Capítulo 5: ALONZO T. JONES (1850-1923)

tocados por nossos sentimentos


Capítulo 5 ALONZO T. JONES (18501923) 

Pregador entusiasta, editor de diversos periódicos, e autor de várias obras , Alonzo T. Jones foi um dos primeiros líderes espirituais da igreja adventista na década de 1890.

Jones nasceu no dia 21 de abril de 1850, em Rockhill, Ohio. Com 20 anos de idade alistou-se no exército e lá ficou durante três anos. Dessa experiência ele conservou o espírito de disciplina e certa brusquidão em seus relacionamentos. 

Enquanto a maioria de seus companheiros gostava de se divertir nas folgas, Jones preferia ler obras de história ou publicações adventistas, juntamente com a Bíblia. Assim ele adquiriu grande parte do conhecimento básico necessário a seu futuro trabalho como pregador e escritor.

Livre das obrigações militares, solicitou o batismo na igreja adventista. Foi então designado para ir à costa oeste como pregador. Em maio de 1885, foi admitido como editor-assistente da revista Signs of the Times, uma posição que manteve ao lado de Ellet J. Waggoner até 1889.

Embora completamente diferentes um do outro, esses homens colaboraram mui estreitamente na pregação da mensagem da justificação pela fé. Com o apoio de Ellen White, eles revolucionaram a sessão da Conferência Geral de 1888, em Mineápolis. 

Como resultado, por dois anos a comissão da Conferência Geral nomeou Waggoner e Jones para ensinar essa mensagem nos encontros campais, nos concílios pastorais, nas instituições e igrejas por todo o país. Até viajar para a Austrália, em dezembro de 1891, Ellen White freqüentemente os acompanhava nessas campanhas. Ela considerava sua mensagem como vinda de Deus.

Após a ida de Waggoner para a Inglaterra, em 1892, Jones ficou encarregado de manter o interesse na mensagem de 1888. E ele o fez de maneira magistral e com a plena aprovação dos líderes de igreja. Durante a década de 1890, em cada sessão da Conferência Geral, uma posição preferencial era-lhe reservada para a apresentação de vários aspectos da “terceira mensagem angélica”, como a coleção de seus estudos bíblicos era popularmente conhecida.

Por causa de seu interesse em liberdade religiosa, Jones foi escolhido em 1889 para dirigir a revista American Sentinel (Sentinela Americana). Em 1897, ele foi chamado a servir como um dos membros da Comissão da Conferência Geral, e, ao mesmo tempo, como editor-chefe da Review and Herald. Então, na sessão da Conferência Geral de 1901, ele foi eleito para a presidência da Associação da Califórnia, posição em que ficou até 1903.

Jones foi então convidado para tomar conta do departamento de liberdade religiosa em nível da Conferência Geral, em Washington. De início aceitou o convite, mas depois declinou dele e foi para Battle Creek a fim de trabalhar com o Dr. John Harvey Kellogg, sob cuja influência acabou entrando em conflito com a Conferência Geral. Por causa disso deixou a Obra.  Posteriormente, em razão de crescente hostilidade com a liderança da igreja, foi desligado do rol de membros em 1909.

Antes dessa separação, todavia, A. G. Daniells, presidente da Conferência Geral, tentou a reconciliação na sessão de 1909. Por alguma razão, Jones rejeitou essa abertura. Daí em diante, embora um observador do sábado ligado às mais fundamentais doutrinas adventistas, permaneceu afastado da igreja. Além disso, como seu biógrafo George R. Knight observa: “A despeito de sua animosidade com a igreja organizada, Jones parecia desejoso de companheirismo adventista.” Ele faleceu no dia 12 de maio de 1923, em Battle Creek, após sofrer hemorragia cerebral.

A Mensagem de Jones é Ainda Digna de Confiança?

Por causa de sua posterior separação da igreja, alguns adventistas hoje questionam seriamente a validade da mensagem de Jones. Realmente, como regra geral, a mensagem de quem não permanece firme na fé até o final tende a perder toda a credibilidade. 

No caso de Jones, todavia, seu desligamento ocorreu fundamentalmente por conflito com a organização e não com a fé. George R. Knight escreve: “Tendo estudado sua vida por muitos anos, achei quase impossível crer que o vigoroso Jones do início da década de 1890, pudesse ter naufragado na fé. 

Por outro lado, também parece quase impossível para ele – em conseqüência de seu orgulho, obstinadas opiniões e extremismo – ter feito qualquer coisa mais. A chave para o seu futuro jaz na mensagem que foi tão cara ao seu coração – deixar o poder do Espírito Santo transformar sua vida através da fé. Esse foi o ponto onde Jones falhou. Possuía uma correta teoria da verdade, mas fracassou em sua prática.” 

Ellen G. White acentua a diferença entre a mensagem e o mensageiro. Ela conhecia bem a ambos. A Sra. White havia aceito a mensagem como inspirada pelo Céu. Ela mesma não hesitou em pregá-la. Mas em resultado da oposição que Jones e Waggoner tiveram de enfrentar, ela temia que se desanimassem e por fim “sucumbissem às tentações do inimigo”. De qualquer modo, ela advertia: “Se isso acontecesse, não provaria que eles não tinham qualquer mensagem de Deus, ou que a obra que fizeram fosse totalmente um erro.”  [Ênfase acrescida].

Esse testemunho é ainda mais digno de nota, em vista das circunstâncias que desafortunadamente justificaram mais tarde os temores de Ellen White com relação aos mensageiros. 

De fato, ela nunca duvidou da origem da mensagem básica pregada por Jones e Waggoner, embora, às vezes, ela os corrigisse em alguns pontos particulares.233 Tendo lido, na Austrália, os 24 estudos bíblicos apresentados por Jones na sessão da Conferência Geral em 1893, Ellen White escreveu: “Sabemos que o irmão Jones tem dado a mensagem para este tempo – alimento no tempo devido para o faminto rebanho de Deus. Aqueles que não permitem que o preconceito obstrua o coração contra a mensagem enviada pelo Céu, não podem senão sentir o espírito e a força da verdade.” 

Jones também desfrutou a confiança dos líderes da igreja, de acordo com Arthur L. White: “Talvez a verdadeira atitude da igreja e seus líderes para com Jones e Waggoner, após a sessão da Conferência de 1888, seja melhor refletida nos convites estendidos a esses dois homens, para conduzirem estudos bíblicos nas sessões da Conferência Geral realizadas nos 10 anos seguintes. 

É bom lembrar que a Comissão da Conferência Geral foi responsável pelo planejamento das reuniões da Conferência Geral e pela escolha de seus oradores. A igreja tinha muitos oradores competentes. As escolhas feitas revelam os sentimentos de seus líderes.” 

Uma rápida olhadela na impressiva conta de estudos bíblicos apresentados por Waggoner e Jones nas várias sessões da Conferência Geral, de 1891 a 1909, será suficiente para estabelecer o nível de confiança de que gozavam: 17 para Waggoner em 1991; 24 para Jones em 1893; 26 para Jones em 1895; 19 para Waggoner e 11 para Jones em 1897; 3 para Waggoner e 7 para Jones em 1899. Esses homens nunca teriam sido solicitados a apresentar como o fizeram, os vários aspectos da terceira mensagem angélica, se seu discurso não houvesse  estado em harmonia com as crenças da igreja.

Cristologia de Jones

Jones falou profusamente sobre a natureza humana de Cristo, primeiramente em numerosos artigos na Review and Herald, da qual foi editorchefe;  mais tarde nos estudos bíblicos apresentados nas sessões da Conferência Geral havidas entre 1893 e 1895, sob o título “A Terceira Mensagem Angélica”  e finalmente num livreto intitulado The Consacrated Way to Christian Perfection (O Caminho Consagrado Para a Perfeição Cristã) , publicado ao final de seu ministério, em 1905.

Dentro do escopo deste estudo, é impossível considerar todos os detalhes da mensagem exposta por Jones. Será suficiente aqui definir os pontos principais de sua Cristologia. Primeiramente, vamos deixar claro que Jones sempre apresentou Cristo como Deus. Para ele, “tão inteiramente a natureza de Cristo é a natureza de Deus, que ela é o próprio sinete da substância de Deus.” “Ele é Deus.”  Jones declarou: “É essencial conhecer o primeiro capítulo aos Hebreus, de forma a entender o que é Sua natureza como homem, revelada no segundo capítulo de Hebreus.” 

Em suas apresentações no ano de 1893, Jones confirmou os ensinos de Waggoner sobre justificação pela fé. Ele afirmou que “Jesus participou da mesma carne e sangue que nós temos.”  E, em seu décimo estudo ele explicou como Deus teceu em Cristo “as vestes da justiça”, disponíveis àqueles que O aceitam.

Jones afirmou: “Essas vestes foram tecidas em um corpo humano. O corpo humano – a carne de Cristo – era o tear, não era? Essa roupa foi tecida em Jesus; na mesma carne que você e eu temos, pois Ele tomou parte na mesma carne e sangue que temos. 

Essa carne, que é sua e minha, foi a que Cristo portou neste mundo, a qual foi o tear no qual Deus teceu os trajes para você e eu vestirmos na carne, e Ele quer que os usemos agora.”242 As mais completas e detalhadas apresentações foram as feitas por Jones na sessão da Conferência Geral de 1895. 

De 26 estudos, seis foram dedicados à doutrina da encarnação.  No curso dessas exposições, Jones mencionou que a natureza de Cristo havia sido objeto de profundo estudo durante “três ou quatro anos”, mas que Deus os estava conduzindo “mais além” no assunto.  Jones cria que havia novos argumentos capazes de consolidar o ensino sobre a natureza humana de Cristo.

Evidências sugerem que, após sua chegada à Inglaterra em 1892, Waggoner enviou a Jones os escritos de um bispo anglicano, Edward Irving, bem conhecidos por sua Cristologia. Está bastante claro que Jones havia lido as obras de Irving e que elas tiveram influência sobre os argumentos e expressões usados nas apresentações de 1895. 

A compreensão de Jones sobre a natureza humana de Jesus e suas aplicações práticas na vida cristã, podem sem sumariadas em quatro principais conceitos:

1. A Natureza Caída de Cristo

Jones não tinha a mínima dúvida de que Cristo tomou sobre Si a natureza humana decaída ou pecaminosa, “a semelhança da carne do pecado”. Esse tipo de expressão ocorre não menos que 90 vezes em suas apresentações feitas no ano de 1895. 

Não satisfeito em afirmar a verdade dessa mensagem, Jones desejava explicar sua lógica. Para esse fim ele começou a enfatizar a origem comum da natureza humana de Cristo e de todos os seres humanos. 

Para demonstrar esse ponto, ele citava Hebreus 2:11: “Pois tanto o que santifica, como os que são santificados, vêm todos de um só...” Com base nesse verso, Jones concluiu que “em Sua natureza humana, Cristo proveio do homem de quem todos nós viemos... Um homem é a fonte e cabeça de toda a natureza humana. E a genealogia de Cristo, como um de nós, origina-se em Adão... Todos vêm de um homem segundo a carne; são todos de um. Assim, do lado humano, a natureza de Cristo é precisamente a nossa natureza.”247

“Que carne é essa, de fato?”, interrogava Jones. “Que espécie de carne somente este mundo conhece? Tão-somente a carne que você e eu temos. O mundo não conhece qualquer outro tipo de carne humana, e não tem sabido de outra pela qual a necessidade da vinda de Cristo foi criada.

Por esse motivo, como o mundo conhece apenas tal espécie de carne como a que temos, como é agora, é certamente verdade que quando ‘o Verbo Se fez carne’, foi a mesma carne que a nossa. Isso não pode ser de outro modo.” 

Fundamentando-se nos versos de Hebreus 2:1418, Jones salientava o fato de Cristo ter participado da carne e do sangue, da mesma maneira que nós compartilhamos da carne e do sangue. “Ele não Se revestiu da natureza dos anjos, mas da natureza de Abraão. Mas a natureza de Abraão e a semente de Abraão são tão-somente natureza humana... ‘Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a Seus irmãos.’ Em quantas coisas? Todas as coisas. Então, em Sua natureza humana não há sequer uma partícula de diferença entre Ele e você.” 

Jones pergunta: “Percebe você que nossa salvação jaz exatamente aí? Não vê que é justamente aí que Cristo Se aproxima de nós? Ele chegou até nós precisamente onde somos tentados, e foi feito como nós exatamente onde somos tentados; e esse é o ponto onde nós O encontramos – o Salvador vivo contra o poder da tentação.”

2. O Pecado Condenado na Carne

Quando Jones considerava as tentações às quais Cristo esteve sujeito, aludia a Hebreus 4:15: “Porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.”

Obviamente, declarou Jones: “Ele não poderia ser tentado em todos os pontos como eu sou, se em todos os pontos não fosse como eu sou.... Cristo estava em Seu lugar, e Ele possuía a natureza de toda a raça humana. Nele se encontrava toda a fraqueza da humanidade, de forma que cada homem sobre a Terra que pode ser tentado, encontra em Jesus Cristo poder contra a tentação. Para cada alma há em Jesus vitória contra todas as tentações e socorro contra  seu poder. Essa é a verdade.” 

Em seu décimo quarto estudo, Jones repetiu o que cada homem herdou de Adão. “Assim, todas as tendências para o pecado encontradas na raça humana vieram de Adão. Mas Jesus Cristo sofreu todas essas tentações. 

Ele foi tentado em todos os pontos na carne que Ele recebeu de Davi, Abraão e Adão... Assim, na carne de Jesus Cristo – não em Si mesmo, mas em Sua carne – nossa carne que Ele tomou em a natureza humana – ocorreram justamente as mesmas tentações ao pecado que existem em você e em mim...  E assim, existindo em semelhança da carne pecaminosa, Ele condenou o pecado na carne.” 

Por conseguinte, Jones diz: “Todas as tendências para pecar que existem na carne humana estavam em Sua carne, e a nenhuma foi jamais permitido que se manifestasse; Ele venceu a todas elas. E nEle todos temos a vitória sobre elas.” 

Para tornar mais clara sua explanação, Jones admite “uma diferença entre a tendência para pecar e o aberto aparecimento desse pecado nas ações.”  

Ao submeter-Se à grande lei da hereditariedade, Cristo aceitou ser tentado em todos os pontos como nós somos, mas sem ceder ao poder da tentação que Ele portava em Sua carne. Então Jones declara: “Ele é um Salvador completo. Ele é um Salvador dos pecados cometidos e um Conquistador das tendências para cometimento de pecados. Nele temos a vitória.”255

Jones afirmava não haver mistério em Deus ser manifesto numa carne que não estivesse sujeita ao poder do pecado. “Mas a maravilha está no que Deus pode fazer através da e na carne pecaminosa. 

Esse é o mistério de Deus – Deus manifesto em carne pecaminosa. Em Jesus Cristo, que estava em carne pecaminosa, Deus demonstrou perante o Universo que Ele pode assim tomar posse da carne pecaminosa para revelar Sua própria presença, poder e glória, em vez de o pecado nela se manifestar.” 

3. Natureza de Adão: Antes ou Depois da Queda?

Para Jones, essa questão nunca deveria ter sido levantada. “O segundo Adão veio, não como o primeiro Adão era, mas com o que o primeiro Adão havia produzido em seus descendentes no tempo de Sua vinda. O segundo Adão veio no ponto que a degeneração da raça havia atingido desde o primeiro Adão.”  “Jesus veio aqui, no território de Satanás, e assumiu a natureza humana justamente no ponto ao qual Satanás a havia levado.” 

É claro que alguns delegados não compreenderam como foi possível para Jesus ter “carne pecaminosa” e não ter sido um pecador. Conseqüentemente, houve questionamentos aos quais Jones se viu compelido a responder. De pronto ele foi forçado a recorrer à doutrina da imaculada conceição. 

“A falsa idéia de que Ele é tão santo que Lhe seria inteiramente impróprio achegar-Se a nós e ser possuído da mesma natureza que temos – pecaminosa, depravada, decaída natureza humana – tem sua origem na encarnação daquela inimizade contra Deus, e que separa o homem e Deus – o papado.” 

De acordo com essa doutrina, “Maria, portanto, deve ter nascido imaculada, perfeita, impecável, e mais elevada que o querubim e o serafim; então Cristo deve ter nascido assim, para tomar dela Sua natureza humana em absoluta impecabilidade. 

Mas isso O coloca muito mais distante de nós do que um querubim e um serafim estão, e em natureza pecaminosa... Quero que alguém me ajude, alguém que conheça alguma coisa sobre natureza pecaminosa, pois essa é a natureza que eu tenho e é a tal que o Senhor assumiu. Ele Se tornou um de nós.”260

Alguns delegados acharam que Jones estava indo muito longe ao afirmar que “Cristo possuía as mesmas paixões que nós.” Eles o confrontaram com uma declaração de Ellen White de que “Cristo é um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir as mesmas paixões”. 

Jones respondeu enfatizando a diferença entre a carne de Jesus e Sua mente: “Ele foi feito em semelhança de carne pecaminosa; não à semelhança da mente pecaminosa. Não coloquem Sua mente nisso. Sua carne era a nossa carne, mas a mente era ‘a mente de Cristo Jesus’. Por conseguinte, está escrito: ‘Haja em vós o mesmo sentimento [mente] que também houve em Cristo Jesus.’” 

No princípio, no Jardim do Éden, Jones explicava, Adão e Eva tinham a mente de Cristo Jesus. Ao permitirem ser seduzidos, tornaram-se “escravos” de Satanás, e assim nós depois deles. Jesus veio, portanto, para ferir a batalha no próprio terreno de Adão, onde ele foi derrotado. 

E por Sua vitória “em Jesus Cristo, a mente de Deus é concedida uma vez mais aos filhos dos homens; e Satanás é vencido.”262 “Jesus Cristo veio na mesma carne que a nossa, mas com a mente que mantinha sua integridade contra cada tentação, contra cada indução ao pecado – uma mente que jamais consentia em pecar. Não, nunca, nem na mínima concebível sombra de um pensamento.” 

Para fundamentar seu argumento, Jones citou uma declaração extraída de um artigo no qual Ellen White destaca as duas naturezas de Jesus, a humana e a divina, com base em Filipenses 2:6 e 7 e Hebreus 1:2.   

Então Jones fez menção de um trecho do manuscrito de O Desejado de Todas as Nações, ainda não impresso na ocasião e com título provisório de A Vida de Cristo: “Para completar a grande obra da redenção, o Redentor precisa tomar o lugar do homem decaído... A fim de elevar o homem degenerado, Cristo devia alcançar o homem onde esse se achava. Ele assumiu a natureza humana, suportando as fraquezas e a degeneração da raça. 

Ele Se humilhou até as mais baixas profundidades da miséria humana, para poder simpatizar com o homem e resgatá-lo da degradação na qual o pecado o havia imergido... Cristo assumiu a humanidade com todos os seus riscos. Tomou-a com a possibilidade de ceder à tentação, e apoiou-Se sobre o poder divino para sustentá-Lo.” 

Jones concluiu: “Você vê que estamos sobre terreno firme em todo o caminho, assim que quando é dito que Ele [Cristo] tomou nossa carne, mas não era participante de nossas paixões, isso está totalmente exato, totalmente correto; porque Sua mente divina nunca consentiu com o pecado. E essa mente nos é concedida através do Espírito Santo, o qual nos é dado livremente.” 

Alguns acham que Jones tinha, com efeito, admitido que Cristo não tinha paixões como as nossas.  Não aceitou isso totalmente.  Ele fez o seu melhor para esclarecer a diferença entre tendências hereditárias para pecar, que são comuns a todos nós, e hábitos de culpa que cultivamos por ceder à tentação. 

De mais a mais, “a carne de Jesus Cristo era nossa carne, e nela havia tudo o que há em nossa carne – todas as tendências ao pecado que há em nossa carne estavam em Sua carne, atraindo-O para que cedesse ao pecado.”  Do mesmo modo, Jesus portou em Sua própria carne nossas paixões por hereditariedade, potencialmente, mas não em atos. 

Eis por que Jones era capaz de dizer sem se contradizer: “Que isso não signifique que Cristo participou de nossas paixões.” Ele possuía nossas paixões, mas nunca participou delas. Todo o problema da natureza humana de Cristo jaz na compreensão dessa diferença. 

A Vitória é Possível Através de Jesus Cristo

Realmente, a vitória de Jesus sobre o pecado na carne provia para Jones a prova de que cada discípulo de Cristo pode também vencer o pecado na carne. Em última análise, foi para esse real propósito que Deus enviou Jesus Cristo: para condenar o pecado na carne “para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rom. 8:4).

“Em Jesus Cristo, enquanto Ele estava na carne pecaminosa, Deus demonstrou perante o Universo que pode tomar posse da carne pecaminosa, para manifestar Sua própria presença, poder e glória, em vez de dar lugar à expressão do pecado. E tudo o que o Filho pede de qualquer homem para poder realizar essa experiência nele, é que permita que o Senhor o possua como ocorreu com o Senhor Jesus.” 

Em 1893, Jones tirou esta lição prática da vitória de Cristo sobre o pecado: da mesma maneira que Deus vestiu os trajes de justiça na carne de Cristo, assim “Ele deseja que nós os vistamos agora, como também quando a carne se tornar imortal no fim... 

Cristo precisa estar em nós, assim como Deus estava nEle; Seu caráter precisa estar em nós, assim como o de Deus estava nEle. E Seu caráter tem de nos revestir e transformar através desses sofrimentos, tentações e tribulações que enfrentamos. Deus é o tecelão, mas não sem nós. É a cooperação do divino e do humano – o mistério de Deus em você e em mim – o mesmo mistério que havia no evangelho e que há na terceira mensagem angélica.” 

A mesma conclusão prática é extraída do final de seu décimo sétimo estudo, em 1895: “De acordo com Sua promessa, somos participantes da natureza divina.”  E na medida em que somos dependentes de Deus todo o tempo, “o divino Espírito que estava nEle [Jesus], e que nos foi concedido, restringirá nosso eu natural, nosso eu pecaminoso... Esta é a nossa vitória”, e a maneira pela qual Deus destrói a inimizade em nosso favor. 

Os escritos e pregações de A. T. Jones esclareceram uma das maiores verdades da mensagem de 1888: que os cristãos podem viver vidas vitoriosas “através de Cristo Jesus, a lei do Espírito de vida” (Rom. 8:2). É verdade, conforme Jones, que alguns se equivocam sobre o significado dessa liberdade, guinando algumas vezes para um lamentável perfeccionismo, como se a vitória sobre o pecado pudesse ser absolutamente obtida, e o poder do pecado erradicado da carne.

Jones fez alusão a isso em 1899, num artigo relativo ao movimento da “carne santa”, condenado na sessão da Conferência Geral de 1901 (falaremos disso posteriormente). Seu artigo intitulado “Carne Pecaminosa” colocou em perspectiva algumas de suas declarações sobre a perfeição cristã.

“Há um sério e mui preocupante erro mantido por muitas pessoas. Esse erro consiste em pensar que quando se convertem, sua velha natureza pecaminosa é eliminada. Em outras palavras, cometem o erro de pensar que estão livres da carne, por ela ter sido retirada completamente delas. Então, quando  descobrem que a coisa não é assim; quando verificam que ainda estão com a mesma velha carne com suas inclinações, bloqueios e seduções, vêem que não estão preparados para isso e se desanimam; ficam pensando que nunca se converteram, afinal.” 

Jones continua explicando que “a conversão ... não reveste de nova carne o velho espírito, mas um novo espírito é posto na velha carne. Ela não se propõe a cobrir a velha mente com a nova carne, mas uma nova mente posta na velha carne. Livramento e vitória não são obtidos por que a natureza humana foi retirada, mas pelo recebimento da divina natureza para subjugar a humana e ter domínio sobre ela... 

A Escritura não diz: ‘Transformem-se pela renovação da carne de vocês’, mas diz:  “Transformem-se  pela renovação de sua mente” (Rom. 12:2). Seremos transladados pela renovação de nossa carne; mas devemos ser transformados pela renovação de nossas mentes.”275

Finalmente, em 1905, a Pacific Press publicou O Caminho Consagrado Para a Perfeição Cristã. Baseado na epístola aos Hebreus, o livro recorda os ensinos mais importantes de Jones sobre a natureza humana de Cristo e a perfeição de caráter que cada cristão pode conseguir, graças ao ministério de Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote no santuário celestial, “um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”; “[Ele] pode socorrer aos que são tentados” (Hebreus 4:15; 2:18).

Conclusão

Como George R. Knight escreveu: “A . T. Jones foi uma das mais influentes vozes no adventistmo.”  A despeito do fim que possa ter tido, sua mensagem nada perdeu de seu valor.  Sua Cristologia, em particular, harmoniza-se perfeitamente com a de Ellen White e Waggoner.

Mesmo que algumas de suas expressões possam aparecer em termos um tanto absolutos, quando consideradas na totalidade de seus ensinos, Jones nada disse a mais daquilo que Ellen White havia ensinado previamente sobre o tema.

Ao final das apresentações de Jones, em 1895, Ellen White escreveu à igreja de Battle Creek, em carta datada de 1 de maio de 1895: “O Senhor, em

Sua grande misericórdia, enviou uma preciosíssima mensagem a Seu povo através dos Prs. Waggoner e Jones... Conseqüentemente, Deus concedeu a Seus servos um testemunho que apresentou a verdade tal qual ela é em Jesus, que é a mensagem do terceiro anjo, em linhas claras e distintas.” 

A mensagem de Jones, considerada como um todo, foi naquele tempo a melhor explanação do que veio a ser conhecida como “a terceira mensagem angélica” , que lhe rendeu um privilegiado status entre os líderes da igreja durante a década de l890. Se não houvesse sido esse o caso, eles jamais teriam convidado Jones a falar com tanta freqüência. Essa mensagem não foi outra senão a da justificação pela fé, onde a natureza divino-humana de Jesus Cristo provê o meio de reconciliação com Deus. 

Não é sem razão que Ellen White chama tão vigorosamente a atenção para as mensagens de Jones e Waggoner. É importante termos em mente sua advertência: “É bem possível que os Pastores Jones ou Waggoner possam ser vencidos pelas tentações do inimigo; mas se eles o forem, isso não provaria que não tivessem uma mensagem vinda de Deus, ou que a obra que realizaram foi totalmente um erro. 

Mas, houvesse isso de acontecer, quantos tomariam essa posição e cairiam sob fatal engano porque não estão sob o controle do Espírito Santo.”   [Ênfase acrescida].

Os temores de Ellen White, ai! se confirmaram. Porque falharam os mensageiros, muitos hoje em dia consideram que sua mensagem não fora de Deus, e buscam substituí-la por uma nova mensagem, a qual Ellen White descreveu como engano fatal, porque não baseada nas revelações do Espírito de Deus. 

Para enfatizar, além disso, a certeza dessa predição, Ellen White a repete: “Eu sei que essa é a posição real que muitos tomariam se esses homens viessem a cair.”281  Por incrível que pareça, como veremos, foi isso exatamente o que aconteceu.




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