova teologia’, ao colocar a Carta fora de contexto, equivoca-se redondamente. É, de fato, uma lástima que tanta controvérsia, ao longo da nossa história, tenha como fundamento apenas um ‘texto fora do contexto’, gerando incontáveis pretextos!
 
“Em questões de consciência, a alma deve ser deixada livre. Ninguém deve controlar o espírito de outro, julgar por outro, ou prescrever-lhe o dever. Deus dá a toda alma liberdade de pensar, e seguir suas próprias convicções. ‘Cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus.’ Rom. 14:12. 

Ninguém tem direito de imergir sua individualidade na de outro. Em tudo quanto envolve princípios, ‘cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo’. Rom. 14:5. No reino de Cristo não há nenhuma orgulhosa opressão, nenhuma obrigatoriedade de costumes.”   

 “Temos uma individualidade e uma identidade que nos é inerente. Ninguém pode submergir sua identidade na de qualquer outra pessoa. Todos devem agir por si mesmos, segundo os ditames de sua própria consciência.”  

 “O dono serve de mente, juízo e vontade para o animal. Uma criança pode ser ensinada de maneira a, como o animal, não ter vontade própria. 

Sua individualidade pode imergir na da pessoa que lhe dirige o ensino; sua vontade, para todos os intentos e desígnios, está sujeita à de seu mestre. Há direitos que pertencem a cada indivíduo. Temos uma individualidade e uma identidade que é nossa própria. Ninguém pode submergir sua identidade na de outrem.”



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