Sabemos que em qualquer ocasião dentro de um período de várias centenas de anos os filhos de Israel poderiam ter desfrutado a plenitude da promessa a Abraão — descanso eterno na Terra tornada nova, com Cristo e todos os santos glorificados sobre o último inimigo, — porque quando Moisés nasceu, o tempo da promessa tinha se aproximado, e Josué não morreu até“muitos dias depois, que o Senhor dera repouso a Israel” (Josué 23:10).
O tempo em que Deusmediante Davi lhes ofereceu “outro dia”,1 — hoje, — é referido como “após muitos dias”. Deus estava ansiosamente esperando que o povo assumisse tudo quanto lhe tinha dado. Quão verdadeiro é isso se pode ver pelas Suas palavras a eles pelo profeta Jeremias.
Se Tivessem Obedecido a Deus
Conquanto o pecado de Judá fosse “escrito com uma pena de ferro e com a ponta de um diamante”,2 tão firmemente estava o povo apegado a sua idolatria, o gracioso Senhor fez a seguinte promessa:—
“Assim me disse o Senhor: Vai, e põe-te à porta dos filhos do povo, pela qual entram os reis de Judá, e pela qual saem; como também em todas as portas de Jerusalém. E dize-lhes: Ouvi a palavra do Senhor, vós, reis de Judá e todo o Judá, e todos os moradores de Jerusalém, que entrais por estas portas; assim diz o Senhor: Guardai-vos a vós mesmos, e não tragais cargas no dia de sábado, nem as introduzais pelas portas de Jerusalém; nem tireis cargas de vossas casas no dia de sábado, nem façais obra alguma; antes santificai o dia de sábado, como Eu ordenei a vossos pais.
Mas não escutaram, nem inclinaram os seus ouvidos; antes endureceram a sua cerviz, para não ouvirem, e para não receberem instrução.
Mas se vós diligentemente Me ouvirdes, diz o Senhor, não introduzindo cargas pelas portas desta cidade no dia de sábado, e santificardes o dia de sábado, não fazendo nele trabalho algum, então entrarão pelas portas desta cidade reis e príncipes, que se assentem sobre o trono de Davi, andando em carros e em cavalos, e eles e seus príncipes, os homens de Judá, e os moradores de Jerusalém; e esta cidade será habitada para sempre.
E virão das cidades de Judá, e dos arredores de Jerusalém, e da terra de Benjamim, e das planícies, e das montanhas, e do sul, trazendo holocaustos, e sacrifícios, e ofertas de alimentos, e incenso, trazendo também sacrifícios de ação de louvores à casa do Senhor” (Jer. 17:1926).
Não nos cabe especular sobre como essa promessa se teria cumprido; é suficiente que saibamos que Deus o disse, e que Ele é capaz de cumprir toda promessa. Edificar a velha cidade e torná-la nova certamente teria sido tão fácil quanto transformar “o nosso corpo abatido, para ser conforme ao corpo gloriosos” (Fil. 3:21), ou criar uma cidade inteiramente nova para tomar o lugar da velha.
Promessas De Restauração Foram Rejeitadas
Tenham em mente que esta promessa por Jeremias foi nos dias finais do reino de Judá, pois Jeremias não começou a profetizar até “os dias de Josias, filho de Amom”(Jer. 1:2), no décimo terceiro ano de seu reinado, somente vinte e um anos antes do começo do cativeiro babilônico.
Antes de Jeremias começar a profetizar, quase todos os profetas haviam terminado os seus labores e falecido. As profecias de Isaías, Oséias, Amós, Miquéias e outros, — todos os principais profetas — estavam nas mãos do povo antes do nascimento de Jeremias. Este é um fato que não deve ser passado por alto, pois é de grande importância.
Nessas profecias há muitas promessas de restauração de Jerusalém, todas as quais poderiam ter-se cumprido se o povo as tivesse acatado. Mas como todas as promessas de Deus, elas eram em Cristo; pertenciam, como as anteriores, à eternidade, e não simplesmente ao tempo. Entretanto, sendo que o povo daqueles dias não as aceitou, permanecem igualmente válidas para nós. Poderiam ser cumpridas somente pela vinda do Senhor, a Quem agora esperamos. Essas profecias contêm o Evangelho para este tempo, tão certamente quanto os livros de Mateus e João e as epístolas.
Sempre O Teste
Notem adicionalmente que a observância do sábado é tornada um teste, a todos aqueles aos quais a verdade foi revelada. Se observassem o sábado, então eles e a sua cidade perdurariam para sempre. Por que isso se dava? — Recordem o que estudamos a respeito do descanso de Deus, e terão a resposta. O sábado é o selo da criação, completa e perfeita.
Como tal, revela a Deus como Criador e Santificador, Eze. 20:12, 20, como Santificador por Seu poder criativo. O sábado, portanto, não é uma obra, pela qual podemos inutilmente tentar obter o favor de Deus, mas é descanso, — descanso nos braços eternos.
É o sinal e memorial do eterno poder de Deus; e a sua observância é o selo dessa perfeição que Deus somente pode operar, e que Ele livremente concede a todos quantos nEle confiam. Significa plena e perfeita confiança no Senhor, de que Ele pode e nos salvará pelo mesmo poder pelo qual fez todas as coisas no princípio. Portanto, vemos que uma vez que a mesma promessa que foi feita ao antigo Israel nos é deixada, deve necessariamente ser de que o sábado também devia ser tornado especialmente importante em nossos dias, mais especialmente ao aproximar-se o dia de Cristo.
O Juízo Pronunciado
Mas houve uma alternativa, no caso de o povo recusar o descanso no Senhor. O profeta foi comissionado a dizer adicionalmente: —
“Mas, se não me ouvirdes, para santificardes o dia de sábado, e para não trazerdes carga alguma, quando entrardes pelas portas de Jerusalém no dia de sábado, então acenderei fogo nas suas portas, o qual consumirá os palácios de Jerusalém, e não se apagará” (Jer. 17:27).
E assim foi; conquanto Deus fosse fiel e longânimo em enviar mensagens de advertência a Seu povo, “Eles, porém, zombavam dos mensageiros de Deus, e desprezaram as Suas palavras e mofaram dos Seus profetas, até que o furor do Senhor tanto subiu contra o Seu povo, que mais nenhum remédio houve.
Porque fez subir contra eles o rei dos caldeus, o qual matou os seus mancebos à espada, na casa do Seu santuário, e não teve piedade nem dos jovens, nem das donzelas, nem dos velhos nem dos decrépitos; a todos entregou na sua mão. E todos os vasos da casa de Deus, grandes e pequenos, os tesouros da casa do Senhor, e os tesouros do rei e dos seus príncipes, tudo levou para Babilônia.
E queimaram a casa de Deus, derrubaram os muros de Jerusalém, e todos os seus palácios queimaram a fogo, e destruindo também todos os seus preciosos vasos. E os que escaparam da espada levou para Babilônia; e se fizeram servos dele e de seus filhos, até o tempo do reino da Pérsia, para se cumprir a palavra do Senhor, proferida pela boca de Jeremias, até haver a terra se alegrado dos seus sábados; pois por todos os dias da desolação repousou, até que os setenta anos se cumpriram” (2ª Crô. 36:16-21).
O Rei de Babilônia Governante em Jerusalém
O último rei em Jerusalém foi Zedequias, mas ele não foi um rei independente. Vários anos antes que chegasse ao trono, Nabucodonosor havia cercado Jerusalém, e o Senhor lhe havia entregue a cidade, Dan. 1:1, 2.
Embora Jeoiaquim fosse vencido, ele teve permissão de reinar em Jerusalém como um príncipe tributário, o que ele fez por oito anos. Por ocasião de sua morte o seu filho Joaquim o sucedeu, mas ele reinou somente três meses antes que Nabucodonosor cercasse Jerusalém novamente, e a conquistasse, e levou o rei e sua família e todos os artífices e ferreiros para Babilônia; e “ninguém ficou senão o povo pobre da terra” 3 (2ª Reis 24: 8-16).
Mas ainda ficou um rei permanecendo em Jerusalém, pois Nabucodonosor tornou Matanias rei, mudando o seu nome para Zedequias, verso 17. A palavra Zedequias significa “o justo de Jeová”, e foi dado ao recém-criado rei porque Nabucodonosor “o tinha ajuramentado por Deus” (2 Crô. 36:13) de que não se rebelaria contra a sua autoridade. Que Nabucodonosor tinha direito de requerer isso é mostrado pelo seguinte:—
“No princípio do reinado de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá, veio esta palavra a Jeremias da parte do Senhor, dizendo: Assim me disse o Senhor: Faze uns grilhões e jugos e põe-nos ao teu pescoço.
E envia-os ao rei de Edom, e ao rei de Moabe, e ao rei dos filhos de Amom, e ao rei de Tiro, e ao rei de Sidom, pela mão dos mensageiros que são vindos a Jerusalém a ter com Zedequias, rei de Judá; e lhes ordenarás, que digam aos seus senhores: Assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: Assim direis a vossos senhores: Eu fiz a terra, o homem e os animais que estão sobre a face da terra, com o meu grande poder, e com o meu braço estendido, e a dou a quem me apraz. E agora Eu entreguei todas estas terras na mão de Nabucodonozor, rei de Babilônia, Meu servo; e ainda até os animais do campo lhe dei, para que o sirvam.
Todas as nações o servirão a ele, e a seu filho, e ao filho de seu filho, até que venha o tempo da sua própria terra; e então muitas nações e grandes reis se servirão dele. E acontecerá que, se alguma nação e reino não servirem a Nabucodonozor, rei de Babilônia, e não puserem o seu pescoço debaixo do jugo do rei de Babilônia, a essa nação castigarei com espada, com fome, e com peste, diz o Senhor, até que Eu a consuma pela sua mão.
Não deis ouvidos, pois, aos vossos profetas, e aos vossos adivinhadores, e aos vossos sonhos, e aos vossos agoureiros, e aos vossos encantadores, que vos dizem: Não servireis o rei de Babilônia; porque vos profetizam a mentira, para serdes removidos para longe da vossa terra, e Eu vos expulsarei dela, e vós perecereis. Mas a nação que meter o seu pescoço sob o jugo do rei de Babilônia, e o servir, Eu a deixarei na sua terra, diz o Senhor; e lavrá-la-á e habitará nela” (Jer. 27: 1-11).
Nabucodonosor, portanto, tinha tanto direito de governar em Jerusalém como qualquer dos reis de Israel já teve. Ademais, o seu reino foi mais extenso do que o que tinha sido a duração de reinado de qualquer rei de Israel; e, mais do que tudo, após muita instrução do Senhor, Ele empregou essa oportunidade para espalhar por todo o mundo o conhecimento do verdadeiro Senhor, Daniel 4.
Destarte, quando Zedequias se rebelou contra Nabucodonosor, ele estava impiamente se colocado contra o Senhor, que havia dado Israel ao poder de Nabucodonosor, como punição por seus pecados. Nas palavras seguintes temos uma vívida descrição do movimento de Nabucodonosor contra Jerusalém, e como Deus dirigiu a ação do rei ímpio mesmo enquanto se valia de adivinhação:—
“Tu pois, ó filho do homem, propõe dois caminhos, por onde venha a espada do rei de Babilônia. Ambos procederão de uma mesma terra; e escolhe um lugar; escolheo no cimo do caminho da cidade.
Um caminho proporás, por onde virá a espada contra Rabá dos filhos de Amom, e contra Judá, em Jerusalém, a fortificada. Porque o rei de Babilônia parará na encruzilhada, no cimo dos dois caminhos, para fazer adivinhações; aguçará as suas flechas, consultará as imagens, atentará para o fígado.
À sua mão direita estará a adivinhação sobre Jerusalém, para ordenar os capitães, para abrirem a boca, ordenando a matança, para levantarem a voz com júbilo, para porem os aríetes contra as portas, para levantarem trincheiras, para edificarem baluartes.
Isso será como adivinhação vã aos olhos daqueles que lhes fizeram juramentos; mas ele se lembrará da iniquidade, para que sejam apanhados. Portanto assim diz o Senhor Deus: Visto que Me fazeis lembrar da vossa iniquidade, descobrindo-se as vossas transgressões, aparecendo os vossos pecados em todos os vossos atos; visto que viestes em memória, sereis apanhados com a mão”.4
O Fim do Domínio Temporal, Independente, de Israel
Daí seguem as duras palavras dirigidas a Zedequias: —
“E tu, ó profano e ímpio príncipe de Israel, cujo dia virá no tempo da punição final; assim diz o Senhor Deus: Remove o diadema, e tira a coroa; esta não será a mesma: exalta ao humilde, e humilha ao soberbo. Ao revés, ao revés, ao revés porei aquela coroa, e ela não mais será, até que venha Aquele a quem pertence de direito; e lho darei a Ele” (Eze. 21: 25 a 27).
Zedequias era profano e ímpio, por causa de toda a sua abominável idolatria ele acrescentou o pecado de perjúrio, quebrando um solene voto. Portanto, o reino lhe foi inteiramente removido. O diadema passou dos descendentes de Davi, e foi colocado na cabeça de um caldeu, e o rei de Babilônia está diante de nós. De sua extensão já lemos, e temos adicionalmente as palavras do profeta Daniel explicando a grande imagem que Nabucodonosor viu num sonho a ele dado pelo Deus do céu: —
“Tu, ó rei, és rei de reis, a quem o Deus do céu tem dado o reino, o poder, a força e a glória; e onde quer que habitem os filhos dos homens, os animais do campo e as aves do céu, e fez reinar sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro” (Dan. 2:37, 38).
Nisso traçamos o domínio que no princípio foi dado ao homem (ver Gên. 1:26), conquanto a glória e poder fossem grandemente diminuídos. Mas vemos que Deus ainda tinha o Seu olho sobre ele, e estava operando no sentido de sua restauração, segundo a promessa a Abraão.
De Babilônia ao Estabelecimento do Reino Eterno
Muito pouco tempo é dedicado na Bíblia a descrições de grandeza humana, e o profeta se apressa ao fim de tudo. Três revoluções são preditas em Eze. 21:27, seguindose à passagem do domínio da Terra inteira às mãos de Nabucodonosor. Sendo o seu reino mundial, as revoluções preditas devem também ser a derrocada e estabelecimento do império universal. Assim o profeta Daniel, prosseguindo em sua explicação do sonho de Nabucodonor, disse: —
“Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino, de bronze, o qual terá domínio sobre toda a terra” (Dan. 2: 39).
O reino que sucedeu ao babilônico é mostrado em Daniel 5, tendo sido o da Medo-Pérsia; e em Daniel 8:1-8, 20, 21 aprendemos que o terceiro reino, sucessor da MedoPérsia em domínio universal, foi o da Grécia. Assim esboçamos rapidamente perante nós a história do mundo por vários anos. As primeiras duas revoluções de Eze. 21:29 são tornadas claras; Babilônia foi seguida da Medo-Pérsia, e essa, por seu turno, pelo império grego.
O último desses reinos universais terrenos, seguindo-se à terceira grande revolução, não é diretamente indicado por nome, mas é suficientemente claro. O nascimento de Cristo teve lugar nos dias de César Augusto, que emitiu um decreto para que todo o mundo fosse taxado ou registrado. Lucas 2:1.
Portanto, temos fundamento em indicar Roma como o produto da terceira grande revolução mundial. De fato, nos fixamos sobre esse reino pois não há qualquer outro conhecido na história que pudesse tomar o seu lugar.
Destarte, Babilônia reinou sobre o mundo; em seus dias três revoluções foram preditas fazendo sucederem-se três impérios em seu lugar; a Medo-Pérsia e a Grécia são expressamente indicadas por nome nessa linha de sucessão, e depois temos o imperador de Roma indicado como governante do mundo. Esta é a evidência estritamente escriturística: evidência corroborativa, ou evidência testificando da precisão do histórico sagrado, pode ser encontrada ilimitadamente na história secular.
Mas a revolução que resultou em conceder o reinado do mundo a Roma foi a última grande revolução geral que teria lugar no mundo, “até que venha Aquele a quem pertence de direito”.5Muitos homens, desde que Roma caiu, sonharam com um domínio mundial, mas seus sonhos terminaram em nada.
Cristo esteve nesta Terra, é verdade, mas o fez como um estranho, como Abraão, sem lugar próprio onde pudesse reclinar a cabeça. Ele veio, contudo, “para proclamar liberdade aos cativos”,6 e anunciar que quem quer que vivesse por Sua palavra conheceria a verdade, e seria tornado livre por ela.
Dia após dia e ano após ano no desenrolar dos séculos, a proclamação de liberdade tem estado a soar, e cativos cansados têm sido postos em liberdade do poder das trevas.
Não nos é dado conhecer os tempos e estações que o Pai tem submetido a Seu próprio poder; mas sabemos que quando toda a professa Igreja de Cristo consentir ser cheia do Espírito Santo, o mundo inteiro ouvirá a mensagem do Evangelho na plenitude do seu poder, e o fim virá, quando a criação que geme7 será livrada da escravidão da corrupção à glória da liberdade dos filhos de Deus.
—The Present Truth, 25 de fevereiro de 1897.
Notas desta edição:
1) Hebreus 4:8;
2) Jeremias 17:1;
3) 2ª Reis 24: 14;
4) Ezequiel 4: 19 a 24;
5) Ezequiel 21: 27;
6) Isaias 61:1;
7) Romanos 8:22