9 - Os verdadeiros israelitas

Evangelho aos romanos

Capitulo 9 - Os verdadeiros israelitas 

 

Rm 9:1-5. Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo): Que tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração. Porque eu mesmo poderia desejar ser anátema de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas; Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém.  

EM Cristo digo a verdade, não minto (Rm 9:1).  

Paulo volta-se para o seu caso pessoal de união com Cristo como prova da veracidade do que vai dizer: porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus. (2Co 2,17). O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é eternamente bendito, sabe que não minto. (2Co 11:31). 

Paulo entendeu bem que muitos de seus companheiros judeus o consideravam um traidor. Notem as palavras de Festo ao apresentar Paulo em um julgamento: Rei Agripa, e todos os senhores que estais presentes conosco; aqui vedes um homem de quem toda a multidão dos judeus me tem falado, tanto em Jerusalém como aqui, clamando que não convém que viva mais. (At 25:24). 

Seus frequentes conflitos com os judeus e com os judaizantes naturalmente suscitam dúvidas; sobre seu amor pela sua própria nação. Portanto, ele expressa a sinceridade da sua preocupação pelo seu povo com estas palavras significativas: em Cristo digo a verdade, não minto. E por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens. (At 24:16).  

Assim, a minha consciência da testemunho no Espírito Santo; que tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração. (Rm 9:1,2). O Espírito Santo é o Espírito da verdade (Jo 14:17; Jo 15:26; Jo 16:13), e uma consciência verdadeiramente iluminada por este Espírito e agindo sob sua influência deve ser um guia verdadeiro e seguro. Porque eu mesmo poderia desejar ser anátema de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne. (Rm 9:3).  

Mesmo Paulo, que era o apóstolo dos gentios, não se esquecia de seus parentes segundo a carne. Aonde ia, pregava primeiramente aos judeus. Ele disse aos anciões de Éfeso: jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. (Atos 20:20).  

A solicitude de Paulo por todas as classes sociais, inclusive aquelas que estavam distantes, mostra mais do que qualquer outra coisa, sua semelhança com Jesus Cristo. Agora, se não há diferença entre judeus e gentios; qual é, pois, a vantagem do judeu? Muita, sob todos os aspectos. (Rom. 3:1 e 2). 

Pois dos israelitas são a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas; Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. (Rm 9:4-5). Lemos no texto um magnífico rol de bênçãos pertencentes a Israel: a adoção, a glória, os concertos, a entrega da lei e o serviço de Deus, bem como as promessas. Ser tido como infiel em meio a tais privilégios deve ser algo realmente terrível.  

Rm 9:6-18: "Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência. 

Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho. E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a 

Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer." Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas (Rm 9:6).  

Os judeus afirmavam ser descendentes de Abraão; mas, deixando de fazer as obras de Abraão, demonstraram que não eram verdadeiros filhos seus. Unicamente os que estão espiritualmente em harmonia com ele são considerados autêntica descendência.  

O povo judeu poderia ter-se arrependido, se o quisesse, mas estavam cobertos com as vestimentas de sua justiça própria. Reivindicavam ser descendentes de Abraão, e consideravam como sua toda promessa feita a Israel. Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência. (Rm 9:7-8).  

Porque o Israel de Deus são aqueles que estão convertidos, não os que são da linhagem de Abraão. A descendência de Abraão demonstra-se não por nome e linhagem, mas pela semelhança de caráter. Assim também a sucessão apostólica não se baseia na transmissão de autoridade eclesiástica, mas nas relações espirituais. 

Uma vida influenciada pelo espírito dos apóstolos, a crença e ensino da verdade por eles ensinada, eis a verdadeira prova da sucessão apostólica. Isto é que constitui os homens sucessores dos primeiros mestres do evangelho. Pois, quando fez a promessa, Deus disse a Abraão em Gênesis 17:21 o seguinte: no tempo certo eu voltarei, e Sara, sua mulher, terá um filho. E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai. (Rm 9:9-10).  

A promessa de Deus foi feita primeiramente a um gentio. 

Abraão era adorador de ídolos. (Js 24:2). As bênçãos veio à Abraão pela promessa, não pela carne. Assim, os filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa. 

Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. (Rm 9:11-12). Notem que os filhos da promessa são aquelas que Deus chama. Já vimos que Deus chama a todos; tanto bons como maus. Deus não faz acepção de pessoas. Logo as promessas são para aqueles que aceitam pela fé.  

Assim, para fundamentar todo o discurso; que não há diferença entre judeus e gentios; Paulo sela a questão expondo o critério da eleição de Deus. Porque, não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal; Deus chamou a Jacó. 

A eleição foi segundo Aquele que nos salvou e nos chamou para sermos o seu povo. Não foi por causa de nossas obras, mas por causa da sua graça, porque este era o seu plano por meio de Cristo Jesus, antes da criação do mundo. (2 Tm 1:9). Deus conhece o fim desde o princípio.  Como está escrito em Malaquias 1:2,3: Eu amei a Jacó, mas aborreci a Esaú. (Rm 9:13).  

Este versículo não explica a razão pela qual Deus escolheu Jacó e rejeitou Esaú, mas antes descreve a história dos dois filhos e dos dois povos que deles descenderam: Israel e Edom. A partir do contexto de Malaquias 1:2,3, é evidente que os descendentes estão incluídos, assim como os ancestrais.  

Esta forte expressão não significa ódio como o entendemos hoje, mas simplesmente que Deus preferiu Jacó a Esaú como o progenitor da raça escolhida (Rm 9:10-11). Nos tempos bíblicos era comum usar o termo “ódio” neste sentido. Lia foi “odiada” por Jacó porque ele preferia Raquel (Gn 29:30-31); e Jesus diz que para segui-lo é necessário “odiar” pai e mãe (Lc 14,26) e “odiar” a própria vida (Jo 12,25).  

Quando Paulo se refere à história dos patriarcas, ele mostra que quando Deus escolheu o Israel espiritual (Mt 21:3343), visto que os judeus não cumpriram o propósito divino, ele agiu em plena harmonia com o proceder deles. Deus não é injusto com ninguém. 

Ao construir a Igreja Cristã para cumprir os seus propósitos para o mundo, Deus está a seguir o mesmo princípio que usou originalmente quando escolheu os israelitas e aborreceu os edomitas e os ismaelitas. Jacó, ao contrário, creu nas promessas de Deus e mediante elas tornou-se participante da natureza divina e, desse modo, herdeiro de Deus e coerdeiro de Jesus Cristo. Paulo continua provando que a atual rejeição também não implica que Deus seja injusto. Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. (Rm 9:14).  

Não há arbitrariedade na eleição divina. Tudo é misericórdia. Pois ele disse em Êxodo 33:19 “Terei misericórdia de quem eu quiser; terei pena de quem eu desejar. (Rm 9:15). Estas palavras foram dirigidas a Moisés quando ele pediu para ver a glória de Deus. 

O fato de Deus não nos revelar sua glória na medida em que a mostrou a Moisés não é evidência de que ele seja injusto. Deus é demasiado sábio para cometer erros e demasiado bom para negar o bem àqueles que andam em integridade. (Sl 84:11). Paulo está citando estas palavras de Êxodo 33:19 para enfatizar que cabe a Deus decidir quem deve receber certos favores; porque Ele conhece os corações e intenções dos homens.  

Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. (Rm 9:16). A concessão de certos privilégios não depende da vontade ou esforço do homem, não depende de obras para que ninguém se glorie; mas da sabedoria de Deus, que sabe o que é melhor e que executa silenciosa e pacientemente o conselho de sua vontade. Deus busca a salvação de todos os homens (1Tm 2:4).  

Ninguém precisa temer ser deixado fora do alcance da salvação. Mas Deus, em sua sabedoria, escolhe os instrumentos pelos quais ele realiza seus propósitos. Os homens são admoestados a cooperar com os planos do céu e não correr, ou lutar, a menos que o Senhor os tenha chamado (Jr 23,21). Porque a Escritura diz a Faraó em Êxodo 14:17,18: foi para isto mesmo que eu pus você como rei, para mostrar o meu poder e fazer com que o meu nome seja conhecido no mundo inteiro. (Rm 9:17).  

O propósito de Deus ao suscitar Faraó ou mantê-lo no trono era demonstrar Seu poder a ele e nele, e que o nome do Senhor fosse manifesto em toda a terra. Esse desígnio cumpriu-se na destruição de Faraó devido à sua obstinada resistência. 

Porém se cumpriria igualmente, e com melhor resultado para Faraó, se ele houvesse dado ouvidos à palavra de Deus. O rei do Egito viu o poder de Deus, porém recusou-se a crer. Se o fizesse teria sido salvo, porque o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Faraó tinha vontade obstinada. Sua característica principal era a resolução de propósito, a persistência, que se havia degenerado em obstinação.  

Porém, quem pode imaginar o poder para o bem que Faraó poderia ter desenvolvido, se houvesse se submetido de boa vontade ao Senhor? Isso teria sido um grande sacrifício, segundo o conceito que o homem tem de sacrifício, porém, não maior que o de Moisés. Esse recusou o trono egípcio e uniu sua sorte a do povo de Deus.  

A Faraó foi oferecida uma maravilhosa e honorável posição, contudo esse não reconheceu o dia de sua visitação. Isso implicava em humilhação e ele se recusou. Em consequência, perdeu tudo, enquanto Moisés, que escolheu antes ser afligido com o povo de Deus e ter parte no vitupério de Cristo, tem um nome e um lugar que durará por toda a eternidade. 

As misericórdias de Deus, quando rejeitadas, convertem-se em maldições. Os caminhos do Senhor são retos, e os justos andarão neles, mas os transgressores neles cairão. (Os 14:9).  

A escolha de Deus não foi discricionária. Jacó foi escolhido antes de nascer, porém, não foi mais privilegiado do que os outros. Jacó, precisou vencer, com a graça de Deus, todos os seus defeitos de caráter. 

Deus também nos abençoou com as bênçãos espirituais em Cristo, assim como nos escolheu nEle antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor nos predestinou para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua graça, que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado. (Ef 1:4-6).  

Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a Sua misericórdia. (Rm 9:16).  

Portanto, Ele tem misericórdia de quem Ele quer ter misericórdia, e endurece a quem quer. (Rm 9:18). Faraó não foi criado para ser um homem cruel e insensível, mas, diante das circunstâncias que deveriam tê-lo levado ao arrependimento, ele, por sua livre decisão, permaneceu incrédulo e duro de coração. 

(Ex 8:15). Deus não é arbitrário em sua misericórdia.  

Rm 9:19-33: "Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? 

E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? 

Como também diz em Oséias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; E amada à que não era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo; Aí serão chamados filhos do Deus vivo. Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. 

Porque ele completará a obra e abreviá-la-á em justiça; porque o Senhor fará breve a obra sobre a terra. E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, Teríamos nos tornado como Sodoma, e teríamos sido feitos como Gomorra. 

Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; tropeçaram na pedra de tropeço; Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido."  

Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à Sua vontade? (Rm 9:19).  

A pergunta do objetor poderia ser parafraseada da seguinte forma: Se o próprio Deus endurece o coração de um homem, como pode Ele culpá-lo? É justo que Deus culpe os pecadores se a sua conduta estiver de acordo com os propósitos divinos e for o resultado da vontade irresistível de Deus? Esta objeção pode historicamente trazer à mente a reprovação de Deus a Faraó: você ainda é arrogante contra o meu povo, para não deixá-lo ir? (Êx 9:17) e até quando você não se humilhará diante de mim? (Rm 10:3). No caso de Faraó, o desafiante poderia dizer: Se Deus escolheu endurecer o coração do rei, por que então o culpou? (Êx 9:15-16).  

Paulo não tenta dar uma resposta completa a esta objeção, mas enfatiza apenas o fato de que no governo que Deus exerce sobre o mundo ele reserva perfeita liberdade para lidar com os homens de acordo com suas próprias estipulações divinas e não de acordo com eles, sem interferir, é claro, nas oportunidades que dá aos homens para a sua salvação pessoal. 

Aquele que pergunta indignado: por que Deus faz isto ou aquilo? o que diz: não vejo justiça em parte alguma, como se ele fosse especial e pessoalmente agravado, faz com que seja impossível para si mesmo sequer compreender o que Deus permitiu que o mortal entendesse. É absurdo e maléfico culpar a Deus, porque nós não somos iguais a Ele em sabedoria.  

A única forma pela qual podemos chegar a um mínimo conhecimento do Altíssimo, é aceitar de uma vez por todas que Ele é justo e misericordioso, e que tudo quanto faz é visando ao bem de Suas criaturas. A reverência, e não o questionamento infame, tem valor diante de Deus. Aquietai-vos e sabei que Eu Sou Deus; Sou exaltado entre as nações, Sou exaltado na Terra. (Sl 46:10). 

Mas, ó homem, quem és tu, para que contestes a Deus? Dirá a coisa formada ao que a formou: Porque tu me fizeste assim? (Rm 9:20). Paulo lembra ao homem que a sua verdadeira relação com Deus é a de uma criatura diante do seu Criador. Portanto, qual homem tem o direito de reclamar ou questionar os caminhos de Deus?  

A comparação do poder de Deus com o domínio do oleiro sobre o barro era uma ideia familiar no AT. Paulo está citando Isaías 29:16; Is 45:9; Is 64:8; Jr 18:6). O uso que Paulo faz destas palavras de Isaías é muito apropriado, pois ambos os escritores estão considerando o mesmo tema: a maneira pela qual Deus formou Israel como nação e, portanto, seu direito indiscutível de lidar com a nação como bem entendesse. 

A presunção de abrigar uma reclamação contra Deus é vividamente ilustrada. Ele, como Criador, tem o direito de distribuir seus dons como quiser. Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? (Rm 9:21).  

O oleiro tem domínio para fazer do barro um vaso para honra e outro para desonra. Certo. Porém, quem conhece em todo o mundo um só oleiro que se dedique a fazer vasos simplesmente para destruí-los? Ele produz vasos de diversos tipos segundo o propósito para cada um deles, porém, sempre para um determinado uso e não para a destruição.  

Assim, Deus jamais criou a quem quer que seja com o objetivo de destruí-lo. E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição. (Rm 9:22). O fato de Deus não pretender a destruição de ninguém é demonstrado em Sua luta para que ninguém sofra a destruição que suas próprias obras más lhe trazem em justiça. Ele “suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição”.  

Esses se tornaram credores da destruição por sua própria rebeldia e impenitência, entesourando para si mesmos ira para o dia da vingança. (Rom. 2:5). Observe que Deus suportou com muita misericórdia esses vasos de ira. E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor. (2 Pe 3:15). 

Ele é longânime para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. (2 Pe 3:15). Por ter Deus suportado com grande paciência os vasos de ira, fica demonstrado que, mesmo depois de terem esses tomado o curso que os leva à destruição, Ele procurou salvá-los, concedendolhes todas as oportunidades para isso. Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou. (Rm 9:23).  

A maravilhosa paciência de Deus para com aqueles preparados para a destruição também tem como objetivo mostrar misericórdia para com aqueles que estão dispostos a empreender o programa de Deus. Embora os judeus merecessem a ira de Deus, ele os suportou com grande paciência, tanto para eles próprios como para o bem final de toda a igreja de Deus. 

Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória. (Cl 1:27). Estes vasos de misericórdia, são vasos que recebem e experimentam misericórdia. Que ele preparou com antecedência. Paulo afirma claramente que Deus é quem prepara os vasos da misericórdia para a glória, embora não descreva isso como preparar os vasos da ira para a destruição.  

Assim vemos que Deus prepara antecipadamente o seu povo para a glória. Assim, vemos que Deus nos salvou e nos chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes do começo do mundo. (2Tm 1:9). 

A paciência de Deus tem ainda o propósito em tornar conhecidas as riquezas de Sua glória nos vasos de misericórdia que Ele preparou para Sua glória. Quem são esses vasos? Nós. A quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (Rm 9:24). Quem são os que Ele chamou? Pessoas procedentes de alguma nação em especial? Não. 

Não foram somente os judeus, mas também os gentios. Ele outorga Seus favores com imparcialidade, tanto a judeus como a gentios, contanto que O aceitem. Isso é o que Ele diz em Oséias: 2:23: aqueles que não eram meu povo eu chamarei de ‘meu Povo’.  

A nação que eu não amava chamarei de ‘minha Amada’. 

(Rm 9:25). Disse o Senhor a Oséias: Põe-lhe o nome de NãoMeu-Povo, porque vós não sois Meu povo, nem Eu serei vosso Deus. Todavia, o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que se não pode medir, nem contar; e acontecerá que, no lugar onde se lhes dizia: Vós não sois Meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo. (Rm 9:26; Os 1:9,10).  

Deus visitou os gentios para despertar dentre eles um povo para o Seu nome. O apóstolo Paulo descreveu essa visita nestes termos: ora, Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela fé o coração. 

Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram. (At 15:8-11). Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que O invocam. (Rm 10:12). E em Isaías 10:20-22. disse a respeito de Israel: ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. (Rm 9:27). Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça. (Rom. 11:5).  

As palavras de Isaías refletem a promessa feita a Abraão: Eu te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar. (Gn 22:17). 

Em Abraão foram benditas todas as famílias da terra. Isto inclui os gentios. E, desta multidão de descendentes, só um remanescente será salvo. Porque ele completará a obra e abreviá-la-á em justiça; porque o Senhor fará breve a obra sobre a terra. (Rm 9:28). Jesus disse que por causa dos encolhidos, o tempo seria abreviado. (Mt 24:22). Como Isaías 1:9 tinha dito antes: se o Senhor não nos tivesse deixado descendentes, estaríamos destruídos como Sodoma, e Gomorra. (Rm 9:29). Se não fosse por esse remanescente, a rejeição de 

Israel teria sido tão completa e definitiva como a de Sodoma e Gomorra; mas um pequeno remanescente manteve a sua integridade através de todos os séculos.  

Apesar da infidelidade e apostasia prevalecentes, aquela linha ininterrupta de testemunhas permaneceu leal a Deus e às condições das suas promessas feitas a Abraão (Rm 11:4-5). Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, (Rm 9:30).  

Os gentios que nem sequer lutavam pela justiça a alcançaram. Isto não significa que não houvesse desejo ou anseio por justiça entre os gentios, mas antes que, em contraste com os judeus legalistas, eles não a procuravam visivelmente. 

Contudo, quando a salvação lhes foi oferecida através do Evangelho, eles acolheram-na. Os gentios, cumpriam os requisitos da lei, embora não tivessem um código revelado tal como os membros do povo judeu tinham o privilégio de possuir (Rm 2:14).  

Os gentios alcançaram a justiça que é pela fé. E Israel, que buscava um padrão de justiça, não chegou a atingir esse padrão. (Rm 9:31). Os judeus professavam guardar a lei, porém, a realidade era outra. Os gentios não estavam familiarizados com a lei, contudo, cumpriam seus reclamos. 

Se você agora rememorar Romanos 2:25 a 29, verá que a verdadeira circuncisão consiste (e sempre foi assim) em guardar a lei. Por isso, uma vez que os gentios guardaram a lei pela fé, e os judeus, por sua falta de fé, deixaram de observá-la, conclui-se que uns e outros inverteram suas respectivas posições. Os gentios se tornaram verdadeiros judeus e os judeus por natureza, transformaram-se em pagãos.  

Os judeus se esforçaram por observar a lei da justiça, porém não da maneira certa. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; tropeçaram na pedra de tropeço. (Rm 9:32). 

Com poder essas palavras estabelecem aquela que é a ideia principal em toda a epístola, isto é, que a fé não exime a ninguém da transgressão, e que somente por ela é possível obedecer à lei. Os judeus não são culpados por desejarem atender à lei da justiça, mas por não quererem obedecê-la da forma devida. Não é pelas obras, mas pela fé, que é possível praticar o quanto a lei exige. Isso equivale a dizer que não é possível fazer boas obras a partir das más obras.  

O bem não pode originar-se do mal. Tampouco existe qualquer redução no que respeita às boas obras. Elas são aquilo que o mundo necessita, acima de tudo. São o resultado da observância da lei pela fé. Porém, é totalmente impossível que as boas obras surjam sem fé, já que tudo o que não provém de fé é pecado. (Rm 14:23). 

Como está escrito em Isaías 28:16: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido. (Rm 9:33). Lembre-se que, no início do capítulo, é apresentado o Israel segundo a carne, como separado de Cristo. A eles pertencia, entre outras coisas, a entrega da lei, no entanto, fracassaram miseravelmente em relação a ela. Por quê? Porque tropeçaram na pedra de tropeço. Que pedra é essa? Cristo.  

Estavam na mesma condição em que muitos se encontram hoje. Israel aceitou a lei, e se esforçou ao máximo para cumprir. Mas se esqueceram de que, Moisés, ao dar a lei disse-lhes: eis aqui o sangue da aliança que o SENHOR tem feito convosco sobre todas as palavras desta lei. (Êx 24:8). 

Unicamente o sangue do Cordeiro os capacitaria cumprir a lei. Daniel profetizou que, no final das setenta semanas, na última semana, nos últimos sete anos dos quatrocentos e noventa anos; Jesus, o Cordeiro de Deus, formaria uma aliança com muitos. (Dn 9:27).  

E quando Jesus está por terminar o seu ministério, Ele tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós. (Lc 22:20). Em outras palavras, Jesus estava dizendo: Eu sou o caminho. E os judeus entendiam muito bem que esta expressão "o caminho," se referia ao caminho do santuário. 

Ao profeta Isaías foi revelado este ponto crucial da história da salvação em Isaías 8:14,15: Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém. E muitos entre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e enlaçados, e presos. Um salvador que morreria da forma mais humilhante possível; isto era um escândalo para os judeus. (1Co 1:23).  

Tropeçaram na pedra de esquina. Sem esta pedra não tem sentido um santuário no céu. Cristo crucificado é a pedra fundamental do santuário celestial. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. (1Co 3:11). E aqueles que aceitam e seguem o Cordeiro que foi morto e respeitou, desfrutarão de sua intercessão no santuário celestial. Este é o único caminho para vencer o pecado.

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