11 - Enxertados contra a natureza

Evangelho aos romanos

Capitulo 11 - Enxertados contra a natureza  

Rm 11:1-6: "DIGO, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal. Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra."  

Ao ler o capítulo anterior, é comum pensar: rejeitou Deus o seu povo? A resposta do apóstolo é enfática: de modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. (Rm 11:1).  

Paulo mostra que nem todos os judeus foram rejeitados. Ele próprio é israelita e foi aceito por Deus. Ele sabe por experiência própria que as bênçãos prometidas lhe pertencem e que, portanto, embora seja judeu, não foi rejeitado. Pois o Senhor não rejeitará o seu povo, nem desamparará a sua herança. (Sl 94:14). Se Deus houvesse abandonado os judeus, Paulo estaria sem esperança, visto ser ele “hebreu de hebreus”.  

A razão comprobatória dessa afirmação é que “eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim”. Então, quem foram os rejeitados? O final das setenta semanas de Daniel 9:24-27, marca o fim do tempo de graça para Israel como nação, não como indivíduo. 

Mas, Embora Deus não tenha abandonado Israel como indivíduo, esse se encontrava em situação deplorável. O fato de Deus não os ter abandonado não significava que seriam salvos. Paulo mostrou o perigo da reprovação, inclusive para ele mesmo. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado. (1 Co 9:27).  

O ser rejeitado ou aprovado, dependia inteiramente dele. O risco não estava, de maneira alguma, em que Deus decidisse rejeitá-lo contra sua própria vontade. Disse Jesus: aquele que vem a Mim, de maneira alguma o lançarei fora. (Jo 6:37). 

Deus não repudia ninguém, contudo, se alguém O rejeita completamente, embora Ele a ninguém force, não há alternativa exceto deixar o indivíduo ao sabor de sua própria escolha. Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a mão, e não houve quem atendesse; antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; comerão do fruto do seu procedimento e dos seus próprios conselhos se fartarão.  

Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição. (Pv 1:24-32). Deus aceita a todos. A partir da ilustração de Elias, podemos aprender mais sobre a aceitação e a rejeição. Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias em 1Rs 19:14,18, como fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? (Rm 11:23). Aparentemente todo o Israel se havia apostatado, porém, havia sete mil homens que não haviam dobrado seus joelhos a Baal. (Rm 11:4).  

Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. (Rm 11:5). A graça de Deus é manifestada a todos os homens; inclusive aos judeus. Mais ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. (Rm9:27). 

E agora, por um pequeno momento, se manifestou a graça da parte do Senhor, nosso Deus, para nos deixar um remanescente, e para dar-nos uma estaca no seu santo lugar; para nos iluminar os olhos, ó Deus nosso, e para nos dar um pouco de vida na nossa servidão. (Ed 9:8). Porém ainda a décima parte ficará nela, e tornará a ser pastada; e como o carvalho, e como o pinheiro, que depois de se desfolharem, ainda ficam firmes, assim a santa semente será a firmeza dela. (Is 6:13).  

Todos os israelitas que atenderam ao chamado da graça foram preservados. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra. (Rm 11:6). 

Se a salvação é pela graça, então já não depende do que o homem faz, caso contrário a graça deixaria de ser graça. Porque, se a herança provém das obras da lei, já não provém da promessa; mas Deus pela promessa a deu gratuitamente a Abraão. (Gl 3:18). Se o remanescente tivesse merecido ser escolhido, não haveria necessidade da graça de Deus. Porque, não tendo Israel ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama). (Rm 9:11).  

A ideia da graça gratuita e imerecida é absolutamente contrária à do salário que se ganha ou da recompensa que se merece. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. (Rm 4:4). Se o dom da graça de Deus pudesse ser conquistado ou merecido, então a graça perderia o seu significado e o seu carácter específico. Quando, pois, o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti.  

Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas, para confirmar a palavra que o SENHOR jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá está boa terra para possuí-la. De maneira nenhuma vocês são mais excelentes do que eles, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado. (Dt 9:4-6; Rm 3:9:). Contudo, praticamente ninguém, exceto o remanescente de Israel, entendeu desta forma.  

Rm 11:7-10: "Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, E em tropeço, por sua retribuição; Escureçam-se-lhes os olhos para não verem, E encurvem-se-lhes continuamente as costas."  

Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. (Rm 11:7). Deus não rejeitou o seu povo Israel, então qual é a sua posição exata? Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. (Rm 9:31).  

Mas agora, neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. (Rm 11:5). É verdade que Israel como nação não alcançou o propósito de Deus, mas o fracasso não é total; os, eleitos, ou seja, os remanescentes de Israel, triunfaram. Paulo enfatiza que aqueles que são salvos devem sua salvação inteiramente à graça de Deus e à eleição divina. 

Mas aqueles que procuraram estabelecer sua justiça por meio de suas próprias obras, sem se submeterem à justiça de Deus, foram endurecidos.  (Rm 10:3). Como está escrito em Isaías 6:10: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. (Rm 11:8).  

A letargia espiritual de Israel não era novidade na história da nação. Isaías diz: Porque o SENHOR derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes. (Is 29:10). Desde a queda de Adão, a condição natural do homem tem sido de insensibilidade espiritual. Porque o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. (1Co 2:14).  

Mas Deus procura, através da sua graça, mudar essa condição e reavivar as faculdades de percepção espiritual, e ao mesmo tempo apresenta ao homem as verdades relativas à sua salvação. Mas se o homem se opõe persistentemente a esta graça, Deus, que não força a vontade de ninguém, retira a sua graça e abandona o homem às consequências naturais da sua resistência obstinada. 

Quando a graça divina é rejeitada o resultado é uma falta de capacidade espiritual para discernir as coisas espirituais. E Davi diz em salmos 69:22,23: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e a sua prosperidade em armadilha, e em tropeço, por sua retribuição; Escureçam-se-lhes os olhos para não verem, E encurvem-se-lhes continuamente as costas. (Rm 11:9,10). 

No contexto original, o salmista invocava a ira de Deus contra os seus inimigos, que ele também considerava inimigos de Deus. Trata-se de referências proféticas a respeito do Messias, o Sofredor sem pecado; e estas palavras citadas por Paulo são corretamente aplicadas àqueles que rejeitaram a Cristo.  

A “mesa” aqui representa a comida que nela é oferecida. 

Esta “mesa” é posta diante do Senhor, como no caso das refeições cerimoniais. As bênçãos que os judeus desfrutavam tornaram-se uma maldição para eles. A mesma coisa aconteceu com as Escrituras que lhes foram divinamente dadas e com as leis e instituições religiosas nas quais eles confiavam para a vida e a salvação. 

Elas se tornaram uma armadilha e uma rede. Os dons que Deus lhes deu foram distorcidos e mal utilizados, e foram a razão do seu fracasso e da sua persistência na incredulidade. Mesmo os melhores presentes do céu, quando mal utilizados, tornam-se prejudiciais para quem os recebe.  

Os olhos espirituais dos judeus foi escurecido. Embora eles possuíssem revelações claras da vontade de Deus, eles não entendiam o verdadeiro significado e propósito dessas revelações, enquanto os gentios menos favorecidos, mas mais dóceis, eram capazes de entender. 

Os judeus dedicaram tanto tempo às formas externas e aos mínimos detalhes do ritual e da cerimônia que foram privados de todo discernimento espiritual e da capacidade de apreciar a essência da moralidade e das verdades espirituais. (Mt 23:23-25). Nos seus esforços contínuos para estabelecer a sua própria justiça, eles aumentaram continuamente a carga dos deveres legais. (Mt23:4).  

Rm 11:11-15: "Digo, pois: Porventura tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum, mas pela sua queda veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. E se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude! Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, exalto o meu ministério; Para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?"  

Agora eu pergunto: quando os judeus tropeçaram, será que eles caíram para nunca mais se levantarem? É claro que não! Mas, porque eles pecaram, a salvação veio para os não-judeus, para fazer com que os judeus ficassem com ciúmes. (Rm 11:11). Em que os judeus tropeçaram? Na pedra de tropeço. (Rm 9:3233). 

Muitos ficaram escandalizados em Cristo; mas por causa do tropeço deles, o Evangelho foi levado aos gentios, e isso, por sua vez, resultaria em um incentivo para os judeus. À medida que os judeus rejeitaram o Evangelho e aumentaram a violência da sua oposição, causaram grandemente a pregação do Evangelho aos gentios e, como resultado, eles o aceitaram (At 11:19-21). 

Os seus privilégios tornaram-nos negligentes e apáticos. Mas quando viam outros assumindo os privilégios de Israel, despertavam da sua apatia, e com ciúmes, sentiam o desejo de partilhar as bênçãos agora desfrutadas pelos gentios. E se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude! (Rm 11:12).  

Os judeus foram chamados para serem missionários de Deus no mundo; mas eles falharam em sua tarefa. O mundo foi deixado na ignorância espiritual. A rejeição da nação de Israel como embaixadores escolhidos para o mundo, e o apelo da igreja cristã ao evangelismo mundial, resultaram num poderoso movimento missionário. (Mt 28:18-20). 

A incredulidade dos judeus não foi apenas um passo em falso e uma transgressão, mas também a sua derrota, e por causa disso eles foram rejeitados como nação escolhida e não encontraram o que procuravam. Agora, Se a perda e a derrota dos judeus foram canalizadas por Deus para produzir a riqueza dos gentios, quanto mais a restauração dessa perda significaria riqueza para todos. Então, quando se completar o número de judeus que voltarão para Deus, as bênçãos serão muito maiores ainda.  

Assim, enquanto for apóstolo dos gentios, exalto o meu ministério; para ver se de alguma maneira posso incitar o ciúmes aos da minha carne e salvar alguns deles. (Rm 11:13,14). Paulo magnificou seu ministério aos gentios, fazendo todo o possível para levar-lhes o Evangelho. Ele expressa a esperança de que o sucesso do seu ministério entre os gentios resultaria numa influência favorável sobre os judeus. Ele honrou seu ministério para despertar ciúme entre seus companheiros judeus e assim salvar alguns deles. O objetivo de Paulo era despertar em seus compatriotas o desejo de compartilhar as bênçãos que inicialmente lhes foram oferecidas e que foram tão abundantemente desfrutadas pelos gentios.  

Porque, se a rejeição dos judeus é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos? (Rm 11:15). A nação de Israel, como instrumento escolhido para a evangelização mundial, foi certamente excluída; mas um remanescente fiel aceitou o Messias, e os esforços missionários da igreja nascente fizeram com que o seu número aumentasse continuamente. Embora Deus tenha tido que rejeitar a maior parte do seu povo antigo por causa da sua infidelidade, ele canalizou aqueles que não o tinham “procurado” para se reconciliarem com ele (Rm 10,20).  

O ministério de Paulo é uma obra de reconciliação. E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. (2Co 5:18-19). Após a rejeição da nação de Israel, o Evangelho de Cristo se espalhou pelas nações do mundo, e os crentes em todos os lugares foram reconciliados com Deus. Muitos judeus que anteriormente estavam espiritualmente mortos aceitariam Jesus e se juntariam na pregação do Evangelho.  

Sua admissão não deve ser entendida como significando que a nação de Israel receberá mais uma vez os privilégios e bênçãos que desfrutou anteriormente, e que a nação literal dos Judeus será mais uma vez o povo escolhido de Deus. A sua rejeição como nação foi definitiva. Jesus apresentou isto muito claramente na sua parábola dos arrendatários ímpios (Mt 21:3343). O reino de Deus foi tirado deles e dado a um povo que iria produzir os seus frutos; Contudo, como indivíduos, eles podem ser salvos unindo-se à igreja cristã.  

Rm 11:16-23: "E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são. E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. 

Então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar."  

Pois, se o primeiro pão assado depois da colheita é dedicado a Deus, isso quer dizer que todos os outros pães também são dedicados a ele. E, se as raízes de uma árvore são oferecidas a Deus, os galhos também são dele. (Rm 11:16). Quando os filhos de Israel entrassem na terra de Canaã, foi-lhes ordenado que da primeira colheita, quando fossem fazer o primeiro pão, uma porção desta primeira massa deveria ser dedicada a Deus. (Nm 15:18-21).  

A oferta das primícias santificou toda a “massa”. As primícias representaram a primeira colheita evangélica entre os judeus. Ou seja, se a primeira massa foi santificada, toda a massa seria santa; referindo-se àqueles que mais tarde se tornaram membros da igreja cristã. Paulo usa uma segunda metáfora para expressar a mesma ideia. 

Se a raiz é sagrada, toda a árvore também o será. Israel é descrito como se fosse uma árvore. Então, se a raiz desta árvore é santa, porque foi Deus que plantou, (Sl 80:8) toda a árvore é santa. E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, saibas que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. (Rm 11:17,18).  

Os profetas: Jeremias, Oséias e Isaías descrevem Israel com uma oliveira (Jr11:16; Os 14:6; Is 5:7). Jesus, quando tomou a natureza humana, quando tomou a descendência de Davi; comparou-se a uma videira e seus discípulos a ramos (Jo 15:16). Aí é dito que a vara que não dá frutos é cortada. 

A referência é aos judeus incrédulos que, ao rejeitarem Jesus, não só selaram o seu próprio destino, mas também o da nação. O reino de Deus foi tirado deles e dado a um povo que produzisse os seus frutos. (Mt 21:43). E em seu lugar seria enxertado ramos de oliveira selvagem. Este símbolo representa adequadamente a condição dos gentios, que não foram favorecidos com os privilégios religiosos dos judeus. Paulo não está falando de uma possibilidade futura, mas de algo que já aconteceu no caso de muitos gentios.  

Normalmente nunca é feito um enxerto do galho de uma árvore silvestre para o tronco de uma árvore cultivada. O natural é enxertar um rebento tenro e escolhido num tronco silvestre. Paulo declara expressamente que o enxerto dos gentios na linhagem de Israel foi contra a natureza. (Rm 11:24). De acordo com as leis naturais, os ramos enxertados deveriam produzir frutos silvestres, próprios à sua natureza, e o enxerto, então, não seria proveitoso. (Gl 5:19-21). Porém, a graça operou um milagre e os ramos enxertados participaram da mesma natureza da raiz. Seu fruto já não é natural, mas sim, o fruto do Espírito. (Gl 5:22,23). Os cristãos gentios tornaram-se participantes do plano eterno de Deus para a salvação.  

Assim, é completamente inadequado que os cristãos gentios, que devem tudo às bênçãos da salvação das quais Israel foi chamado para ser o porta-voz, se vangloriem diante dos judeus que foram cortados. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. 

Então não te ensoberbeças, mas teme. (Rm 11:19-20). Então, este é o cenário: a maioria dos galhos da oliveira santa foram quebrados. Ou seja, a rejeição dos judeus infiéis resultou no enriquecimento dos gentios (Rm 11,11-15); mas seria egoísmo e arrogância supor, como nesta resposta imaginária, que Deus rejeitou alguns de seu povo com o único e direto propósito de fornecer as bênçãos da salvação aos gentios, como se fossem de mais valor do que os judeus. Isso seria puro egoísmo, pensar que havia algo bom em nós para tal atitude de Deus. Paulo lembra aos cristãos gentios como eles se tornaram membros do Israel espiritual.  

Os judeus foram rejeitados por causa da sua incredulidade, e os gentios foram aceitos por causa da sua fé. Quando a verdadeira causa da rejeição de Israel é reconhecida, não resta motivo para o cristão gentio se vangloriar. Deveria antes ser um aviso para manter a sua fé como a única condição que lhe permite permanecer seguro como um galho da oliveira santa. 

Portanto, diz: não seja arrogante por causa dos seus novos privilégios e da sua nova condição, mas tenha cuidado, para não cair como os outros caíram. Não seja arrogante. Os cristãos gentios não tinham mais méritos próprios do que os judeus rejeitados. É por isso que eles não deveriam ser vaidosos. Além disso, a fé não pode existir no homem cuja alma se orgulha. (Hc 2:4). O excesso de confiança e uma falsa sensação de segurança levariam aos mesmos resultados desastrosos que os judeus sofreram. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também. (Rm 11:21).  

Apesar dos seus maiores privilégios, Deus não perdoou os ramos naturais quando pecaram; e muito maior é a razão para o enxerto selvagem temer que Deus não o perdoe se ele cometer o mesmo pecado. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado. (Rm 11:22). O trato de Deus com os gentios é cheio de bondade e tolerância para com os homens. ( Rm 2:4). A sua bondade sempre se manifestará naqueles que nele confiam e não nos seus próprios méritos na posição de privilégio que gozam.  

Mas o tratamento dispensado por Deus aos judeus infiéis revela, por outro lado, a severidade que Ele deve exercer com aqueles que confiam em si mesmos. A única maneira de continuarmos na proteção da bondade ou graça de Deus é permanecer fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro. (Cl 1:23).  

Permanecer firme na fé, sem que a incredulidade o separe da misericórdia concedida. Este versículo ensina claramente a possibilidade de cair em desgraça. O homem pode desprezar e rejeitar a bondade de Deus e ser rejeitado. E também os judeus, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar. (Rm 11:23). Deus não só tem a vontade, mas também o poder para restaurar aqueles que ele rejeitou.  

Rm 11:24-26: "Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades."  

Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! (Rm 11:24). Lembremo-nos de que Deus não rejeitou a Seu povo. Esse caiu por causa da incredulidade, porém, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os enxertar novamente. Isto é, o judeu tem uma oportunidade tão favorável quanto o gentio, porque não há diferença entre judeu e grego. (Rm 10:12).  

Cristo veio para reconciliar ambos em um só corpo com Deus, e por Ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. (Ef 2:16,18). O enxerto dos gentios para ocupar o lugar do rebelde Israel, não implica em mudança alguma no plano de Deus. Essa inserção estava perfeitamente incluída na promessa original feita a Abraão. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão.  

Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. (Gl 3:7,8). A única vantagem de Israel era que eles tinham o privilégio de portar o glorioso evangelho aos gentios, para quem havia sido provido, e também para si mesmos. Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. (Rm 11:25). Desde o início fora estabelecido que os gentios, assim como os descendentes de Jacó, se tornassem Israel.  

O concílio de Jerusalém demonstra muito bem esse conceito. Pedro expôs como lhe havia sido divinamente designada a pregação do evangelho, de modo que nenhuma diferença fosse feito entre judeus e gentios. Disse, então Tiago: expôs Simão como Deus, primeiramente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o seu nome. 

Conferem com isto as palavras dos profetas em (Am 9:11-15), como está escrito: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos. (At 15:14-18).  

Podemos então concluir que a habitação de Davi, ou a casa do rei Davi, seria restaurada mediante a pregação do evangelho aos gentios, segundo os desígnios do Senhor desde o princípio do mundo. Assim, a plenitude dos gentios virá quando este evangelho do reino for pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim. (Mt 24:14). E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. (Rm 11:26).  

Deus está visitando os gentios para tomar deles um povo para o Seu nome. Mediante eles Israel alcançará sua plenitude. Tão logo a obra de pregar o evangelho aos gentios seja concluída, virá o fim. Então nada mais será pregado a ninguém: nem aos gentios, visto que já terão feito sua decisão final, e tampouco aos judeus, porque todo o Israel será salvo. Não haverá mais necessidade do evangelho. Ele terá cumprido sua obra.  

Rm 11:27-32: "E esta será a minha aliança com eles, Quando eu tirar os seus pecados. Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento.  

Porque assim como vós também antigamente fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia pela desobediência deles.  

Assim também estes agora foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada. Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia. E esta será a minha aliança com eles, porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo, quando eu tirar os seus pecados. (Rm 11:27; Jr 31:33).  

Porque de Sião virá o Libertador que tirará a impiedade de Israel. (Sl 14:7). Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. (Jo 1:29). Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro. (1 Jo 2:2).  

O apóstolo Pedro, falando no templo de Jerusalém, disse: Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra. Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vós outros para vos abençoar, no sentido de que cada um se aparte das suas perversidades. (At 3:25,26). A bênção de Abraão consiste no perdão dos pecados mediante Cristo, e os habitantes de todas as nações tornam-se verdadeiros israelitas mediante a remoção da iniquidade. Assim, que, quanto ao evangelho, os judeus são inimigos por causa de vós, os gentios; mas, quanto à eleição, os judeus são amados por causa dos patriarcas. (Rm 11:28).  

Foi pela fé que Jacó tornou-se Israel. Foi pela incredulidade que seus descendentes foram cortados do tronco de Israel. É pela fé que os gentios são enxertados e somente por meio dela podem manter-se. É pela fé que os judeus podem ser reimplantados no tronco original. A fé em Cristo é o único meio de converter alguém num israelita, e apenas a incredulidade exclui alguém de Israel.  

Assim revelou Cristo quando Se admirou da fé do centurião: ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta. Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. (Mt 8:1012). Porque Deus não muda de ideia a respeito de quem ele escolhe e abençoa. (Rm 11:29).  

Deus não se arrependeu de ter chamado e dado dons aos descendentes de Abraão. (Sl 89:34-36). Os homens podem falhar e Deus pode ter que mudar o seu método, mas ele nunca abandona o seu propósito. Paulo expressa esta verdade como uma razão para acreditar que Deus ainda oferece perdão e salvação às pessoas que ele chamou e escolheu e sobre as quais ele derramou tantas bênçãos. 

Porque assim como vós, que não são judeus, também antigamente fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia pela desobediência dos judeus, Assim também estes agora foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada. (Rm 11:30-31). Isto é, antes da pregação do Evangelho entre os gentios, Deus escolheu os judeus para serem seus embaixadores no mundo, mas eles falharam miseravelmente na sua missão de evangelizar o mundo. 

No tempo de Paulo o convite é generosamente estendido a todos os gentios. A desobediência dos judeus resultou no Evangelho sendo levado aos gentios (Atos 13:46).  A anterior desobediência dos gentios foi para suprimir quaisquer sentimentos pouco caridosos que eles pudessem estar inclinados a nutrir em relação à desobediência dos então judeus (Rm 11:18-20).  

Os judeus, Por causa da sua desobediência, colocaramse no nível dos gentios. Eles perderam os privilégios do relacionamento como povo da aliança, mas podem ser recebidos de volta no âmbito desse relacionamento da mesma forma que os gentios foram recebidos. Deus, portanto, usa a desobediência dos judeus como uma ocasião para estender sua misericórdia aos gentios (Atos 13:46).  

Então, por sua vez, Ele usa a revelação de Sua misericórdia para com os gentios para novamente conceder misericórdia aos judeus. Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia. (Rm 11:32).  

Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. (Gl 3:22). E o verso 23 explica que todos estávamos guardados sob a lei, reservados para a fé que iria ser revelada. Segundo Romanos 3:9, tanto judeus como gentios estão debaixo do pecado. Todos, igualmente, são prisioneiros, sem nenhuma esperança de escape a não ser em Cristo, o Libertador, Aquele que proclama “libertação aos cativos e; liberdade aos algemados. (Is 61:1). Vem desde Sião como Libertador, trazendo liberdade da Jerusalém lá de cima. (Gl 4:26).  

Portanto, todos os que aceitam a liberdade de Cristo, são filhos da Jerusalém de cima, herdeiros da Canaã celestial, cidadãos do verdadeiro Israel. Rm 11:33-36: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém. 

Como são grandes as riquezas de Deus! Como são profundos o seu conhecimento e a sua sabedoria! Quem pode explicar as suas decisões? Quem pode entender os seus planos? (Rm 11:33). Com o Seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre Si. (Is 53:11). E assim reedificará os muros de Jerusalém e libertará seus filhos cativos mediante o perdão dos pecados. (Sl 51:18).  

Ninguém pretenda, portanto, questionar o plano de Deus ou rejeitá-lo por não o haver compreendido; porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? (Rm 11:34,35). Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu. (Jó 41:11).  

Nenhuma das dádivas do céu pode ser considerada retribuição por um favor ou dádiva que foi previamente dado a Deus. Todas as suas bênçãos emanam de sua própria graça generosa. Paulo aborda mais uma vez o erro fundamental dos judeus, e todos aqueles que se auto justificam: a falsa ideia de que os homens podem ganhar o favor de Deus através das suas obras meritórias. Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém. 


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