8 - O Homem Jesus

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8 - O Homem Jesus

Jesus ‘... não pecou, e nem malícia se achou em Sua boca’ (1 Pe 2.22 - KJ). Para tanto, valeu-Se Ele de alguma vantagem ou condição, que não estejam amplamente disponíveis a nós? Obteve Ele a esplêndida vitória sobre Satanás e sobre o mal, estando nas mesmas condições em que você e eu estamos? 

Como temos visto, ao ser criado, Adão possuía uma natureza humana perfeita, com tendências e inclinações a fazer o bem; estava, pois, sob o governo da lei de fazer o bem, isto é, a lei do amor. Entretanto, após pecar, sua natureza tornou-se pecaminosa, com tendências e inclinações a fazer o mal: governada pela lei do egoísmo, a ‘lei do pecado e da morte’ (Rm 8.2). 

E Jesus? Qual natureza humana assumiu? A de Adão antes da queda ou a de Adão depois da queda? Em outras palavras: em Sua natureza humana, havia tendências hereditárias ao mal ou estava ela imune a isso, isenta dessas tendências? Viveu Ele uma vida perfeita em carne santa ou em ‘semelhança de carne de pecado’? 

Precisou Ele também ‘negar o Seu eu humano’ como nós devemos fazê-lo? Como sabemos, Jesus – sendo Deus – esvaziou-Se de Suas características divinas a fim de viver entre nós. “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. 

Mas esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens” (Fp 2.6-7 - CF).  Ele: 

. Esvaziou-Se de Sua onipotência. Por um lado, Jesus afirmou que ‘Nada posso fazer por Minha própria conta’ (Jo 5.30), e, por outro: “para Deus tudo é possível” (Mc 10.27). Logo, Ele esvaziou-Se de Sua onipotência divina a fim de viver entre nós. 

. Esvaziou-Se de Sua onisciência. Lemos em Lucas 2.52: “E Jesus crescia ... em sabedoria ...”. Se Ele não tivesse Se esvaziado de Sua onisciência divina, nunca teria tido necessidade de crescer em sabedoria. Cristo confessou que não era onisciente. “Mas acerca daquele dia e daquela hora, ninguém sabe, nem sequer os anjos do céu, mas só o Pai” (Mt 24.36).

· Esvaziou-Se de Sua onipresença: Como homem estava limitado a estar em apenas um lugar, por vez. Ele disse: “Convém a vós que Eu vá ...” (Jo 16.7). Caso estivesse Se considerando onipresente, assim não teria falado.

Suas qualificações e atributos como Deus foram voluntariamente velados, desativados, postos de lado, a fim de poder viver como um de nós. A Divindade permaneceu imanente    na natureza humana pecaminosa: Jesus é “Emanuel, que interpretado é: nosso Deus está conosco” (Mt 1.23).

Tendo-Se esvaziado de Sua onipotência, de Sua onisciência e de Sua onipresença, Jesus assumiu mesmo uma carne pecaminosa, com tendências hereditárias a fazer o mal, precisamente como a de um bebê recém-nascido.

Tendências a praticar o mal – hereditárias e cultivadas

Em nossa natureza humana, temos duas categorias de tendências pecaminosas, de inclinações a praticar o mal: 

 · As hereditárias: que são características da nossa natureza humana, que recebemos ao sermos gerados.

 · As cultivadas: que passamos a possuir a partir do instante em que cedemos ao mal, em que pecamos consciente ou inconscientemente.  

Já na natureza humana de Jesus, em razão de Ele nunca ter cedido ao mal, havia apenas as tendências, as inclinações ao mal, HEREDITÁRIAS. Não existiu nela nenhuma sombra de más tendências cultivadas, pois Ele nunca cedeu ao mal, nunca pecou, nunca corrompeu Sua natureza humana: nunca pôs Sua ‘máquina de pecar em funcionamento’. 

Ele sempre falou NÃO às tendências ao mal de Sua natureza humana, as quais Ele odiou como nenhum outro ser humano jamais o fez. Se o cristão ‘chora’ (Mt 5.4) devido às suas tendências ao mal, que permanecerão com ele até a morte – ou até o retorno de Cristo – quanto mais Jesus! 

Em Sua natureza humana também existia a mesma atração natural, hereditária, tal qual existe em nós desde o nascimento; mas não houve jamais outro ser humano, que detestasse tanto essa atração como Jesus: “Amaste a justiça e aborreceste a iniquidade; por isso Te ungiu Deus, Teu Deus, com óleo da alegria muito mais do que Teus companheiros” (Sl 45.7).

Diferenças entre o infante Jesus e outro bebê

É óbvio que um bebê não nasce com uma natureza humana-divina, como Jesus nasceu. E, por ainda não saber como lidar com as tendências ao mal, que herdou de seus pais, toda criança cede a elas, pecando inconscientemente – sem culpa, obviamente – já nos primeiros momentos de sua vida.

Isso, porém, não aconteceu com Jesus, porque Ele nunca cedeu ao mal, nem mesmo inconscientemente, conforme lemos em Salmo 22.9-10 CF: 

“Porque desde o ventre Tu és Minha confiança, e Minha esperança desde os seios de Minha mãe. Desde o ventre fui apresentado a Ti; Tu és Meu Deus desde o ventre de Minha mãe”.

Entretanto, quanto à Sua natureza humana: ‘... mas ao chegar o cumprimento do tempo, Deus enviou o Seu Filho nascido de mulher e que estava debaixo da lei’ (Gl 4.4) do mal, tal qual outro recém-nascido. Paulo reconheceu ter nascido sob a condição de ‘vendido ao pecado’ (Rm 7.14), isto é, nasceu sob o domínio da lei do pecado, ou seja, sob as tendências hereditárias ao mal, sob a lei do egoísmo. 

E Davi confessou: “Em iniquidade fui concebido, e em pecado me deu à luz minha mãe” (Sal. 51.5). Nasceu em pecado, a saber: sob o domínio da lei do pecado, mas não em culpa! Pois ‘o filho não carregará a iniquidade do pai’ (Ez 18.20 - KJ). Assim, não herdamos a culpa de Adão e, sim, apenas as tendências ao mal, as quais, como já temos visto, não são pecado, e, obviamente não geram culpa.

‘Homoioma’ [homoiomati]  –  o que significa realmente?

Lemos em Romanos 8.3 (KJ): “Porquanto, o que a lei não podia fazer, visto como estava fraca pela carne, Deus, enviando Seu próprio Filho em semelhança [homoioma] da carne pecaminosa, e como oferta pelo pecado, condenou o pecado na carne”. 

Quando Jesus veio, havia apenas uma espécie de carne na Terra: a tendente ao mal. Ele condenou o pecado em ‘semelhança da carne pecaminosa’ por não ter, em nenhum instante, cedido às hereditárias, más tendências dela.  

Tem havido muita discussão, no meio cristão, a respeito do significado do termo grego ‘homoioma’ [homoiomati], traduzido por ‘semelhança’, conforme referência já feita. É, assim, conveniente que aprofundemos mais a nossa compreensão do significado dessa palavra que vem do radical homós [em grego]. 

Sabe-se que uma folha não é, exatamente, igual à outra, ainda que ambas sejam da mesma árvore. Não são, exatamente, iguais; são semelhantes. 

Mesmo um irmão de sangue não herda de seus pais uma natureza humana pecaminosa, exatamente igual a dos outros demais irmãos; tanto que um pode receber uma acentuada tendência a ser colérico; outro a ser sanguíneo; ou fleumático ou melancólico. Assim, todos nós recebemos naturezas humanas pecaminosas semelhantes, mas não exatamente iguais. 

Eis outros exemplos do significado do radical ‘homós’:

Homoaxial: cujos eixos são os mesmos;

Homocarpo: cujos frutos são iguais;

Homocentro: centro comum de várias circunferências;

Homocíclico: diz-se de um composto em cuja molécula existe um ciclo constituído por átomos idênticos;

Homocinético: cujas partes se movem à mesma velocidade;

Homodonte: que possui todos os dentes do mesmo tipo;

Homofilo: diz-se da planta de folhas ou folíolos semelhantes;

Homogêneo: cujas partes todas são da mesma natureza;

Homogenia: semelhança de partes, devido à origem comum;

Homógrafo: que tem a mesma grafia;

Homolateral: que se encontra do mesmo lado;

Homônimo: que tem o mesmo nome;

Homopétalo: que tem pétalas semelhantes;

Homossexual: ... mantido por indivíduos do mesmo sexo; Homotonal: que tem a mesma tonalidade.

Homotérmico: que tem a mesma temperatura.

Como fica assim comprovado, o prefixo ‘homós’ está concretamente relacionado com igualdade, identidade, cópia, similitude, uniformidade. 

Assim sendo, por qual motivo ‘homós’, na palavra Homoioma, em Romanos 8.3-4, deveria significar diferença, dessemelhança ou aparência, como se pretende naquela doutrina em que se insiste em afirmar que Jesus veio com a natureza de Adão antes da queda, com ‘carne santa’, sem tendências ao mal?

Além de Romanos 8.3 , eis outros fundamentos bíblicos!

1)  Gênesis 3.15: “E inimizade porei entre ti e a mulher, entre a tua semente e a  Semente dela; Ela pisará a tua cabeça, e tu ferirás o Seu calcanhar”. 

Jesus devia ser a ‘Semente’ de uma mulher caída, não de uma mãe que não tivesse, em sua natureza humana, as hereditárias tendências ao mal.

Conforme está, explicitamente, declarado nesse versículo, a Divindade poria inimizade entre Satanás e a Semente da mulher, Jesus Cristo. Sendo, pois, sobrenatural essa inimizade, é inquestionável se concluir que a natureza humana, que Jesus assumiu ao encarnar, foi exatamente como a nossa, com tendências hereditárias a praticar o mal.

Por Deus ter enviado Seu Filho em ‘semelhança de carne pecaminosa’ (Rm 8.3), no ego humano de Cristo, a inimizade contra o pecado foi sobrenatural. Hereditariamente Sua natureza humana foi decaída, tendente ao egoísmo, do mesmo jeito que a nossa, mas não corrompida. Se Ele tivesse cometido pecado, então a teria corrompido.

Termos uma natureza humana pecaminosa significa termos uma natureza humana em que existe a lei do egoísmo; o que não é sinônimo de sermos egoístas. Ser egoísta tem a ver com o caráter: significa ter cedido ou estar cedendo àquela lei do egoísmo. Certamente essa lei permanecerá em nossa natureza humana até o dia da volta de Jesus, enquanto simultaneamente, todo egoísmo pode ser banido de nosso caráter.

 Jesus também tinha em Si uma natureza humana, idêntica à que temos, isto é, também Ele tinha a ‘máquina de pecar’; mas, ao contrário de todo ser humano, Ele nunca a pôs em funcionamento, embora tenha sido tentado tanto por dentro como por fora como nós o somos. 

E, a fim de não consentir com as hereditárias tendências ao mal, incrustadas em Sua natureza humana, Jesus enfrentava cada tentação citando, com fé, a Palavra de Deus, conforme se lê em Mateus 4.1-11. 

Consideremos agora esta declaração que confirma aquilo que estivemos afirmando: “a inimizade posta entre a semente da serpente [diabo] e a semente da mulher [nós] foi sobrenatural. Com Cristo a inimizade era em certo sentido natural; em outro sentido foi sobrenatural, visto combinarem-se humanidade e divindade”.    

Essa clara, enfática e decisiva declaração atesta, inequívoca e inquestionavelmente, que a natureza humana de Jesus foi a de Adão depois da queda, pois se tivesse sido a de antes da queda, a inimizade teria sido natural em relação às Suas duas naturezas: a divina e a humana. 

Diante dessa comprovação, todos os que creram que, na natureza humana de Jesus, não havia tendências hereditárias ao mal , dispõem apenas de uma destas duas alternativas:

a) livrar-se da ideia herética pré-lapsariana como também da fantasia 

de um Jesus híbrido [com duas naturezas humanas ver p. 67 deste livro];

b) desprezar e renegar a inspiração de Ellen G. White. 

2) Levítico 25.47-49 (KJ): “E se um peregrino ou estrangeiro que está contigo alcançar riqueza, e teu irmão, que está com ele, empobrecer e se vender ao peregrino ou estrangeiro que está contigo, ou a um membro da família do estrangeiro, depois de se vender, ele poderá ser resgatado novamente; um de seus irmãos poderá resgatá-lo; ou seu tio ou o filho de seu tio o resgatará; ou qualquer um dos seus parentes, alguém da sua família, poderá resgatá-lo ...”. 

“Esse homem é nosso parente chegado, e um dentre os nossos resgatadores” (Rt 2.20 - RA). “Agora pois, é certo que sou parente redentor [resgatador]; contudo, há outro que pode redimir que é mais próximo do que eu” ((Rute 3.12). 

O direito de ser resgatador daquele que havia caído em desgraça era, primordialmente, um direito e um privilégio do parente mais próximo, do mais chegado. O ‘parente resgatador’ é um dos símbolos de Cristo. 

Para poder ser o nosso Redentor do pecado, Cristo necessitava ser nosso parente bem próximo. E para tanto, Ele veio em “semelhança de carne pecaminosa” (Rm 8.3 - KJ), idêntica à nossa. 

Ele não poderia exercer o direito de ser nosso Resgatador, se tivesse vindo em ‘carne santa’, pois, nesse caso, não teria sido o nosso ‘parente próximo’, nem poderia ter sido o Representante, o Fiador da raça humana, o ‘segundo Adão’ (1 Co 15.45).

3) Daniel 8.17 CF: “E veio perto de onde eu [Daniel] estava; e, vindo ele, me amedrontei, e caí sobre o meu rosto; mas ele me disse: Entende, filho do homem, porque esta visão acontecerá no fim do tempo”. 

“Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu Um como o Filho do homem; e dirigiu-Se ao ancião de dias, e O fizeram chegar até Ele” (Dn 7.13 - CF). “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10). 

Daniel, um homem com natureza humana, obviamente com tendências hereditárias ao mal, é chamado ‘filho do homem’. Jesus disse de Si mesmo: ‘Porque o Filho do homem ...’, termo que ocorre 86 vezes nos evangelhos.

4) Lucas 1.35 CF: “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”. 

Nenhum outro ser humano nasceu com duas naturezas: a divina e a humana. Nesse particular Jesus foi ‘monogenes’ (Jo 1.18), isto é, único em Sua classe, gênero, posição, espécie, status em todo o Universo.

Sempre que a natureza divina se une à natureza humana tendente ao mal, o produto é um ente santo. (Hb 13.24; Ef 1.1; Fp 4.22; 2 Co 1.1). 

Divindade + humanidade tendente ao mal = Ente Santo 

5) João 12.24 (KJ): “Se o Grão [Jesus] de trigo, caindo na terra, não morrer, permanece só; mas, se morrer, dá muito fruto [cristãos]”.  

  Se o ‘fruto’ [cristão] resulta da união da natureza humana pecaminosa + a natureza divina, então, identicamente, ocorreu com o Grão original, porém nEsse, de maneira inversa, conforme exposto à página 224 , na pergunta 28 .

6) Apocalipse 3.21: “Ao vencedor lhe concederei que se assente Comigo em Meu trono, assim como Eu também venci e Me sentei com Meu Pai em Seu trono”.  

Quando estamos ‘em Cristo’ e Ele ‘em nós’ – conforme será explanado no próximo capítulo – estarão unidas as duas naturezas: a humana tendente ao mal, isto é, a nossa, com a divina, isto é, a dEle. 

Então Jesus vem viver Sua vida perfeita em nós e vence novamente (Gl 2.20). É assim que o povo de Deus vence como Jesus venceu! Se Ele tivesse feito uso de algum poder indisponível a nós, é óbvio que nunca nos teria convocado à vitória.

Então, como herança de Adão, também Ele recebeu uma natureza humana, semelhante à nossa, isto é, com tendências a praticar o mal. E, como Ele não pecou, não há, portanto, qualquer desculpa para se continuar ofendendo a Deus.

7) João 1.14 (KJ): “E a Palavra [Jesus] Se fez carne, e ...”  Ele tornou-Se carne, ao assumir natureza humana pecaminosa, semelhante à nossa. 

8) Hebreus 2.14-17 (KJ): “E já que os filhos são participantes da carne e do sangue, Ele também participou das mesmas coisas, para que através da morte Ele destruísse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo; e livrasse aqueles que, por terem medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. 

Porque, na verdade, Ele não assumiu a natureza dos anjos, mas Ele tomou a semente de Abraão. Por isso, em todas as coisas, convinha-Lhe que fosse feito semelhante aos irmãos, para que fosse um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em todas as coisas que pertencessem a Deus, para operar a reconciliação por causa dos pecados do povo”. 

Assemelhou-Se conosco ao participar, hereditariamente, ‘das mesmas coisas’! Sendo que nós pecamos, e Ele nunca pecou, nem em pensamento.

9) Hebreus 2.18 (KJ): “Porque naquilo que Ele mesmo sofreu [suportou] sendo tentado, Ele pode socorrer aos que são tentados”. 

Ele pode nos socorrer ‘naquilo em que Ele mesmo’ foi tentado. Se Ele não tivesse sido tentado ‘por dentro’, tal qual nós o somos, agora não nos poderia socorrer nessa categoria de tentações.

“Quando Ele era tentado, sentia os desejos e inclinações da carne, precisamente como os sentimos quando somos tentados. Pois ‘cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência [tendência ao mal]’. Tiago 1.14. Jesus experimentou isso sem pecado, porque ser tentado não é pecado.

“É somente quando a iniquidade é concebida, quando o desejo é acariciado, quando a inclinação é sancionada, – somente então é que se produz o pecado”.  

“Jesus nunca, mesmo em pensamento, acariciou um desejo ousancionou uma inclinação da carne. Assim, em tal carne como a nossa, Ele foi tentado em todos os pontos como nós somos, contudo sem um traço de pecado, pelo poder divino que havia recebido mediante fé em Deus, Ele, em nossa carne, sufocou integralmente  toda inclinação dessa carne, e efetivamente matou na raiz todo desejo da carne”. 4

Realmente nos é incompreensível como isso pôde ocorrer. E há quem sustente que Jesus não foi e que nem poderia ter sido tentado como o homem moderno! Ridicularizando, perguntam: – “Como pôde Ele, que viveu há dois mil anos passados, ser tentado nas coisas existentes apenas hoje em dia?” 

Ora, se Jesus não tivesse sido tentado como e em todas as coisas em que o homem do Século XXI é tentado, nesse caso, Ele não poderia nos socorrer atualmente, pois Ele nos socorre apenas ‘naquilo que Ele mesmo sofreu [suportou]’.

10) Hebreus 7.26: “... nos convinha tal Sumo Sacerdote: puro, sem maldade, sem mancha, separado dos pecadores, e exaltado mais alto do que os céus”. 

Apenas para os que adotam a doutrina da ‘culpa original’ é que esse texto poderia apoiar aquela heresia em que se insiste em afirmar que Jesus veio com a natureza de Adão antes da queda. Considere-se, entretanto, que Jesus foi ‘sem mancha’, imaculado. 

E Apocalipse 14.5 nos apresenta 144.000 fiéis, ainda tendo natureza humana com suas hereditárias tendências ao mal, mas “Não foi encontrado engano em suas bocas, porque são sem mancha”. É óbvio que ambos os textos se referem ao caráter e não à hereditariedade.

11) João 14.30 (KJ): “Porque vem o príncipe deste mundo; e ele nada tem em Mim”. Nada havia em Seu caráter que pudesse dar alguma vantagem a Satanás.

12) Hebreus 4.15 (KJ): “Porque não temos um Sumo Sacerdote que não possa ser tocado com o sentimento de nossas fraquezas, porém Um que em todos os pontos foi tentado, assim como nós, porém sem pecado”. Em todos os pontos, foi tentado como nós o somos. 

E nós somos tentados também ‘por dentro’. Obviamente, se Ele tivesse tomado sobre Si a ‘carne santa’ de Adão antes da queda, essa condição em nada Lhe valeria a fim de provar as tentações dos seres humanos nascidos todos com tendências hereditárias ao mal.

13) Mateus 1.21-23 (KJ): “... e eles chamarão Seu nome Emanuel, que sendo interpretado é, Deus conosco”. 

 ‘Deus conosco’, não apenas pelo fato de Jesus viver entre nós; mas porque todos os humanos passaram a estar objetivamente ‘nEle’, em razão da humanidade pecaminosa ter-se unido à Divindade ‘em Cristo’.

14) Romanos 1.3: “... acerca de Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor, que foi feito da semente de Davi, segundo a carne”. Toda a descendência de Davi nasceu  segundo a carne com tendências hereditárias ao mal, inclusive Jesus.

15) Gênesis 12.3: “Em ti e em tua Semente serão benditas todas as famílias da terra”. 

 ‘... em ti’, Abraão, em tua descendência com natureza tendente ao mal. Tal profecia cumpriu-se ‘em Cristo’, a Semente da mulher, do povo de Deus.

16) 2 Coríntios 5.21: “Porque Àquele que não conhece pecado, por vossa causa O fez pecado”. Sim: ‘... Ele O fez pecado ...’ e não apenas: ‘... O considerou pecado ...’. 

17) João 8.11: “Eu tampouco te condeno. Vai-te, e de agora em diante não peques mais”. Se ter carne pecaminosa ou possuir tendências hereditárias ao mal, fosse mesmo pecado, quando Maria Madalena ouviu essas palavras, teria concluído que Jesus estava esperando que ela fosse e obtivesse carne santa.

18) Romanos 8.3 (KJ): “Porquanto, o que a lei não podia fazer, visto como estava fraca pela carne, Deus, enviando Seu próprio Filho em semelhança da carne pecaminosa, e como oferta pelo pecado, condenou o pecado na carne”. 

Ele condenou a ‘lei do pecado’ em ‘semelhança de Sua carne pecaminosa’ por não ter, em nenhum instante, cedido à Sua hereditária pecaminosidade.

19) Lucas 9.23 (KJ): “E dizia a todos eles: Se algum homem quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, e diariamente tome a sua cruz, e siga-Me”. 

‘Siga-Me’ = faça o que eu estou fazendo. Como Ele nos adverte, nós devemos segui-Lo em negar o ‘eu’. Então, Ele também estava praticando a negação do Seu próprio ‘eu’ humano.

20) João 5.30 (KJ): “Eu não posso fazer nada por Mim mesmo; como Eu ouço, Eu julgo; e o Meu juízo é justo, porque não busco a Minha própria vontade, mas a vontade do Pai que Me enviou”. 

Ele tinha um ‘eu’ [uma vontade] do qual disse: ‘Não busco a Minha própria vontade’. Para tanto, negava Seu ‘eu’ humano, como nós devemos fazê-lo. Sua vontade humana diferia da vontade de Deus Pai. Não tinha interesse na satisfação própria; buscava fazer tão somente a vontade de Seu Pai.

21) João 6.38 (KJ): “Porque Eu desci do céu, não para fazer a Minha própria vontade, mas a vontade dAquele que Me enviou”. 

Evidencia-se a diferença de vontades. Jesus, para fazer a vontade do Pai, negava Sua própria vontade humana. Então, Ele tinha uma luta, com Sua hereditária natureza humana pecaminosa, como nós a temos com a nossa.

22) Mateus 26.39 (KJ): “E Ele indo um pouco mais adiante, prostrou-Se sobre a Sua face, orando e dizendo: Ó Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres”. 

Vontades diferentes! Eis aqui a constante luta de Jesus com Seu próprio ‘eu’ humano.

23) Salmo 22.1: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me abandonaste?”  Se Jesus não tivesse natureza pecaminosa, não poderia jamais sentir-Se desamparado e, muito menos, proferir um grito tal. 

24) Isaías 9.6: “Porque um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado ...”, isto é, de nós que temos natureza pecaminosa, nos nasceu um Menino ...

25) João 2.25: “E não necessitava que alguém desse testemunho a respeito de ninguém, porque Ele conhecia o que havia no homem”. 

Por que não necessitava? Porque Ele mesmo tinha natureza humana pecaminosa e sabia muito bem quão pouco confiável era ela.

Diante de todas essas comprovações, todo cristão deveria livrar-se, de vez, da ideia herética que sustenta o pré-lapsarianismo.

Sabe-se que há uma ligação intrínseca entre a Palavra de Deus escrita – a Bíblia – e o Verbo, a Palavra de Deus encarnada – Jesus. Tanto em uma como na outra houve a união da Divindade com a humanidade, isto é, a união da natureza divina com a natureza humana pecaminosa. 

Não existe nenhuma citação bíblica em que se afirme que Jesus tinha a natureza de Adão antes da queda, mas existem as já mencionadas, além de outras, que nos asseguram que Ele nasceu ‘sob a lei’ do pecado, isto é, que veio ‘em semelhança [homoioma] de carne pecaminosa’ – tendente a praticar o mal.

“Um abismo chama a outro abismo” (Sl 42.7)

Por ter-se equivocado, ao definir pecado como natureza, ensina-se, em decorrência, que Jesus teria vindo com a natureza de Adão antes da queda. Ele teria assumido uma natureza humana, na qual não teria tido tendências hereditárias ao mal. Teria vindo em ‘carne santa’. Entretanto, essa heresia é claramente condenada pela Palavra de Deus. Vejamos:

·1 João 4.1-6 (KJ): “Amados, não creiais em todo o espírito [ensino, doutrina], mas provai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas têm aparecido no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus. E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e já agora está no mundo”..  

O anticristo ensina que Jesus não veio em carne. Qual carne? Considere Romanos 8.3: “... em semelhança de carne pecaminosa”. Ensinar que Jesus veio em ‘carne santa’, isto é, com a natureza do Adão antes da queda, equivale a negar que veio em ‘semelhança de carne pecaminosa’.

Precisamente, ‘Este é o espírito [ensino] do anticristo’. Trata-se da linha divisória entre uma corrente de pensamento que conduz à lealdade a Deus e outra que – ao definir pecado como natureza e ao afirmar ser impossível Lhe obedecer perfeitamente, insinua, indiretamente, ser Ele injusto, mentiroso, cruel e arbitrário por exigir obediência perfeita. 

·2 João 7-11 (KJ): “Porque muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é um enganador e um anticristo. ... Se alguém vier ter convosco, e não trouxer esta doutrina, não o recebais em vossa casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda toma parte em seus feitos malignos”.

Alguns dentre os adeptos da doutrina herética do anticristo  – o famigerado pré-lapsarianismo – perguntam: 

– “Jesus poderia ter exatamente a mesma natureza que nós recebemos de Adão e ainda assim ser nosso Salvador?”   – Sim, respondemos! De fato, a única maneira de Ele poder nos salvar foi por ter sido gerado com natureza humana pecaminosa, semelhante à que recebemos ao nascer. 

Do contrário, Ele não poderia ser o legítimo Representante da raça decaída, isto é, ser o segundo Adão e nem poderia nos ter unido à Sua Divindade.

Falso cristo

Eis algumas outras das equivocadas afirmações e conclusões proferidas pelos que defendem o pré-lapsarianismo: “Para Cristo ser o Segundo ou Último Adão, Ele, o Divino, deve possuir uma natureza humana sem pecado, caso contrário, Ele nunca poderia ter atendido às exigências da lei ....”   

E, em razão de terem aceito, como verdade, a heresia de que a própria natureza humana já seria pecado, seus defensores entendem que ‘natureza humana sem pecado’ seria, obviamente, a natureza de Adão antes da queda. 

Consideremos também esta declaração, que trilha o mesmo caminho que a anterior: “Ensinar que Cristo possuía propensões pecaminosas é ensinar que Ele próprio era um pecador que necessitava de um Salvador”. 6 

E como teria sido possível realizar-se isso, de Jesus não ter herdado as tendências ao mal? A resposta pronta que se recebe é esta: “A substância de Maria foi modelada numa perfeita natureza para nosso Senhor, justamente como, no início, o Espírito Santo tomou o caos e criou um mundo perfeito”.  

Como é bem fácil de se notar, sem nenhuma prova bíblica – fruto apenas de especulações, deduções e suposições humanas – os que insistem em afirmar que Jesus veio com a natureza de Adão antes da queda, ensinam que Maria:

·não teria recebido uma natureza humana com tendências hereditárias ao mal, como nós a recebemos;

·ou, se a recebeu, não a transmitiu a seu Filho.

Em qualquer dessas hipóteses, Cristo não teria tido uma verdadeira, completa e integral natureza humana com tendências ao mal. Ainda que os adeptos dessa doutrina digam que ‘consideram Jesus completamente humano’, não se trata de um ‘completamente humano’ como nós somos, com hereditárias tendências ao mal. 

Segundo essa heresia, Cristo teria vindo numa espécie de ‘carne santa’. Como produto final, essa equivocada linha de pensamento pretende nos apresentar um falso cristo: 

·Isento, isto é, que não teria tido as tendências, propensões, inclinações hereditárias ao mal; teria herdado tendências ao bem; de Sua natureza humana não teriam nunca surgido pensamentos ou desejos maus, contra os quais Ele teria lutado, sempre os afastando como odiosos.

·Imune, a saber: que não teria sido tentado por dentro, como o são todos os homens; enfim não teria sido ‘TOCADO POR NOSSOS SENTIMENTOS’   .

Um Jesus híbrido?!

Há também outra variante dessa heresia. Trata-se de uma linha de pensamento que concebe a hipótese de Jesus ter vindo em parte com a natureza de Adão antes da queda, e, em parte, com a natureza de Adão depois da queda! 

De sorte que teríamos, assim, um Jesus híbrido, com duas naturezas humanas! Um Jesus fictício, sem tendências hereditárias ao mal – portanto com ‘carne santa’– porém com algumas das consequências da queda. Também essa heresia carece de fundamento bíblico tal qual a anterior, e é também fruto apenas de imaginações, especulações e suposições humanas. 

Eis como o teólogo, pertencente a essa corrente, se expressa a esse respeito:  

“Embora Ele tenha assumido a humanidade com suas fraquezas inocentes [envelhecer, sentir cansaço, dor, fome, tristeza], Ele não a assumiu com suas propensões ao pecado. Aqui a Divindade Se interpôs. O Espírito Santo cobriu com Sua sombra a virgem e, permitindo a fraqueza que dela derivasse, proibiu a pecaminosidade; ao assim fazer, permitiu que fosse gerado um ser humano sofredor e enfraquecido, mas ainda assim não depravado e sem mácula; um ser humano com lágrimas, mas sem manchas; acessível à angústia, mas não inclinado a ofender; aliado mui intimamente com a miséria resultante, mas infinitamente afastado de suas causas producentes”.  

Se Sua natureza humana tivesse sido a de Adão antes da queda: 

·  Se a carne  de Jesus, isto é, se a natureza humana de Jesus tivesse sido diferente da nossa, Ele não poderia ter vivido e morrido ‘sendo nós’ e, assim, estaria destruído o plano da salvação. 

·  Ele não teria vindo até o fundo do poço, onde nós estamos. A ‘escada de Jacó’ [Cristo] (Gn 28.10-12; Jo 1.51) não teria chegado onde estávamos, e, portanto, Jesus não estaria qualificado para ser o segundo Adão, o novo Cabeça, o legítimo Representante da raça humana caída. 

· Ele não teria vindo até o fundo do poço, onde nós estamos. A ‘escada de Jacó’ [Cristo] ( Gn 28.10-12; João 1.51) não teria vindo até onde estávamos.

· Se Ele tivesse vindo em ‘carne santa’  nem mesmo estaria sujeito à morte.

· Se Jesus não tivesse tido um ego humano, naturalmente inclinado ao mal, como o nosso ao nascermos, então Ele nem teria tido necessidade de vencêlo, pois teria sempre estado predisposto ao bem, como o ego de Adão, antes da queda.

· Rebaixar-se-ia e desfigurar-se-ia, assim, a Sua estupenda vitória sobre o mal, conseguida nas mesmas condições em que você e eu estamos.

· Ele deixaria de ser nosso exemplo, pois teria tido uma natureza humana, não só superior à nossa, mas também indisponível a nós. Assim, o Senhor Jesus – em Sua luta e vitória sobre o pecado – teria tido uma tremenda vantagem, que nunca poderíamos obter, pois não nos é facultado nascer com a natureza de Adão antes da queda; também nos é impossível obter ‘carne santa’ nesta vida.

·  Abrir-se-ia, assim, o caminho para que o homem apresentasse uma real e aceitável desculpa para continuar ofendendo a Deus, visto que esse seria um objetivo impossível de ser alcançado! Criar-se-iam condições para se alegar que não se poderia atingir vitória semelhante à que Ele conseguiu. 

O homem poderia dizer: – “Deus não pode esperar que eu ‘vença como Jesus venceu’ (Ap 3.21), porque Jesus foi diferente de mim, pois herdou ‘carne santa’ e eu, ‘carne com tendências ao mal’. Assim Ele teve uma abismal vantagem sobre mim, pois não teve que lutar contra as tendências ao mal. Desfrutou de um vantajoso privilégio que me é impossível obter. Logo, eu não posso vencer”.

·  Não poderíamos alimentar esperança alguma de completa vitória sobre o nosso ego, pois não teríamos, à nossa disposição, as mesmas condições que Ele teria tido para vencer. 

·  Sendo-nos impossível completa vitória, Jesus não poderá voltar, pois Ele o fará apenas quando houver sobre a face da Terra um povo que esteja refletindo perfeitamente o caráter de Cristo.

 Se Sua natureza humana foi tendente ao mal, como a que herdamos:  

·  Para nos socorrer, Ele veio realmente até ao fundo do poço. A ‘Escada de Jacó’ [Jesus] efetivamente chegou até onde nós estávamos [e estamos]: em nossa natureza pecaminosa, com tendências ao mal herdadas. 

·  Somente assim pôde ser o segundo Adão, o nosso novo Representante.

· Pode, então, ser nosso Exemplo e pela graça [favor e poder] de Deus, podemos esperar que Ele venha viver Sua vida em nós e assim novamente vencer como Ele já venceu. “Ao que vencer, permitirei que assente Comigo em Meu trono, assim como Eu também venci e estou assentado com Meu Pai em Seu trono” (Ap 3.21 - KJ). Ele venceu o quê? O Seu próprio ego humano!

·  Por que Jesus veio em carne tendente a praticar o mal? “Para que a justiça da lei tivesse cumprimento em nós ...” (Rm 8.4), isto é, a fim de que Ele possa viver, novamente, Sua vida em nós, revelando Seu caráter em Sua Igreja, reproduzindo-o perfeitamente, em Seu povo.

Conclusão

Jesus, ao não consentir em ofender ao Pai, condenou tanto o pecado como a lei do pecado em Sua carne tendente ao mal, idêntica à que herdamos de nossos pais. Ao vir viver em nós pela fé na Palavra, almeja condená-la novamente. 

Como Ele nunca cultivou Suas tendências hereditárias ao mal, isto é, como nunca cedeu a elas, nunca pecou nem em pensamento, Sua natureza humana recuava do mal; assim como uma carinhosa mãe sente arrepios e horroriza-se diante da proposta de degolar seu amado filhinho que mama em seus seios. 

Como Ele venceu, e para tanto não Se valeu de nenhum poder, vantagem ou condição, que não estejam amplamente disponíveis também a todos, então nós também podemos – e devemos – permitir-Lhe que vença também o nosso ego, ao vir viver, ininterruptamente, em nós. Eis que: 

Divindade + Humanidade Pecaminosa = Sucesso

Ao apresentar Seu Filho, é como se Deus Pai nos dissesse: “Observem a perfeita justiça que Eu realizei na ‘semelhança de carne pecaminosa’ de vosso Irmão, Jesus Cristo. 

Se não Me impedirem, realizarei o mesmo em vocês ao possibilitar que Ele viva Sua vida perfeita em vossas mentes”. Não há, portanto, qualquer desculpa para se continuar ofendendo a Deus, isto é, pecar, pois Jesus pode vir viver Sua vida perfeita em nós, ininterruptamente.

Ore conosco: “Querido Pai Celestial, muito obrigado por nos ensinares que, em uma natureza humana como a nossa, com tendências hereditárias a praticar o mal, Jesus venceu perfeitamente Seu ego humano e, assim, nos acenas com a possibilidade de Ele, vindo viver em nós, fazer o mesmo. Em nome de Cristo. Amém”.

Apoio ao conteúdo deste capítulo

“A vontade humana de Cristo não O teria levado ao deserto da tentação, ao jejum e à tentação do diabo. Ela não O levaria a sofrer humilhação, desprezo, censura, sofrimento e morte. Sua natureza humana se esquivava de todas essas coisas tão decididamente quanto a nossa se esquiva delas”.   

“Teria sido uma quase infinita humilhação para o Filho de Deus, revestir-Se da natureza humana mesmo quando Adão permanecia em seu estado de inocência, no Éden. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado. 

Como qualquer filho de Adão, aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade. O que estes resultados foram, manifesta-se na história de Seus ancestrais terrestres. Veio com essa hereditariedade para partilhar de nossas dores e tentações, e darnos o exemplo de uma vida sem pecado”.      

“Sentimos a necessidade de apresentar a Cristo, não como um Salvador que estava longe [como um Adão antes da queda], mas perto, à mão [como um Adão depois da queda]”. 13 

“Adão foi tentado pelo inimigo e caiu. Não foi um pecado enraizado que o fez ceder, pois Deus o fez puro e reto e à Sua própria imagem. Ele era tão irrepreensível quanto os anjos perante o trono. Não havia nele princípios corruptos nem tendências para o mal. Mas quando Cristo veio para conhecer as tentações de Satanás, Ele carregou a ‘semelhança de carne pecaminosa’”.  

“Somente pela Sua própria sujeição à lei da hereditariedade podia Ele alcançar a medida inteira e verdadeira do pecado. Sem isto não podiam ser postos sobre Ele os nossos pecados realmente cometidos, com o castigo e a condenação pertencentes a eles”.   

“Quando Cristo assumiu nossa natureza humana, Ele foi lá em Seu ego divino; mas Ele não manifestou nada de Seu ego divino naquele lugar ... Ele foi nossos egos pecaminosos na carne, e aqui onde todas estas tendências para pecar sendo incitadas na Sua carne para conseguir que Ele consentisse em pecar. Mas Ele não Se manteve sem pecar por Suas próprias forças. Fazer assim teria sido Ele mesmo manifestando-Se contra o poder de Satanás, e isto teria destruído o plano de salvação, mesmo se Ele não tivesse pecado”. 16

“Aqui a provação de Cristo foi muito maior do que a de Adão e Eva, pois Ele assumiu nossa natureza, decaída, mas não corrompida, e que não se perverteria a menos que Ele aceitasse as palavras de Satanás em lugar das palavras de Deus”.   

“As palavras de Cristo encorajam os pais a trazer suas crianças a Jesus. Elas podem ser geniosas, e possuir paixões como aquelas da humanidade, mas isto não nos deveria intimidar de as trazer a Cristo. Ele abençoou as crianças que possuíam paixões iguais às Suas próprias”.   

“Em Sua humanidade, Cristo participou de nossa natureza pecaminosa, caída. Senão, não seria então ‘em tudo semelhante aos irmãos’, não seria como nós, em tudo ... tentado, não venceria como temos de vencer, e não seria, portanto, o completo e perfeito Salvador que o homem necessita e deve ter para ser salvo. 

A ideia de que Cristo nasceu de uma mãe imaculada ou isenta de pecado, sem herdar tendências para pecar, e por isso não pecou, põe-nO à parte do domínio de um mundo caído, e do próprio lugar onde é necessário o auxílio. 

“De Sua parte humana, Cristo herdou exatamente o que herda todo filho de Adão – uma natureza pecaminosa. Do lado divino, desde a própria concepção, foi gerado e nascido do Espírito. 

E tudo isso foi feito para colocar a humanidade num plano vantajoso, e demonstrar que da mesma maneira todo que é ‘nascido do Espírito’ pode obter idênticas vitórias sobre o pecado, mesmo em sua pecaminosa carne. Assim cada um tem de vencer como Cristo venceu. (Ap 3.21). Sem este nascimento, não pode haver vitória sobre a tentação, nem salvação do pecado. (Jo 3.3-7)”.    

“É um mistério, que permanece inexplicável aos mortais, que Cristo pôde ser tentado em todos os pontos como nós somos, e ainda estar sem pecado”.   

“Cristo foi tentado em todos os pontos, à nossa semelhança, mas sem pecado. Ele disse: ‘Aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em Mim.’ Que significa isto? Significa que o príncipe do mal não pôde encontrar em Cristo uma posição vantajosa para sua tentação; e pode suceder a mesma coisa conosco”.   

 “Tomando a natureza humana, habilitou-Se Cristo a compreender as provas e dores do homem, e todas as tentações com que é assediado. Os anjos não familiarizados com o pecado não se podiam compadecer do ser humano nas provações que lhe são peculiares. Cristo condescendeu em tomar a natureza humana, e ‘como nós, em tudo foi tentado’ (Hb 4.25), a fim de poder saber como ‘socorrer a todos os que fossem tentados.’ (Hb 2.18)”.  22

“Como Cristo agia, assim deveis agir. Com ternura e amor, procurai levar os errantes para o caminho certo. Isso exigirá grande paciência e tolerância, e a constante manifestação do amor perdoador de Cristo. Diariamente cumpre seja revelada a compaixão de Cristo. O exemplo que Ele deixou deve ser seguido. Ele tomou sobre Sua natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza, para saber como socorrer os que são tentados”.  

“Cristo é nosso exemplo. Ele foi exposto à aflição. Suportou o sofrimento; rebaixou-Se à natureza humana. Cristo levou Seus fardos sem impaciência, sem descrença, sem murmuração. Suas aflições não foram menos intensas por ser o divino Filho de Deus. 

Não tendes um dissabor, perplexidade ou dificuldade que não incidiu com igual força sobre o Filho de Deus; nenhum pesar a que Seu coração não esteve igualmente exposto. Seus sentimentos eram feridos com tanta facilidade como os vossos. Contudo, a vida e o caráter de Cristo eram irrepreensíveis. Seu caráter compunha-se de virtudes morais, abrangendo tudo que é puro, verdadeiro, amável e de boa fama”.   

“A natureza de Deus, cuja lei havia sido transgredida, e a natureza de Adão, o transgressor, encontraram-se em Jesus, Filho de Deus e Filho do homem”.   

“Cristo tornou-Se uma mesma carne conosco, a fim de nos podermos tornar um espírito com Ele”.   

“Conquanto sentisse Ele toda a força da paixão humana, jamais cedeu à tentação”.  

“Sua [de Cristo] vida foi uma de negar o eu, na qual a verdade, em todas as suas nobres qualidades, foi expressa”.  

“A vontade humana de Cristo não O teria conduzido tão rapidamente ao deserto da tentação, para ser tentado pelo diabo. Ela não O levaria a suportar humilhação, escárnio, vergonha, sofrimento e morte. Sua natureza humana recuava de todas essas coisas, tão decididamente quanto a nossa o faz ... Cristo vivia para fazer o quê? A vontade de Seu Pai celestial”.  

“Por isso que o homem caído não podia vencer a Satanás com sua força humana, veio Cristo das cortes reais do Céu para ajudá-lo com Sua força humana e divina combinadas. 

Cristo sabia que Adão, no Éden, com suas superiores vantagens, poderia ter resistido às tentações de Satanás, vencendo-o. Sabia também que não era possível ao homem, fora do Éden, separado, desde a queda, da luz e do amor de Deus, resistir em suas próprias forças às tentações de Satanás. 

A fim de conceder esperança ao homem e salvá-lo da ruína completa, humilhou-Se, tomando a natureza do homem para que, com Seu poder divino combinado com o humano, pudesse Ele alcançar o homem onde se acha. Obtém Ele para os caídos filhos e filhas de Adão aquela força que é impossível obterem eles por si mesmos, a fim de que em Seu nome possam vencer as tentações de Satanás”. 30

“Argumentação enganosa foi uma tentação a Cristo. Sua humanidade a tornou uma tentação para Ele. ... Ele andou pela fé, como nós temos que andar pela fé.... Alguém suportou todas estas tentações antes de nós ... As mais fortes tentações ... do cristão virão de dentro. Cristo [foi] tentado como nós somos”.   

“Se aquela escada houvesse deixado de chegar à terra, por um único degrau que fosse, teríamos ficado perdidos. Mas Cristo vem ter conosco onde nos achamos. Tomou nossa natureza e venceu, para que, revestindo-nos de Sua natureza, nós pudéssemos vencer”.  

“Se não possuísse natureza humana, não poderia ter sido nosso exemplo. Se não fosse participante de nossa natureza, não poderia ter sido tentado como o homem tem sido. Se não Lhe tivesse sido possível ceder à tentação, não poderia ser nosso Auxiliador”.  

“Temos o hábito de pensar que o Filho de Deus era um Ser tão acima de nós, que Lhe seria uma impossibilidade de passar por nossas provas e tentações, e que Ele não pode simpatizar conosco, em nossas fraquezas e debilidades. Isso acontece porque não levamos em conta o fato de Sua união com a humanidade. Ele tomou sobre Si a semelhança da carne pecaminosa e foi feito, em todos os pontos, como Seus irmãos”.  

“Satanás apresenta a divina lei de amor como uma lei de egoísmo. Declara que nos é impossível obedecer-lhe aos preceitos. … Jesus devia patentear esse engano. Como um de nós, cumpria-Lhe dar exemplo de obediência”.  

“Ele não veio ao nosso mundo para prestar obediência de um Deus menor a Um maior, mas como homem obedecer à santa Lei de Deus e, desse modo, ser nosso exemplo. O Senhor Jesus desceu à Terra não para revelar o que Deus poderia fazer, mas o que o homem poderia realizar, através da fé no divino poder, para auxílio em toda emergência”.  

“Devemos sempre ser gratos que Jesus demonstrou-nos [provou-nos] por fatos reais que o homem pode guardar os mandamentos de Deus, contradizendo a mentira de Satanás de que o homem não os pode guardar. 

O Grande Mestre veio para nosso mundo para colocar-Se à cabeça de humanidade, para assim elevar e santificar a humanidade pela Sua santa obediência à todas as ordens de Deus mostrando que é possível obedecer a todos os mandamentos de Deus. 

Ele demonstrou que uma vida inteira de obediência é possível. Assim Ele dá ao mundo homens escolhidos, representativos, como o Pai deu o Filho, para exemplificar na vida deles a vida de Jesus Cristo.  

“Não necessitamos colocar obediência de Cristo, por si mesma, como algo para o qual Ele estava particularmente adaptado, pela Sua especial natureza divina, pois Ele estava diante de Deus como Representante do homem e foi tentado como Substituto e Fiador do homem. 

Se Cristo tivesse tido um poder especial, do qual o homem não dispõe, Satanás teria tirado proveito disto. A obra de Cristo foi despojar a Satanás de suas pretensões de dominar [de controlar] o homem, e Ele só poderia fazer isto na forma em que veio - um homem, tentado como um homem, prestando a obediência de um homem”.     

Foi na dura cruz que o Fiador respondeu por todos os atos de todos os Seus afiançados, isto é, de todos os seres humanos indistintamente! (1 Jo 2.2; 1 Tm 4.10). Obviamente Ele não Se tornou responsável pela nossa salvação e, sim, apenas pelos nossos pecados! É ao ser humano que cabe a responsabilidade de aceitar ou de rejeitar a salvação que lhe foi disponibilizada gratuitamente.

“Se tivéssemos de sofrer qualquer coisa, que Cristo não houvesse suportado, Satanás havia de apresentar o poder de Deus como nos sendo insuficiente ... Sofreu toda provação a que estamos sujeitos”.   “As sedutoras sugestões, a que Cristo resistiu, foram as mesmas que tão difícil achamos vencer”.   

“Aqui o teste de Cristo era tanto maior do que aquele de Adão e Eva, pois Ele tomou a nossa natureza, decaída, mas não corrompida, e que não seria corrompida a menos que Ele aceitasse as palavras de Satanás em lugar das palavras de Deus”.   

“Cristo foi submetido à prova mais rigorosa, que exigia o vigor de todas as Suas faculdades para resistir à inclinação, quando sob risco de usar Seu poder para livrar-Se do perigo”.    

“Sua divindade estava oculta. Ele venceu em a natureza humana, confiando em Deus para receber poder”.  

“Com os mesmos recursos que o homem pode alcançar  , resistiu às tentações de Satanás, como o homem tem de a elas resistir”.  

“E não exerceu, em Seu próprio proveito, poder algum que nos não seja abundantemente facultado. Como homem, enfrentou a tentação, e venceu-a no poder que Lhe foi dado por Deus”.  

“Em nossas conclusões, cometemos muitos erros por causa de nossos errôneos pontos de vista sobre a natureza humana de nosso Senhor. Quando conferimos à Sua natureza humana um poder, que não é possível ao homem possuir em seus conflitos com Satanás, destruímos a inteireza de Sua humanidade”.  

“Muitos dizem que Jesus não era como nós, que Ele não estava como nós estamos no mundo, que Ele era divino, e então nós não podemos vencer como Ele venceu. Mas isto não é verdade; ‘verdadeiramente Ele não tomou sobre Si a natureza dos anjos; mas Ele tomou Sobre Si a semente de Abraão... naquilo que Ele mesmo suportou sendo tentado, Ele é hábil para socorrer os que são tentados.’ Cristo conhece as provas do pecador; Ele conhece suas tentações. Ele tomou sobre Si nossa natureza ... Ele teve que batalhar contra as inclinações do coração natural ..”..  

“É inevitável que os filhos sofram as consequências das más ações dos pais, mas não são castigados pela culpa deles, a não ser que participem de seus pecados ... Por herança e exemplo os filhos se tornam participantes do pecado do pai. Más tendências, apetites pervertidos e moral vil, assim como enfermidades físicas e degeneração, são transmitidos como um legado de pai a filho, até a terceira e quarta geração”.  

“Vindo, como Ele fez, como um homem, para experimentar todas as más tendências das quais o homem é herdeiro e ser sujeito a elas, operando de todos os modos concebíveis para destruir-Lhe a fé, Ele tornou possível a Si mesmo o ser esbofeteado pelos agentes humanos inspirados por Satanás, o rebelde que havia sido expulso do Céu”.  

“Ele deixou as glórias do Céu, e revestiu Sua divindade com humanidade, e sujeitou-Se ao sofrimento, e vergonha, e opróbrio, ao abuso, rejeição e crucifixão. Embora Ele sentisse toda a força das paixões da humanidade, nunca cedeu à tentação de fazer o que não fosse puro e elevado e enobrecedor”.   

“A fim de elevar o homem caído, Cristo teve que alcançá-lo onde ele estava. Ele tomou a natureza humana, e suportou as fraquezas e a degeneração da raça. Ele, que não conheceu nenhum pecado, tornou-Se pecado por nós. Ele humilhou-Se até às mais baixas profundidades do infortúnio humano, a fim de que pudesse estar qualificado para alcançar o homem, e erguê-lo da degradação na qual o pecado o tinha mergulhado”.  

“O Senhor agora requer que cada filho e filha de Adão ... O sirva com a mesma natureza que possuímos agora. ... Jesus ... poderia unicamente guardar os mandamentos de Deus da mesma forma que a humanidade pode fazê-lo”.  

“Como homem, suplicava ao trono de Deus, até que Sua humanidade fosse de tal modo carregada com a corrente celestial, que pudesse estabelecer ligação entre a humanidade e a divindade. Mediante contínua comunhão recebia vida de Deus, de maneira a poder comunicar vida ao mundo. Sua experiência deve ser a nossa”.  

“Jesus não revelou qualidades, nem exerceu poderes, que os homens não possam possuir, mediante a fé nEle. Sua perfeita humanidade é a que todos os Seus seguidores podem possuir, se forem sujeitos a Deus como Ele o foi”.   

“Cristo veio viver a lei em Seu caráter humano exatamente na maneira pela qual todos podem viver a lei na natureza humana, se procederem como Cristo procedeu. ... Foram tomadas amplas providências para que o homem, finito e decaído, possa estar tão ligado com Deus que, por meio da mesma Fonte pela qual Cristo venceu em Sua natureza humana, ele consiga resistir firmemente a todas as tentações, como Cristo o fez”.  

Cristo “apoiou-Se no trono de Deus, e não existe homem ou mulher que não possa ter acesso ao mesmo auxílio, pela fé em Deus. Pode o homem tornar-se participante da natureza divina”. “Neles pode combinar-se a divindade e a humanidade.“  

“Não foi como Deus que foi tentado no deserto, nem devia como Deus suportar as contradições dos pecadores contra Si mesmo. Foi a Majestade do Céu que Se tornou homem - humilhou-Se até nossa natureza humana”.  

“Cristo ... veio a este mundo para viver a vida de obediência que Deus requer que vivamos”.  

“Ele foi, em natureza humana, aquilo que você pode ser”.  

“Sua vida testificou que, com a ajuda do mesmo poder divino que Cristo recebeu, é possível ao homem obedecer à lei de Deus”.  

“A vitória de Jesus foi notável, não porque, como Deus, Ele agisse divinamente, mas porque, como homem, Ele não agiu como qualquer outro homem. Jesus, em natureza humana, viveu uma vida que Satanás disse não poderia ser vivida. O fato surpreendente sobre a vida de Jesus é que Ele viveu uma existência que se supunha impossível de viver”.  

“Como Deus, Cristo não poderia ser tentado a pecar, assim como não fora tentado a quebrar Seu concerto no Céu. Quando, porém, Cristo humilhou-Se e assumiu a natureza humana, colocou-Se sob a tentação. Ele não assumira nem mesmo a natureza dos anjos, e sim a humanidade, perfeitamente idêntica à nossa, exceto pela mancha do pecado. 

Um corpo humano, uma mente humana, com todas as suas características peculiares - Ele era constituído de ossos, cérebro e músculos. Sendo de nossa própria carne, compartilhava das fraquezas da humanidade”.  

“Em Sua humanidade Ele Se apoderou da divindade de Deus [COMO? Pela fé no poder da Palavra do Pai]; e isso cada membro da família humana tem o privilégio de fazer. 

Cristo nada fez que a natureza humana não possa fazer, se participar da natureza divina”.   

E aqueles outros textos difíceis?!

Um deles é o seguinte: “Os pais têm um encargo mais sério do que imaginam. A herança das crianças é aquela de pecado. O pecado as separou de Deus. Jesus deu Sua vida a fim de consertar os elos rompidos com Deus. 

Devido ao parentesco com o primeiro Adão, os homens  recebem dele [‘from him’] nada a não ser culpa e sentença de morte. Mas Cristo entra e passa pelo terreno onde Adão caiu, suportando toda a prova em favor do homem. Ao sair da prova sem mancha, redimiu o vergonhoso fracasso e infame queda de Adão. 

“Isto coloca o homem numa condição vantajosa perante Deus; coloca-o onde – mediante a aceitação de Cristo como seu Salvador – chega a ser participante da natureza divina. Assim ele é conectado com Deus e com Cristo. O perfeito exemplo de Cristo e a graça de Deus são-lhe determinadas para habilitá-lo a treinar os seus filhos e filhas para serem filhos e filhas de Deus”. 

Conforme já expusemos no capítulo 7 e na página 88, esta é a revelação bíblica a respeito desse tópico: 

“Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais: cada qual será morto pelo seu pecado”. (Dt 24.16).  

“... o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai a iniquidade do filho: a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este”. (Ez 18.20). 

A Bíblia não se contradiz. Qualquer respeitável comentarista bíblico nunca se aventurará a contradizê-la. Daí conclui-se que qualquer explicação, que pretendesse se aventurar pelo caminho de contrariar a Bíblia, buscando bases para o pecado original ou para a culpa original, inevitavelmente laboraria em equívoco.

Queira observar que a frase: ‘Devido ao parentesco com o primeiro Adão, os homens recebem dele [from him] nada a não ser culpa e sentença de morte’ não é a mesma coisa que: ‘Devido ao parentesco com o primeiro Adão, os homens recebem nada a não ser SUA [his] culpa e sentença de morte.’ 

Considere que, de Adão, recebemos dois olhos, duas pernas, uma cabeça, enfim o corpo que temos; entretanto, não recebemos os seus órgãos, propriamente ditos. Recebemos outros, não os seus próprios! Suas pernas, olhos, cabeça, etc., foram sepultados, há cerca de uns cinco mil anos passados! 

No entanto, estamos completamente corretos ao afirmar que recebemos de Adão o corpo que temos, pois somos descendentes dele; se não recebemos dele o corpo que temos ... de quem o teríamos, pois, recebido? 

Do macaco é que não! Entretanto, a afirmação de que recebemos dele um corpo com tais e tais características, não quer dizer que recebemos o corpo que pertencia a Adão. Correto? Também quanto à culpa e à sentença de morte!

Assim, o que se está afirmando, no texto em pauta, é que dele recebemos a culpa, no sentido de que foi ele quem nos abriu a porta para a desobediência, ao, hereditariamente, nos transmitir tendências ao mal, nas quais não há pecado, como vimos no capítulo 7. 

Herbert E. Douglass comenta de modo confiável a respeito disso:    

1) “Note que a ‘herança’ recebida é ‘pecado’ e aquele pecado separa-as de Deus. O único pecado – em que as crianças teriam participado – seria o dessas ocasiões em que elas transgrediram um dever conhecido. (Tg 4.17; João 9.41; 15.22).

2) “Desde Adão, todos nós temos muita culpa, porque temos transgredido algum dever [luz] conhecido. Nós não recebemos de Adão uma clara visão, uma consciência esclarecida, um ambiente livre dos efeitos do pecado – por causa dele, nós mergulhamos em culpa   e merecemos ‘a sentença de morte’, o ‘salário’ do pecado. (Rm 6.23).

3) “Nesta amigável carta a John Wessel, não se está dando uma breve declaração teológica. Antes, está-se enfatizando o papel dos pais e como Deus planeja salvar-nos do legado [herança] de Adão para sua família de descendentes até nós. Sem Jesus, como nosso Salvador e Senhor, mergulhamos em culpa e merecemos a morte, como nossa recompensa; da mesma maneira que beber veneno tem a sua própria consequência”. 

E as outras citações?!

Esta, por exemplo: “Ele derrotou a Satanás na mesma natureza sobre a qual no Éden Satanás obteve a vitória. O inimigo foi vencido por Cristo em Sua natureza humana. O poder da Divindade do Salvador estava oculto. Ele venceu na natureza humana, confiando em Deus para [obter] poder. Este é o privilégio de todos. A nossa vitória será proporcional à nossa fé”.  

Poderia alguém concluir que encontrou aqui um apoio àquela doutrina, que ensina que Jesus teria tomado sobre Si a natureza de Adão antes da queda, o prélapsarianismo? Negativo! Ora, é óbvio que não ‘é o privilégio’ de nenhum ser humano possuir a natureza humana de Adão antes da queda, isto é, ter ‘carne santa’! 

Este ‘privilégio’ não está disponível a ninguém! E o texto acima nos diz que ‘este é o privilégio de todos’! Logo, labora em equívoco - aliás, como sempre! - a compreensão de que seria possível encontrar apoio àquela equivocada doutrina, agora pretendendo valer-se da frase marcada na página anterior.

E o que se diz desta citação? 

“Na plenitude do tempo Ele seria revelado em forma humana. Ele tomaria Sua posição à cabeça da humanidade tomando a natureza, mas não a pecaminosidade [sinfulness] do homem”.   Consideremos que a tradução da palavra ‘sinfulness’ é ‘pecaminosidade’. Segundo o dicionário: Pecaminosidade é a ‘qualidade ou característica do que é pecaminoso’. E o termo ‘pecaminoso’ tem dois sentidos:

(1) Pode significar ‘moralmente errado ou mau’; ‘relativo ou referente ao pecado’; ‘próprio do pecado’; ‘em que existe ou há pecado’; ‘da natureza do pecado’. 

(2) Pode também significar ‘tendente ao pecado’ ou ‘o que tem tendências ao mal’. Então pecaminosidade [sinfulness] pode significar: 

(a) ‘Qualidade ou característica do que é moralmente mau, em que existe ou há pecado’, referindo-se às cultivadas tendências ao mal. 

(b) Ou ‘qualidade ou característica do que é tendente ao pecado ou do que tem tendências ao pecado’, referindo-se às hereditárias tendências ao mal.

Como temos que “convinha que, em todos os aspectos – e não somente em ‘alguns’ – [Jesus] Se tornasse semelhante aos irmãos” (Hb 2.17), sabemos que também Ele herdou, como um de nós, as hereditárias tendências ao mal; assim resta-nos tão somente a conclusão de que, por ‘pecaminosidade’, o texto em apreço está se referindo exclusivamente às tendências cultivadas, ao caráter de Cristo. 

E assim, nem aqui existe apoio à doutrina que ensina que Jesus teria tomado sobre Si a natureza de Adão antes da queda!

Para analisar os demais textos desta categoria procede-se dentro deste mesmo critério, aqui aplicado: nenhum comentário respeitável contradirá o ensino bíblico! 

Normalmente a maneira clássica de se equivocar é tomar um texto, que se refere ao caráter de Cristo, isto é, às Suas tendências cultivadas, e aplicá-lo às tendências hereditárias ou vice-versa. Tal acontece em muitos comentários a respeito da ‘Carta a Baker’ (Ellen G. White, 1895), onde se supõe que haveria endosso ao prélapsarianismo! 

Havendo-se esposado tal equívoco, parece-lhes que ‘comprovadamente’ teriam encontrado algum apoio à doutrina que ensina que Jesus teria tomado sobre Si a natureza de Adão antes da queda; mas, quando os textos são analisados dentro de seu contexto, não existe apoio algum, nem contradições, pelo simples fato que uma fonte inspirada – digna de confiança como é – não fornece água salgada e água doce ao mesmo tempo! É lamentável que assim mesmo haverá os que se deixarão enganar. Oremos a respeito. 

“O Filho de Deus Se rebaixou para levantar os caídos. Para isso deixou Ele os mundos sem pecado de cima, as noventa e nove que O amavam, e veio à Terra para ser ‘ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades’. Isa. 53:5. 

Em tudo foi feito semelhante aos irmãos. Tornou-Se carne, exatamente como nós somos. ... foi tentado e provado como o são os homens e mulheres de hoje, vivendo, contudo, uma vida sem pecado”.  

Carta 8, 1895 de Ellen G. White ao Pr. Baker  

“Seja cuidadoso, extremamente cuidadoso, ao apresentar a natureza humana de Cristo. Não O apresente às pessoas como um homem com propensões ao pecado. Ele é o segundo Adão. O primeiro Adão foi criado como um ser puro, imaculado, sem mancha de pecado nele; foi feito à imagem de Deus. Podia cair, e caiu pela transgressão. 

Por causa de seu pecado, sua posteridade nasceu com propensão inerente para a desobediência. Mas Jesus Cristo era o Filho unigênito de Deus. Ele tomou sobre Si a natureza humana e foi tentado em todos os pontos em que a natureza humana é tentada. 

Podia ter pecado; podia ter caído, mas nem por um momento houve nEle qualquer propensão para o mal. Foi assediado pelas tentações no deserto, como Adão foi assediado pelas tentações no Éden.

Evite toda discussão a respeito da humanidade de Cristo que dê lugar a mal-entendidos. A verdade anda perto do caminho da presunção. Ao tratar sobre a natureza humana de Cristo, você precisa cuidar ao extremo toda afirmação, impedindo que suas palavras signifiquem mais do que devem e assim você perca ou obscureça a clara percepção de Sua humanidade combinada com a divindade. 

Seu nascimento foi um milagre, pois o anjo disse: ‘E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e Lhe porás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus Lhe dará o  trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o Seu reino não terá fim. 

E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço varão? E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus’ (Lc 1-31-35).

Essas palavras não se referem a qualquer ser humano, exceto ao Filho do Deus Infinito. Nunca, de modo algum, deixe a mais leve impressão nas mentes humanas, de que uma mancha de corrupção ou inclinação a ela havia em Cristo ou que Ele, de alguma forma, cedeu à corrupção. 

Foi tentado em todos os pontos como o homem é tentado, contudo foi chamado ‘o Ser Santo’. É um mistério que foi deixado sem explicação para os mortais, que Cristo pôde ser tentado em todos os pontos como nós o somos, e, no entanto, ser sem pecado. 

A encarnação de Cristo foi e sempre será um mistério. O que foi revelado é para nós e nossos filhos, mas que todo o ser humano seja advertido contra a ideia de considerar Cristo totalmente humano, como qualquer um de nós, pois não pode ser. Não é necessário que saibamos o exato momento quando a humanidade se uniu à divindade. Devemos firmar nossos pés sobre a Rocha, Cristo Jesus, como Deus revelado na humanidade. 

Percebo que há perigo na abordagem de assuntos que tratem da humanidade do Filho do Deus Infinito. Ele humilhou-Se a Si mesmo quando viu que tinha tomado a forma humana, e que poderia compreender a força de todas as tentações pelas quais o homem é assediado.

O primeiro Adão caiu; o segundo Adão apegou-Se firmemente à mão de Deus e à Sua Palavra nas mais probantes circunstâncias, e Sua fé na bondade, misericórdia e amor do Pai não oscilou em momento algum. ‘Está escrito’ foi Sua arma de resistência, e essa é a espada do Espírito que todo ser humano deve usar. 

Já não falarei muito convosco; por que ‘ se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim’ (Jo 14.30). – nada que seja suscetível à tentação. Em nenhuma ocasião houve reação favorável às suas múltiplas tentações. Nenhuma vez Cristo pisou no terreno de Satanás, para não lhe dar qualquer vantagem. Satanás nada encontrou nEle que encorajasse seus avanços”.

Uma Análise da Carta a Baker   

A análise foi feita pelo Pr. Ralph Larson que, antes de seu passamento, oferecia US$1.000,00 a quem apresentasse uma única citação de Ellen G. White, afirmando que Jesus possuiu a natureza de Adão antes da queda! (ver nota de referência 480, p. 152 em uma das traduções brasileiras do livro Tocado por Nossos Sentimentos de autoria do Pr Jean R. Zurcher).

Quais foram os problemas na experiência do Pr. W. L. H. Baker que deram origem à carta de conselhos, escrita por Ellen White?

Quanto aos conselhos profissionais e práticos, que ocupam a maior parte da carta, não devemos especular, já que ela – a Sra. White – escreveu ao Pr. Baker: “Estáveis abatidos e vos sentíeis desanimados ... Considerais vosso trabalho como um fracasso”. 

Porém os intérpretes de Ellen White aparentemente pensaram que duas páginas e meia de conselhos cristológicos, dirigidos ao Pr. Baker, não incluíram uma declaração adequada ao problema, e se aventuraram a escrever uma em seu lugar. Se resumíssemos a declaração escrita por eles diria assim: “Você, tem estado equivocado ao crer que Cristo veio à Terra na natureza humana do homem caído”.

Proponho que esse esforço, ainda que bem intencionado, foi totalmente desnecessário. Em meu parecer a declaração de Ellen White é suficientemente clara e satisfatória. Ela escreveu: “que todo o ser humano seja advertido contra a ideia de considerar Cristo completamente [totalmente] humano, como qualquer um de nós”. (A ênfase é do Pr Larson).

Procuremos analisar cabalmente essa declaração, tendo cuidado de não misturar uma “eiségesis” – nossa própria interpretação – com a “exégesis” – o significado das palavras da autora. Os seguintes pontos pareceram inquestionáveis:

a. O propósito da mensagem é admoestar.

b. A advertência, ainda que dirigida ao Pr. Baker, se estende a “todo ser humano”.

c. O tema da advertência é cristologia, isto é, a doutrina de Cristo.

d. Os termos empregados não limitam a advertência à natureza humana nem à natureza divina de Cristo. A autora fala de Cristo em Sua totalidade, Cristo em Sua plenitude, em Sua inteireza, o Salvador divino-humano que tanto é Deus como homem. 

Isso é evidente nas palavras da oração, e seu contexto, que nos levam a sermos prudentes não seja que “assim você perca ou obscureça a clara percepção de Sua humanidade combinada com Sua divindade”. (A ênfase é do Pr Larson).

e. O conteúdo específico da advertência é que tenhamos cuidado de não apresentar Cristo diante das pessoas como: 1 – Completamente humano, 2 – Como um de nós.

Essa advertência vem imediatamente depois de umas declarações que sustentam que o nascimento de Cristo foi um milagre de Deus, e que a descrição bíblica de Cristo como o Filho de Deus não pode aplicar-se a nenhum ser humano senão a Cristo.

É necessário que assinalemos que não tem cabimento para uma natureza divina em um Cristo que fosse completamente humano?

É necessário que assinalemos que não há cabimento para uma natureza divina em um Cristo que em Sua grandiosidade fosse como um de nós?

Por que temos dificuldade em dar-nos conta de que a advertência de Ellen White ao Pr. Baker era de que tivesse cuidado para que sua frisante ênfase na humanidade de Cristo não viesse a fazer com que seus ouvintes perdessem de vista a importante divindade de Cristo, e que chegassem à conclusão de que na vida de Cristo pudesse ter havido pecado? (Não esqueçamos que esta advertência contém não menos de dez declarações que afirmam que Cristo nunca pecou, nem sequer uma única vez).

Vacilamos em aceitar o significado óbvio da advertência escrita porque não podemos aceitar que exista um cristão que creia que, na vida de Cristo, pudesse ter havido pecado?

De fato, tem havido muitos cristãos que tem acreditado que, na vida de Cristo, pudesse ter havido pecado. Estes tem sido classificados geralmente em dois grupos: 

A. Os chamados modernistas – esse termo faz tempo que está em desuso e tem sido substituído pelo termo mais geral: liberais – que surgiram em fins do século XIX e nos princípios do século XX. 

Eles ensinavam que os descobrimentos científicos tem comprovado que o registro bíblico do nascimento miraculoso de Cristo não tem fundamento, e viam a Cristo simplesmente como um grande e bom homem, não como o Filho de Deus. 

Eles não vacilaram em admitir a possibilidade de pecado na vida de Cristo – a menos que também negassem a realidade do pecado, como outros têm feito. Estas pessoas enfrentaram a vigorosa oposição dos líderes adventistas de seu tempo, assim como de outros cristãos conservadores. 

Eram classificados entre os piores inimigos de Cristo e do Evangelho. É difícil acreditar que o Pr. Baker tivesse continuado no ministério adventista se tivesse adotado as doutrinas dos modernistas.

B. Os Adocianistas [ou adocionistas] da igreja primitiva. Esses eram um número significativo de cristãos que criam que Cristo iniciou Sua vida terrestre como um ser completamente humano, como um de nós, mas que eventualmente foi adotado para converter-Se no Filho de Deus. 

Não pareciam preocupar-se muito pelo pecado que pudesse haver existido na vida de Cristo, anterior à Sua adoção. Suas opiniões encontram-se nos escritos dos Pais da igreja cristã, acerca dos quais Ellen White advertiu ao Pr. Baker.

Minha análise da carta a Baker, apresentada neste site, tem-me levado a concluir que o adocianismo [ou adocionismo] é o erro contra o qual Ellen White advertiu ao Pr. Baker. Parece-me que a explicação que os intérpretes de Ellen White têm dado a essa carta é totalmente artificial e estranha, uma explicação que só pode ser fruto de haver ignorado a clara declaração de Ellen White quanto ao problema.

É de conhecimento geral que os pioneiros da Igreja Adventista vinham de uma grande variedade de antecedentes religiosos e teológicos, e que, depois da grande decepção do ano de 1844, eles dedicaram muito tempo, e estudo, ao desenvolvimento de uma plataforma de verdades bíblicas sobre a qual puderam unir-se. 

Em suas primeiras conferências bíblicas conseguiram chegar a um acordo comum acerca da natureza de Deus, a natureza do homem, o Sábado, a justificação pela fé, entre outras crenças. Sem dúvida, não puderam chegar a um acordo quanto à natureza de Cristo.

Arianismo

No início do século, todavia, ouviam-se algumas vozes entre nós que advogavam em diferentes maneiras por limitadas ideias acerca da divindade de Cristo  . Falando de forma geral, estes conceitos pertenciam ao que os teólogos têm denominado arianismo, em homenagem a um sacerdote de Alexandria, chamado Ário, que, com muito vigor, defendeu opiniões similares nas grandes controvérsias cristológicas do século IV.  

Segundo Ário –  e aqueles que creem em suas ideias – Cristo não havia coexistido com o Pai através de toda a eternidade, senão que foi criado pelo Pai em algum ponto do tempo antes da história do mundo. Cristo era visto como o maior e mais elevado dos seres criados por Deus. Por essa razão Ele não podia ser “o verdadeiro Deus”, senão uma forma de deidade inferior e menor. 

Ellen White não usou o termo técnico arianismo, mas deixou a certeza da divindade eterna de Cristo em sua grande obra ‘O Desejado de Todas as Nações’, de tal forma que os erros cristológicos, específicos do arianismo, foram inequivocadamente refutados.74 Por exemplo: “Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 19).

“O nome de Deus, dado a Moisés para exprimir a ideia da presença eterna, fora reclamado como Seu pelo Rabi da Galileia. Declarara-Se Aquele que tem existência própria”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 469-470). “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada.”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 530).

À luz desse claro testemunho, os erros cristológicos do arianismo desvaneceram-se gradualmente, e duvido que hoje exista algum Adventista do Sétimo Dia, estudante da Bíblia, que pense que Jesus era um ser criado.

Adocianismo [ou adocionismo]

De igual maneira, sem identificar o erro cristológico com seu termo específico, Ellen White achou ocasião para refutar os princípios do adocianismo, que diz que Cristo não era o Filho de Deus ao nascer nem durante a primeira parte de Sua vida terrena, senão que converteu-Se em Filho de Deus por adoção. Esse conceito foi ensinado em Roma, entre os anos de 189-199 d. C., por um mercador de couro, chamado Teodoro, nascido em Bizâncio  . Foi desenvolvido e ampliado por Paulo de Samosata, que serviu como bispo de Antioquia, durante os anos 260-269 d. C. Devido à forte influência de Paulo de Samosata, esse conceito tornou-se muito popular. 

No século VIII foi defendido entre as igrejas ocidentais por Elipando de Espanha  .

Ainda que tivesse diversos matizes nas opiniões dos adocianistas, três conceitos básicos predominavam. Os comentários e os argumentos de Ellen White a estas ideias encontram-se não só em ‘O Desejado de Todas as Nações’, senão também num testemunho pessoal dirigido a W. L. H. Baker, um pastor que trabalhava no distrito de Tasmânia, quando Ellen White vivia na Austrália e trabalhava no manuscrito de sua obra O Desejado de Todas as Nações’.‘    

Nessa interessante carta encontramos:

(1) uma advertência ao Pr. Baker quanto a ocupar muito tempo com a leitura; 

(2) um aviso quanto a não aceitar as tradições dos Pais – termo que, ao ser escrito com letra maiúscula, refere-se aos Pais da Igreja; e 

(3) uma admoestação quanto a ensinar teorias especulativas que não seriam de proveito para os membros da igreja. Ademais refuta especificamente, ponto por ponto, os erros do adocianismo – descritos na sequência:

I. Conceito Adocianista: Ao nascer, Jesus não era o Filho de Deus. Nasceu de uma mulher de maneira igual a todos os homens. Ainda que possa ter nascido de uma virgem, esse feito não havia tido nenhum significado teológico. Nasceu como filho de homem, não como Filho de Deus.

Ellen White escreveu ao Pr. Baker: “Mas Jesus Cristo era o unigênito Filho de Deus ... Seu nascimento foi um milagre de Deus pois o anjo disse: ‘Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 

Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; o Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o Seu reino não terá fim. 

Então Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, uma vez que não conheço varão? Respondeu-lhe o anjo: Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso O que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus’.” (Lc 1:31-35). Essas palavras não se referem a nenhum ser humano, exceto ao Filho do Deus Infinito”. Carta 8, 1985. A ênfase é minha.

II. Conceito Adocianista: Jesus não era o Filho de Deus durante a primeira fase de Sua existência terrena. Era um ser humano normal com conceitos de pureza e santidade muito elevados, pelos quais lutou heroicamente, mas não foi divino em nenhum sentido. 

Durante essa fase de Sua existência, posto que era completa e exclusivamente humano, devia possuir as mesmas tendências ao pecado e manchas de corrupção que todos os humanos possuem. Pode ter sido vencido pela tentação e inclusive pode ter pecado. 

Mas nenhuma dessas coisas, em vista de Sua luta heroica e contínua por alcançar a santidade, O tinham desqualificado para converter-Se no Filho adotivo de Deus ao culminar Seu progresso espiritual. 

Paulo de Samosata o expressou desta maneira: “Maria não deu à luz a Palavra, porque Maria não existia desde a eternidade. Senão que ela deu à luz a um homem do mesmo nível que nós”.    (A ênfase é do Pr Larson).

Ellen White escreveu ao Pr Baker: “Que cada ser humano permaneça em guarda para que não façam a Cristo completamente humano, como um de nós, porque isso não pode ser”. (A ênfase é do Pr Larson).

“Nunca, de modo algum, deixe a mais leve impressão nas mentes humanas, de que uma mancha de corrupção ou inclinação a ela havia em Cristo ou que Ele, de alguma forma, cedeu à corrupção”.

“Não O apresente às pessoas como um homem com propensões ao pecado”.

“Podia ter pecado; podia ter caído, mas nem por um momento houve nEle qualquer propensão para o mal”. (Carta 8, 1985).

Esta interessante expressão, “nem por um momento”, parecia indicar que Ellen White se retraía de horror ao conhecer a posição dos adocianistas. Talvez eles pudessem contemplar serenamente a possibilidade de que houvera propensões perversas [cultivadas], corrupção e algum pecado na vida de Cristo; mas ela não podia conceber semelhante conceito. 

Essa parecia ser sua maior preocupação na carta ao Pr Baker. Na carta ela reitera um total de dez vezes que Cristo não pecou, excluindo cuidadosamente a possibilidade de sequer uma única ocasião em que Cristo houvesse cedido a tentação.

“Em nenhuma ocasião houve uma resposta as muitas tentações de Satanás”. (A ênfase é do Pr Larson).

III. Conceito Adocianista: Como resultado de Suas lutas heroicas para conseguir a santidade, Jesus foi finalmente adotado para ser o Filho de Deus. Há diversas opiniões quanto a quando isto aconteceu. 

Alguns creem que foi um processo gradual, outros pensam que aconteceu no batismo de Jesus, e outros creem que foi em Sua ressurreição. Depois de Sua adoção, a humanidade uniu-se com a divindade.

Ellen White escreveu ao Pr Baker: “Não é necessário que saibamos o momento exato quando a humanidade se combinou com a divindade”. (A ênfase é do Pr Larson).

Apesar dessa precisa e clara refutação aos erros do adocianismo – em sua carta ao Pr Baker –, Ellen White abundou, em sua obra ‘O Desejado de Todas as Nações’, sobre os temas da divindade e preexistência de Cristo, assim como em Seu estado de ausência de pecado no decorrer de toda Sua vida.

Alguns têm estudado a carta a Baker, e, talvez devido ao pouco conhecimento que têm dos específicos erros cristológicos adocianistas, que ela refutou tão energicamente, tiveram dificuldades com a expressão “em nenhum momento houve nEle uma propensão ao mal [perversa]”.   

Alguns têm visto, nessa declaração, uma evidência de que ela acreditava que Cristo tomou a natureza não caída de Adão. Outros, ao comparar essa declaração com os comentários que ela faz sobre o tema em ‘O Desejado de Todas as Nações’, têm chegado a desafortunada conclusão de que ela se contradiz a si mesma ao apoiar ambas as posições. 

Nenhuma dessas conclusões tem fundamento. Uma vez que reconheçamos que o propósito da carta a Baker é rebater todos os pontos do adocianismo, com os quais o Pr. Baker, aparentemente, havia se envolvido mediante os escritos dos Pais da Igreja, a linha de pensamento de Ellen White se torna clara como o cristal. 

E, de nenhuma maneira, podemos usar o fragmento de uma carta pessoal, dirigida a um pastor em Tasmânia, para contrariar todas as declarações a respeito da natureza humana de Cristo, que se encontram em ‘O Desejado de Todas as Nações’, que é claramente o legado consciente e deliberado de sua posição cristológica ao mundo inteiro. Fazer isso seria uma hermenêutica questionável, para não dizer outra coisa.

Quanto à natureza humana de Cristo, Ellen White, separando-se conscienciosamente da Cristologia da Reforma, adota a mesma posição que o teólogo suíço Karl Barth sustentou, e pela mesma razão. 

Façamos a comparação:

Karl Barth: “A carne – no que se converteu a Palavra – é a forma concreta da natureza humana, marcada pela queda de Adão ...

“Mas não se deve debilitar-se ou obscurecer-se a verdade salvadora de que a natureza, que Deus assumiu em Cristo, é idêntica à nossa natureza, tal como o vemos à luz da queda. De outra maneira como poderia Cristo ser realmente como nós? Que relação teríamos com Ele?

“Jesus não recusou a condição e situação do homem caído, senão que a tomou sobre Si mesmo, a viveu e a elevou como o eterno Filho de Deus”.  

Ellen White: “Teria sido uma quase infinita humilhação para o Filho de Deus, revestir-Se da natureza humana mesmo quando Adão permanecia em seu estado de inocência, no Éden. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado.”  

“A fim de elevar ao homem caído, Cristo tinha que chegar ao lugar desse, tomou a natureza humana, e levou as fraquezas e degenerações da raça”.  

“Ao tomar sobre Si a natureza humana em sua condição caída, Cristo não participou no mínimo em seu pecado”.  

Concluo dizendo que, se utilizarmos os princípios hermenêuticos corretos, seria impossível usar a carta de Baker para contradizer o escrito em O Desejado de Todas as Nações’. Comparar ‘ a natureza humana de Cristo com a natureza não-caída de Adão, distinguindo-a da natureza do homem depois da queda, certamente não foi o propósito da autora dessa carta. 

É evidente que ela estava respondendo às necessidades de um problema totalmente diferente – o desafortunado envolvimento do Pr. Baker com os erros cristológicos do adocianismo.

E a evidência, de nenhuma maneira, dá lugar a que se acuse a Ellen White de sustentar ambas posições na controvérsia sobre a natureza humana de Cristo. 

Quando os princípios hermenêuticos corretos são aplicados, seus escritos sobre o tema são muito claros, conscientes e inequívocos. Qualquer intento de traçar uma linha demarcatória entre a natureza humana de Cristo e a nossa, deve ser eliminado completamente por esta simples, porém profundamente significativa, declaração: 

“Ele foi, em Sua natureza humana, precisamente o que você pode chegar a ser”.   

A respeito da união do poder divino com o esforço humano

“Nisto está revelado a operação do divino princípio de cooperação, sem o que nenhum verdadeiro sucesso pode ser alcançado. O esforço humano nada realiza sem o divino poder; e, sem o concurso humano, o esforço divino é, em relação a muitos, de nenhum proveito. Para tornar a graça de Deus nossa própria, precisamos desempenhar a nossa parte. Sua graça é dada para operar em nós o querer e o efetuar, mas nunca como substituto de nosso esforço”.   

“Quando Deus abre o caminho para a realização de certa obra, e dá garantias de sucesso, o instrumento escolhido deve fazer tudo que estiver em seu poder para alcançar os resultados prometidos. O sucesso será proporcional ao entusiasmo e perseverança com que o trabalho é levado a cabo. Deus pode operar milagres em favor de Seu povo unicamente quando este desempenha sua parte com incansável energia. ”  87

“Mas os que esperam contemplar uma transformação mágica em seu caráter sem resoluto esforço de sua parte, para vencer o pecado, esses serão decepcionados”.   

“Deveis orar como se a eficiência e o louvor fossem todos devidos [atribuíveis] a Deus, e trabalhar [labutar] como se o dever fosse todo vosso. Se quereis poder, o tereis; ele está esperando que o saqueis. Tão-somente credes em Deus, tomai-O pela palavra, atuai [agi] pela fé, e as bênçãos hão de vir”.   

“Os que estiverem vivendo sobre a Terra quando a intercessão de Cristo cessar no santuário celestial, deverão, sem Mediador, estar em pé na presença do Deus santo. Suas vestes devem estar imaculadas, o caráter liberto de pecado, pelo sangue da aspersão. Mediante a graça de Deus e seu próprio esforço diligente, devem eles ser vencedores na batalha contra o mal.”    

 “Ao orarem, queridos jovens, para que não sejam induzidos à tentação, lembrem-se de que sua parte não se limita a orar. Cumpre-lhes então responder a própria oração tanto quanto possível, resistindo à tentação e deixando que Jesus faça por vocês o que não lhes é possível fazer por si mesmos”. 

NOTAS:

Sempre vemos, no Espírito de Profecia, que Jesus não teve tendências ao mal em Seu caráter; teve, entretanto, as tendências ao mal hereditárias, características da nossa natureza humana que assumiu conforme Romanos 8.3-4: “Conquanto sentisse Ele toda a força da paixão humana, jamais cedeu à tentação.” NUNCA teve nenhuma tendência ao mal CULTIVADA, pois sempre falou NÃO aos Seus impulsos naturais ao mal, os quais Ele odiou como nenhum outro ser humano jamais o fez: “Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso Deus, o Teu Deus, Te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos Teus companheiros.” (Sl 45.7).

Se o crente 'chora' (Mt 6.4) também devido a seus impulsos e tendências ao mal que permanecerão com ele até a morte [ou até o retorno de Cristo], quanto mais Jesus! Se nós pudéssemos extirpar, de nossa natureza humana pecaminosa, as tendências ou impulsos ao mal: (a) o Espírito já não teria necessidade de 'militar contra a carne'; (b) teríamos obtido 'carne santa', que é o mesmo fanatismo de outrora. Nota do tradutor.
  
Barth, Karl, Church Dogmatics, p. 151-158.
O Desejado de Todas as Nações, p. 32.
Review And Herald, 28 de Julho de 1874.


Comentário do tradutor: Como o Pr. Larson magistralmente apresenta, a Carta ao Pr. Baker é nada mais que uma admoestação rebatendo a heresia do adocianismo! Como pelos frutos se conhece a árvore (Mt 7.16) sabemos que a dita 'nova teologia' [pré-lapsarianismo] é nada mais do que as antigas doutrinas católicas. A maneira, de confundir o claro entendimento dessa Carta, é a de tomar as referências às tendências cultivadas e aplicá-las às tendências hereditárias e vice-versa. É, de fato, uma lástima que tanta controvérsia, ao longo da nossa história, tenha como fundamento apenas um 'texto fora do contexto', gerando incontáveis pretextos!

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