7 - Diagnosticando a doença

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7 - Diagnosticando a doença

É o pecado que causa nossa perdição, e o Evangelho trata do plano de Deus de reverter a nossa triste situação, de perdidos para a de remidos; da posição de sujeitos – dominados – pela lei do pecado [a lei do egoísmo], para a de sujeitos a Cristo, o que é a verdadeira liberdade. 

“O Espírito do Yahweh Deus está sobre Mim, porque Yahweh Me ungiu. E Me enviou a proclamar boas novas aos aflitos, a estancar a ferida dos quebrantados de coração, para proclamar liberdade aos cativos [do ego, do mal], e a pôr em liberdade aos prisioneiros [sob o domínio ‘da lei do pecado e da morte’ (Rm 5.18; 8.2)]” (Is 61.1). 

O autêntico ‘Evangelho eterno’ nos oferece liberdade tanto da culpa – através do perdão – como do poder dos pecados – através da vitória sobre eles – a fim de não mais voltarmos a cometê-los. “A Verdade vos libertará” (Jo 8.32).

O primeiro passo em direção à cura: a consciência da doença

Quando vamos ao médico, faz-se necessário que a doença seja diagnosticada corretamente, a fim de que nos sejam ministrados os remédios adequados. Se o diagnóstico for incorreto, a medicação será ineficaz, e o doente não será curado. 

Se estiver enganado quanto ao diagnóstico, como poderia acertar quanto à devida medicação? Semelhantemente, convém-nos conhecer, com absoluta precisão, qual é a natureza do pecado, a fim de podermos escapar de sua condenação e de seu poder. 

Quando? Como? Por que ofendemos a Deus? O que nos torna culpados, ao ponto de sermos condenados à segunda morte, à não-existência? Precisamos saber, com exatidão, o que é o pecado para, na sequência, entendermos como o 

Evangelho – o remédio para o pecado – nos resgata e nos cura dele. 

Segundo a Bíblia, o que se constitui e o que não se constitui uma ofensa a Deus? O que nos torna indignos da Sua confiança? Do que somos perdoados? O que precisamos fazer a fim de nos libertar da morte eterna? Por qual razão alguém é condenado? O que nos torna culpados perante Ele? Sabendo onde reside nossa culpa, e como ela se originou e se origina, estaremos habilitados a aplicar, acertadamente, o Evangelho. 

O conceito, isto é, a compreensão que tivermos do que vem a ser pecado, influenciará nossa fé, nossa esperança de vitória, nossa atitude, nosso comportamento e nossa crença a respeito da nossa salvação. 

Duas correntes antagônicas

É lamentável que haja no cristianismo duas correntes, duas definições conflitantes, antagônicas, contrárias entre si, a respeito do que seja pecado: 

(a) Uma corrente, equivocadamente, entende que pecado é também aquilo que somos, a nossa natureza com tendências hereditárias ao mal. O pecado teria existido [e existiria] em nós, independentemente das nossas decisões e mesmo antes delas. O pecado seria ‘como a barba’  , que pode ser aparada, mas não eliminada.

(b) A outra corrente, acertadamente, define pecado como uma escolha. Se o pecado for consciente, voluntário, gera culpa. Se for inconsciente, involuntário, não gera culpa. Uma maldosa decisão pode ou não resultar, finalizar em palavra ou em ato externo, contrário à vontade de Deus. Cometer pecados restringe-se à área dos motivos, das intenções, das decisões humanas, das escolhas mentais.

(a) PECADO COMO NOSSA NATUREZA, AQUILO QUE SOMOS

Essa corrente de pensamento não define o pecado apenas como uma escolha humana, contrária à vontade de Deus; mas inclui, em seu conceito do que é pecado, também o que somos, a nossa natureza. A ‘lei do pecado e da morte’ (Rm 8.2) já seria pecado. 

Assim, conduz seus adeptos ao prélapsarianismo, isto é, à conclusão de que a natureza humana de Jesus teria sido a de Adão antes da queda. Esses expressam absurdos como estes:

“Pecado é, então, não apenas aquilo que nós fazemos, mas aquilo que nós somos”.    

“Pecado é mais que um ato, é também uma força, um princípio, um poder que reside em nossas naturezas pecaminosas”.  

“Todos nós ... viemos ao mundo corrompidos com o contágio do pecado ... À vista de Deus somos corrompidos e poluídos ... A impureza dos pais é transmitida a seus filhos ... Todos são originalmente depravados ... A culpa provém da natureza”.   “Nossas naturezas humanas, que herdamos de Adão ao nascer, tornam-nos pecadores”.  

Como nascemos com tendências hereditárias ao mal, acreditam esses que elas já seriam mesmo uma ofensa a Deus. Observe outras maneiras como formulam seu equivocado entendimento:

“Embora o pecado inclua escolhas errôneas ... ele também inclui natureza”.    

“... a natureza do pecado inclui um aspecto interno (inclinação egocêntrica)”.  

“Para Jesus, pecado, mais que o ato, é uma condição, um estado, uma inclinação da natureza humana para o mal”.  

Entendem esses que estaríamos ofendendo a Deus até pelo simples fato de termos nascido na família humana, porque herdamos uma natureza pecaminosa, sujeita à lei do egoísmo, com tendências ou inclinações hereditárias ao mal. 

Essas, automaticamente, gerariam a nossa culpa. Teríamos, assim, herdado a culpa de Adão, pois foi dele que herdamos a natureza humana, da qual se originam desejos e pensamentos maus. Nossa natureza seria uma permanente e ininterrupta ofensa a Deus.

Seríamos culpados porque a nossa natureza é inimiga dEle. Por ela apreciar aquilo que Ele detesta, e por não gostar daquilo que Ele aprecia. Deus nos destinaria à segunda morte exatamente porque, interiormente, nos sentimos naturalmente atraídos ao mal, assim como o ferro sente natural atração ao ímã. 

A culpa teria origem tanto naquilo que somos – inclinados a fazer o mal – como no mal que tencionamos fazer e, em decorrência, fazemos.

Absurdos e armadilhas

Entendem eles que Deus estaria sendo ofendido a partir do instante em que o bebê é gerado no ventre materno. Desde o momento em que Ele mesmo dá vida ao novo ser, até o fim dos seus dias, nosso Senhor permaneceria, CONSTANTEMENTE, sendo ofendido, por causa da existência das nossas tendências ao mal, que não poderão ser erradicadas de forma alguma. A nossa natureza humana pecaminosa seria uma perene, inalterável e inevitável ofensa a Deus. 

Se prosseguirmos, nessa equivocada linha de raciocínio, até sua conclusão, chegaríamos a outras complicadas suposições. Por exemplo: também o pai e a mãe do novo ser estariam ofendendo a Deus ao gerar mais uma natureza humana: estariam gerando um pecado. 

E, como é o próprio Deus quem dá vida ao novo ser, Ele estaria ofendendo-Se a Si mesmo. E isso desde o início até o fim da existência humana. Nós seríamos o pecado e seríamos um pecado sem solução.

Existiria culpa em nós, mesmo antes de podermos compreender e tomar decisões sobre o certo e o errado. Deus estaria sendo ofendido, e nosso estado pecaminoso nos condenaria, antes mesmo de concordarmos ou cedermos, conscientemente, à tendência ao mal. 

Consequentemente, tudo o que o homem poderia fazer, seria pecar e continuar pecando, sem qualquer  alternativa, pois sua natureza humana continuará com ele, até o final de sua existência terrena. Parafraseando esse equivocado conceito, quanto ao que seria pecado, então haveria ofensa a Deus em nós, enquanto possuirmos a natureza com tendências ao mal.

Se o fato de ser tentado – através de maus pensamentos ou maus desejos – já se constituísse pecado, o homem seria facilmente levado ao desânimo. Como lhe é impossível impedir que eles surjam na sua mente, ele poderia concluir: “Bem, se já pequei só por me ter vindo um pensamento ou um desejo mau, agora seguirei adiante, cedendo a ele e consumando o ato. Se já terei que pedir perdão de uma coisa, pedirei logo de duas”.

Percebe algumas das armadilhas nesse ensinamento, que, em verdade, é um compromisso com o pecado? Que pena que tais conclusões tenham sido aceitas por esses que, dizendo-se cristãos, as defendem com muito empenho. 

Por desejo entenda-se não a intenção de agir, isto é, a decisão já tomada: ‘eu quero fazer isto’ ou, ‘eu vou fazer aquilo’, mas tão somente o impulso, a tendência, a inclinação a fazer. Por exemplo: “sinto o desejo de fumar, mas não quero satisfazê-lo pois que seria uma ofensa a Deus, visto ser prejudicial à saúde”. Nesse caso não haveria ainda a intenção de agir: não haveria ainda a decisão de praticar o ato. Assim, o simples desejo, o impulso não é ainda pecado.

Uma crença ofensiva a Deus

A crença de que pecado é aquilo que somos – a nossa natureza, gerada com tendências ao mal – é conhecida como a doutrina do pecado original. Nela ensina-se que o homem seria culpado – e condenado ao inferno – mesmo antes de qualquer escolha consciente entre o bem e o mal. 

Seria culpado, e estaria condenado ao fogo da segunda morte, sem mesmo ter, conscientemente, consentido com o mal. Seríamos culpados apenas por sermos descendentes de Adão; porque, obviamente, foi dele que herdamos a natureza com tendências ao mal, pecaminosas. 

Como não somos responsáveis pelo nosso nascimento, Deus nos consideraria culpados por algo inteiramente alheio à nossa responsabilidade. Seria Ele justo, se assim agisse? Como se percebe, essa linha de pensamento retrata o nosso Criador – justo, amoroso e misericordioso – com os atributos do inimigo de Deus. E é isso que acontece com toda sorte de heresia.

Essa crença expõe, assim, a Deus como um Ser injusto, arbitrário e cruel. 

Está equivocada, pois desfigura Seu caráter, sendo-Lhe, por isso, ofensiva. Sabe-se que toda doutrina equivocada traz, em seu bojo, uma ofensa a Deus.

Alguns disfarces

Esse ensinamento tem diversas ramificações. Nem sempre é apresentado, direta e abertamente, como pecado original ou à culpa original. Seus defensores valem-se também de diversas sutilezas e subterfúgios, e o definem de maneiras diferentes e disfarçadas. 

Às vezes, sustentam mesmo descrer no pecado original ou na culpa original; mas, simultaneamente, afirmam que ‘há culpa nos maus pensamentos ou nos maus desejos’, o que equivale a crer na culpa original.

Servem-se também de contradição. Enquanto afirmam descrer no pecado e culpa originais, asseguram que já há pecado mesmo nas hereditárias tendências ao mal, as quais, obviamente, são oriundas da nossa natureza humana, originárias de nosso ego. E isso equivale a crer no pecado ou na culpa originais! Percebe o equívoco, o disfarce, a contradição? 

Ensinos antibíblicos

Eis algumas outras destas declarações, que lançam opróbrio e infâmia sobre o caráter de Deus:

“Declara-se que o pecado existe no ser [humano] antes de sua própria consciência dele”.  

“Há pecado no desejo de pecar”. 10

“É declarado que o pecado existe no ser [humano], antes de nossa consciência dele”. 11

“Há culpa nos maus desejos, mesmo quando resistidos pela vontade”. 12

“Pecado é nossa natureza maligna herdada e todos os seus frutos”.13   

“Herdamos a culpa de Adão”.  

Colhendo conclusões errôneas 

Tal equívoco, no diagnóstico da doença espiritual – o pecado – certamente conduzirá a subsequentes conclusões errôneas. Se aceitarmos um equivocado diagnóstico da doença, como se administraria o acertado remédio? 

Quando o homem deixaria de ser culpado perante Deus? Tão somente após ter-lhe sido removida a sua natureza humana, que, obviamente, continuará com  tendências e inclinações ao mal. Como ela será removida apenas no dia da volta de Jesus, todos nós haveríamos de viver em constante estado de pecado e de culpa.

Ficaria, dessa maneira, inteiramente descartada a possibilidade de os homens, nesta vida, serem ‘... perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está no céu’ (Mt 5.48); pois estariam sempre à mercê do pecado e da culpa, oriundos de suas tendências ao mal, desejos e pensamentos pecaminosos. 

Continuariam sendo sempre quais joguetes nas mãos do inimigo. E eles nem mesmo deveriam almejar atingir a ausência da prática de pecado, isto é, a perfeição de caráter. Não deveriam nem mesmo sonhar em vencer toda e qualquer tentação ao pecado, visto que eles mesmos seriam o próprio pecado. Estaríamos condenados a viver em pecado. Que doutrina diabólica!

O homem – mesmo após ter aceitado a Jesus como Salvador – estaria ainda numa posição confessadamente constrangedora: continuaria ainda satisfazendo a perversa vontade de Satanás, sendo-lhe ainda um servo. 

Sem a mínima esperança de vitória, alegaria ser ‘servo de Cristo’, mas permaneceria – por toda a vida – como ‘servo do inimigo’. “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes como servos para obedecer-lhe, servos sois daquele a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Rm 6.16 - KJ). 

Se a nossa natureza humana fosse mesmo pecado, estaríamos diante de um pecado impossível de ser erradicado de nossa vida. Pode? O cristão diria que ‘é para guardar os mandamentos de Deus’, mas ele mesmo estaria convicto de que seria uma realização supostamente impossível. E qualquer esperança ou tentativa de obtenção de perfeição moral passariam a ser qualificadas como legalismo, indigesto perfeccionismo, uma suposta negação da Justiça pela Fé.

Mas, de acordo com Mateus 25.4, é possível, sim, ter ‘azeite na vasilha’, isto é, a perfeição moral é possível! Pergunta-se, então: da mente de quem procedeu a afirmação de que ela é impossível? Quem está por trás desse ensinamento que deveríamos ‘pecar e pedir perdão ... pecar e pedir perdão’, interminavelmente? Bem se percebe que se trata de um conceito satânico.

Ora, o que significariam estas declarações bíblicas? “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36 - KJ); “Ora, Àquele que é poderoso para impedir-vos de cair” (Jd 24 - CF; “Porque tudo posso no Cristo que me fortalece” (Fp 4.13). Somos assim estimulados a esperar que, pela Sua graça, pelo Seu divino poder, nos seja possível obter completa e perfeita vitória sobre todas as tentações, sobre as tendências ao mal, sobre o ego, sobre o pecado. 

Na realidade, para os adeptos da doutrina de que pecado é nossa natureza, a Justiça pela Fé não passaria de uma capa para encobrir pecados não erradicados de suas vidas. – Como poderíamos erradicar a nossa natureza humana inclinada ao mal? –, perguntam. 

Realmente, erradicar de nós a natureza humana com tendências ao mal é um feito impossível de ser realizado nessa vida, isto é, antes da volta de Jesus visto que ter natureza pecaminosa não é ainda pecado!

Observe, agora, como esses consideram que a perfeição moral seria não somente impossível, mas também desnecessária, em razão de nos ser creditada [imputada] a vitória de Cristo:

“Olhando para o trabalho vicário de Cristo, podemos gritar triunfantemente, ‘Nós vencemos!’ Imagine um rio tempestuoso que devemos passar a fim de sermos salvos. A traiçoeira torrente impetuosa bate nas rochas mortíferas e desafia qualquer esperança de a atravessarmos a nado. 

Então vem um poderoso atleta que toma o nosso partido sobre si próprio. Ele mergulha e luta para chegar à outra margem. Às vezes parece que certamente vai sucumbir nas águas borbulhantes e rochosas. Finalmente, ele se ergue no barranco do outro lado e levanta seu braço numa saudação de vitória. 

 “Agora Cristo não é como alguém que fica do outro lado e grita: – ‘Eu mostrei a vocês como fazê-lo. Agora mergulhem e façam como Eu fiz’  .Quando Ele  cruzou o rio da morte e da destruição, nós estávamos nEle, e Ele carregou a humanidade nEle mesmo. Nós triunfamos nEle. Isso é o [falso] Evangelho”.  

E, assim, ensina-se que, pelo fato de nos ser imputada [creditada] a vitória de Cristo, ficaríamos dispensados de, pela graça [favor e poder de Deus], obtermos também nós a vitória sobre o nosso ego. Por não ter sido egoísta, Jesus aprovaria que os cristãos vivessem egoisticamente?! 

Seria, por acaso, possível ser feliz e egoísta, simultaneamente? Os adeptos desse errôneo ensinamento supõem mesmo que a completa vitória sobre o nosso ego seria não apenas impossível, mas também desnecessária.

Um ‘evangelho’ equivocado

Aceitar que a nossa natureza humana se constitua em pecado – seja voluntário ou involuntário – é fruto de má compreensão da Palavra de Deus. Iludiria o homem numa falsa segurança: esperando ter parte na vida eterna, mesmo continuando a transgredir a Lei. 

Se alguém aceitar tal doutrina, inevitavelmente será conduzido à mornidão (Ap 3.16). Continuaria crendo que permaneceria sendo escravo do ego, dos vícios, dos defeitos de caráter e das tentações e que não haveria qualquer possibilidade de se livrar dessa triste situação. Portanto também essa doutrina está inclusa nesta classificação de Paulo: “terão aparência de reverência a Deus, mas estarão distantes do poder de Deus” (2 Tm 3.5). 

Então, quanto a esse ‘evangelho’, que define pecado como natureza, na verdade, não se deve nunca cometer o equívoco de admiti-lo na categoria de ‘Evangelho eterno’ (Ap 14.6). 

Apenas faz parte do que se intitula ‘outro evangelho’ (Gl 1.8-9 - KJ), que, de fato, não é Evangelho algum, já que existe apenas um único Evangelho bíblico. A palavra ‘Evangelho’ vem do grego euaggélion e significa ‘boa-notícia’, ‘alegre-nova’ ou ‘feliz-novidade’; mas esse equivocado ‘evangelho’ não passa de uma ‘triste’, ‘infeliz’ ou ‘mánotícia’. Há, entretanto, outro caminho, de fato, bem excelente. Vamos a ele?

(b) PECADO COMO ESCOLHA 

Tendo visto a maneira equivocada de se definir pecado, passemos agora a considerar a outra linha de pensamento, que define o que é pecado acertadamente, isto é, conforme o conceito bíblico e que nos conduzirá ao póslapsarianismo. 

Para entendê-lo bem, necessitamos de uma especial orientação divina. Então, oremos juntos: “Pai bondoso, Te rogamos que Teu Santo Espírito nos ilumine a fim de compreendermos este, que é o tema fundamental para se chegar ao verdadeiro e único Evangelho. Em nome de Jesus. Amém”.

Destaquemos, pois, o assunto mediante nove perguntas:

· Somos culpados por causa do pecado de Adão? Não!

· Somos culpados porque nascemos como descendentes de Adão? Não!

· A natureza decaída, com tendências ao mal, que herdamos de Adão, por si só já nos tornaria indignos da confiança divina? Não!

· Somos culpados porque nascemos com aversão à verdade e à virtude? Não!

· Somos culpados porque sentimos natural atração ao pecado, como o ferro sente-se atraído ao ímã? Não!

· Está Deus realmente sendo ofendido a partir do instante em que Ele próprio dá vida ao novo ser humano? Não!

· Há culpa nos desejos ou pensamentos maus, quando não são acariciados, mas afastados como odiosos? Não!

· Há pecado, mesmo que involuntário – que não gera culpa – nas tendências hereditárias ao mal? Não!

Da parte dos cristãos, nada além de um bem sonoro NÃO deve continuar sendo a resposta a todas essas perguntas!

· Tornamo-nos culpados quando, conscientemente, escolhemos fazer algo  contrário à vontade de Deus, a exemplo de Adão? 

Sim! É aqui, e exclusivamente aqui, onde se origina e onde reside a nossa culpa. É apenas aqui onde, realmente, ofendemos a Deus; apenas quando, conscientemente, preferimos os métodos de Seu inimigo é que nos tornamos culpados. 

Frisemos este fato: Ser tentado não é pecado. Jesus foi tentado e nem por isso ofendeu a Deus. Como, acertadamente, Martinho Lutero se expressou: “Não podemos impedir que os pássaros voem sobre as nossas cabeças, mas podemos impedir que façam ninhos sobre elas”.

Livre-arbítrio

Deus pagou um altíssimo preço – a vida de Seu único Filho na cruz – por ter concedido, a cada um de nós, o livre-arbítrio, a liberdade de escolha. Pecado não se origina no que o homem é; mas, sim, naquilo que o homem escolhe. Ocorre tão somente, quando consentimos com algo que é mau, mas que julgamos desejável, ofendendo a Deus, rompendo, dessa maneira, a nossa relação de amor, de respeito, de temor, de amizade e de companheirismo com Ele. 

“Pecado é transgressão da Lei” (1 Jo 3.4 - KJ). Não é a separação de Deus. Pecado é o que causa a separação: “Contudo, as vossas iniquidades têm feito separação entre vós e vosso Deus ...” (Is 59.2 - KJ). 

Transgressão ou pecado que gera culpa, é produto de uma mente inteligente, que rende sua vontade ao serviço de Satanás. Ofendemos a Deus quando, conscientemente, discordamos de Sua expressa vontade. Somente criaturas com raciocínio e capacidade de escolha podem, em sã consciência, desobedecer, rebelar-se, transgredir, ou seja, cometer pecado que gera culpa.

O grande conflito entre Deus e Satanás é pela lealdade de mentes pensantes. Mediante nossa vontade, nosso poder de escolha, decidimos a quem servir: se a Deus ou se a Satanás. Ao escolhermos aquilo que o diabo aprecia, rendemos nossa vontade a ele e assim, depreciamos e ofendemos ao Senhor, por preferirmos o método satânico ao divino.

Pecado é uma escolha pessoal de colocar sua máquina de pecar – a natureza humana – em funcionamento, contra a expressa vontade de Deus. Pecamos também quando escolhemos não praticar uma boa ação conhecida. “Portanto, aquele que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4.17 - KJ). 

Pecamos quando, com a nossa vontade, acariciamos o desejo de fazer o mal ou quando escolhemos permitir que nossos desejos, tendências, paixões, propensões e apetites pervertidos, oriundos de nossa natureza humana caída – a carne com tendências ao mal – se expressem em nossa vida. 

É fato que nascemos com tendências a praticar o mal – que herdamos de Adão – as quais nos impelem, incessantemente, à maldade; mas são elas pecado? Não! Somos culpados por elas? Não! Somos culpados apenas a partir do momento em que, conscientemente, consentimos com elas. 

Luta por mentes pensantes

Deus não foi o autor do mal. Previu-o porém, e fez provisão para ele, desde os dias da eternidade. Jesus sofreu e angustiou-Se pelos seres caídos, antes mesmo de os criar; no entanto, sabendo que Lúcifer, um terço dos anjos e a humanidade iriam pecar, por que criá-los? Bem, nenhum ser humano sabe explicar como se originou o mal. Como, num ambiente de puro amor altruísta, surgiu o egoísmo? Nenhum de nós tem essa resposta.

Deus não o revelou; possivelmente porque não temos capacidade para entender. Sabemos, entretanto, que a luta passou a travar-se, não propriamente num campo físico, mas nas mentes dos seres pensantes.

É verdade que ‘houve então uma guerra nos céus’ (Ap 12.7), mas o local, onde se travou a batalha, foi primordialmente nas mentes dos seres pensantes. 

Satanás ‘foi lançado à terra, e os seus anjos foram lançados com ele’ (Ap 12.9 - KJ); todavia, a grande luta continua, desde então, até hoje, principalmente nas mentes dos seres racionais, caídos e mesmo na mente daqueles anjos e demais entes racionais do céu. 

Quais são os métodos usados? O do inimigo é, inescrupulosamente, o de mentir, insinuar, seduzir, coagir, agredir para, depois de cada pecado, escarnecer de Jesus e procurar nos levar ao desânimo e ao desespero.

Já o método divino é o de respeito às nossas decisões conscientes. Por quê? Porque ‘o livre-arbítrio é um templo sagrado que Deus jamais violará’. Assim Ele, respeitosamente, acata as nossas decisões. 

Dizemos que Deus pode fazer tudo; mas violar o livre-arbítrio humano é algo que Ele não pode fazer. Porque contraria Sua natureza, Seus intentos e desejos de ter um Universo onde haja respeito, paz, harmonia e espontânea obediência por amor. E o verdadeiro amor nasce e se desenvolve apenas onde não há coação e imposição arbitrária.

Temos, assim, que a grande disputa, entre Cristo e Satanás, não é uma guerra de armas bélicas físicas; antes, trata-se de uma luta pelo domínio da nossa mente, do nosso cérebro, por nossas decisões conscientes, que tomamos, a partir de impulsos mentais para o bem ou para o mal.

‘Em pecado’, não ‘Em culpa’

A Palavra de Deus não se contradiz. Ela afirma: “... o filho não carregará a iniquidade do pai” (Ez 18.20 - KJ). Logo, não herdamos nem o pecado, nem a culpa de Adão; e, consequentemente, não há culpa nos desejos ou pensamentos maus, oriundos de nossa natureza humana, desde que, pela graça de Deus, não venhamos a ceder a eles, mas que os afastemos por nos serem odiosos. E, igualmente, as tendências hereditárias à prática do mal, absolutamente, não são pecado e, tampouco, geram culpa.

Então, quando Davi expressou-se: “Eis que fui moldado na iniquidade, e em pecado minha mãe me concebeu” (Sl 51.5 - KJ), ele não estava confessando que nasceu com a culpa do Adão. Nasceu ‘em pecado’ e não ‘em culpa’. Os que entendem que Davi – ou qualquer outro – tenha nascido em culpa, estão admitindo que haveria contradição na Palavra, coisa impossível de suceder.

A única possibilidade que nos resta, então, é concluir que a expressão ‘em pecado’ significa: ‘sob a lei do pecado’, isto é, sob a tendência egoísta natural, com inclinação ao mal. Nascemos afetados pelo pecado de Adão, isto é, sob o domínio da lei do egoísmo e sujeitos à primeira morte; todavia, não nascemos infectados por aquele pecado ou seja, não nascemos com qualquer culpa.

Pecado voluntário e involuntário

Existem duas formas de transgressão: voluntária e involuntária. O pecado voluntário é conscientemente agir de modo contrário à vontade de Deus, ou escolher se manter na ignorância, de forma intencional ao se recusar examinar ou aceitar nova luz, novo esclarecimento. 

A transgressão voluntária, consciente, é rebelião contra Deus, ofende ao Senhor e resulta em culpa, pela qual Ele nos considera, pessoalmente, responsáveis. Toda ação consciente é precedida de decisão mental.

O pecado involuntário – pecado por ignorância – é agir contrariamente à vontade de Deus antes da idade da responsabilidade, ou, por ignorância após a idade da razão, não sabendo que era pecado, por falta de informação, de discernimento ou de reflexão. 

O verdadeiro pecado por ignorância real ou involuntário, não é rebelião contra Deus. Não resulta em culpa ou responsabilidade pessoal. O sangue de Cristo expia, automaticamente, todo pecado involuntário. Ninguém é considerado culpado por pecado involuntário, visto não haver consciência dele. 

Se alguém não tem consciência, de que o que vai praticar é algo mau, estaria ofendendo a Deus? Seria culpado perante Ele? Seria, por isso, considerado indigno de Sua confiança? Obviamente não.

Mal e culpa

Vamos aprofundar mais a nossa compreensão do que é pecado. Estabeleçamos, mais detalhadamente, as diferenças entre mal e culpa. Quando um leão mata sua presa e tira-lhe a vida, isso é mal; mas ninguém lhe atribui culpa por tratar-se de ser irracional que está cumprindo seu papel de sobrevivência, valendo-se da cadeia alimentar. 

O salmista nos assegura: “Alienam-se os ímpios desde a madre [ventre materno]; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras” (Sl 58.3 - CF). Por ainda não saber como lidar com sua natureza humana pecaminosa, o bebê, involuntariamente, cede às suas tendências ao mal, desde bem cedo na vida. Entretanto, enquanto sua consciência estiver em formação, não é culpado por seus maus atos.

Se uma criança de três anos disparar uma arma, poderia matar sua própria mãe: isso seria mal. Entretanto, não lhe atribuiríamos culpa, em razão de sua idade. Já se a arma tivesse sido manuseada por um adulto, pode-se questionar se, além do mal, houve também culpa. 

A culpa provém de um mal praticado por alguém conscientemente responsável. Se não houver prévio conhecimento de que era mal, não há culpa. Consideramos o mal como um resultado normal do pecado de Adão. Já quando há culpa, aplica-se uma penalidade. 

Como resultado normal do pecado de Adão estamos sujeitos à lei do egoísmo e à primeira morte, chamada de sono na Bíblia. (Jo 11.11-14; 1 Ts 4.13-15; Is 26.19). Como penalidade – devida aos nossos pecados e culpas – estamos sujeitos à segunda morte (Ap 2.11; 20.6, 14).

A ira de Deus

Participar da segunda morte envolve bem mais consequências do que apenas deixar de existir eternamente. O que causará agudo desespero e tremenda aflição ao ímpio, não será tanto a dor física quanto a dor mental, moral. Essa causará uma angústia tão intensa, que ele mal sentirá a dor física. 

Quando Jesus, no Getsêmani, sentiu a ira de Deus, devido aos pecados de toda a  humanidade, “o Seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue” (Lc 22.44 - KJ) e fez com que clamasse: “Pai Meu, se é possível, passe de Mim este cálice ...” (Mt 26.39). 

Ele não estava Se referindo à cruz, e sim à segunda morte, que implicaria no desagrado e na separação eterna de Deus. Estando nessa situação, em menos de vinte horas, Seu coração não resistiu e rompeu-se, conforme lemos em  João 19.34: “E um dos soldados Lhe feriu no Seu lado com uma lança, e logo saiu sangue e água”.

A ira de Deus significa apenas que Ele permitirá que o ímpio colha as inevitáveis consequências de suas próprias ações e não que Ele ficará nervoso, nem que irá, intencionalmente, infligir mais dor ao já infeliz. Deus é amor. 

E o amor se constitui de misericórdia e justiça. A justiça, no caso, não significa que Ele, de forma deliberada vai fazê-lo sofrer mais do que já está sofrendo. O que entendemos como ‘Deus fazer justiça’ é, simplesmente, Ele anuir com a má escolha consciente do pecador e as decorrentes consequências.

Infligir, propositadamente, mais dor e mais aflição a um outro ser é uma atitude maligna. Não faz parte do caráter do nosso Deus. Ele não é revanchista, nem vingativo, nem fica nervoso e nem Se irrita. Não! Isso não condiz com Seu caráter de amor. Ao final, será o próprio ímpio quem almejará a própria destruição, como único meio de evadir-se da indesejável presença do Criador, cuja presença é indescritivelmente insuportável para ele. 

De sorte que será um ato de misericórdia, da parte de Deus, consentir que o inevitável e irreversível sofrimento do ímpio cesse, tenha fim. É isso o que se conhece como a justiça divina em ação. Deus sempre é misericordioso. “Deus é amor” (1 Jo 4.8). Ao exercer justiça, mesmo em relação aos ímpios, a Satanás e aos seus anjos maus, Ele o fará por amor, anuindo com a escolha deles próprios. Ademais, haverá mesmo lágrimas em Seus olhos, nessa ocasião.

A maneira de Deus tratar com o pecador não é: “Ou você Me ama ou Eu te mato”. Antes é: “Eu tenho o Remédio para sua doença. Você crê que Ele é eficaz? Aceita-O? Se não O aceitar, nem quiser tomá-Lo, infelizmente sua doença vai liquidar sua vida”. 

Em Malaquias 3.6 (KJ) lê-se: “Eu sou o SENHOR, Eu não mudo”, e as lágrimas de Jesus sobre Jerusalém – Lucas 19.41 – nos atestam qual é a atitude do Criador quando é injuriado, desprezado e preterido pelos pecadores. Mesmo por ocasião da segunda morte, Ele continuará sendo ‘... benigno para com os maus e os ingratos’ (Lc 6.35). 

O fato de Ele consentir com a escolha do ímpio, destruindo-se, é relatado em Isaías 28.21 (KJ) como Sua ‘obra estranha’, por ser contra Sua natureza amorosa consentir com a eliminação dos ímpios.

Lemos como Deus agiu no caso do dilúvio, de Sodoma e Gomorra, de Coré [Datã e Abirã], etc. Entre as diversas alternativas, Ele sempre escolheu a que produziria o menor malefício. No caso da segunda morte, o suplício cruel aos ímpios seria forçá-los a viver num ambiente, para eles, detestável e insuportável. Será um ato de amor a Sua anuência pela não-existência deles.

Então, ‘o ato estranho’, a ira de Deus é, tão somente, o fato de Ele consentir com a própria escolha dos ímpios, pois, como dissemos, Ele não é vingativo nem cruel. 

Até os próprios ímpios podem confiar na benignidade do ‘Pai das luzes, em Quem não há mudança nem sombra de variação’ (Tg. 1.17 - KJ), mesmo por ocasião da segunda morte. Ele continuará sempre fazendo apenas o bem, pois “Deus é amor” (1 Jo 4.16). E amar é fazer o bem incondicionalmente!

O Inferno – uma visão do amor de Deus 

Por ter desenvolvido hábitos egoístas, contrários à vontade de Deus, o ímpio se sentiria muito mal no céu. Seu ambiente de amor altruísta seria uma tortura, um suplício para ele. Faria tudo o que lhe fosse possível para ausentar-se de lá. Preferirá a própria destruição a permanecer na presença de Jesus. Ele mesmo, espontaneamente, escolherá a própria exclusão do céu.

Ao permitir a segunda morte dos ímpios, Deus estará anuindo com a própria escolha feita por eles. Será um ato de amor, de misericordiosa justiça consentir que um problema, insolúvel e irreversível, chegue ao seu término.

Ao comparar os maldosos feitos da própria vida – por ter recusado o plano da salvação, provido por Deus Pai a um custo tão elevado – com a atitude e o caráter do Criador, todo ímpio reconhecerá que Deus sempre foi justo e amoroso com ele, e que ele, pela própria escolha, consciente e voluntária, preferiu os caminhos da maldade, inabilitando-se ao céu.

Mesmo Lúcifer e seus comparsas reconhecerão a justiça e a bondade de Deus: “todo joelho se dobrará diante de Mim, e toda língua confessará a Deus” (Rm 14.11 - KJ). Esse confronto vai “convencer todos os ímpios entre eles, por todos os seus atos impiedosos, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra Ele” (Jd 15 - KJ).

O ímpio se sentirá condenado por ter recusado a salvação e os meios pelos quais poderia ter-se libertado do domínio do mal e o confessará de público. 

Quanto maior o número e a gravidade dos pecados cometidos, tanto mais demorada será a autoanálise da própria vida, por parte de cada um dos ímpios, a fim de reconhecerem a ampla justiça e incondicional amor de Deus.

Essa análise – confrontando o comportamento e atitude de Deus com os do pecador obstinado – será, para ele, uma terrível tortura, que durará proporcionalmente à quantidade de luz recusada e à gravidade do mal praticado; daí porque o suplício de uns durará mais do que o de outros. Obviamente, a autoanálise, que mais demorará, será a de Lúcifer. 

“Alguns são destruídos em um momento, enquanto outros sofrem muitos dias. Todos são punidos segundo as suas ações. ... Satanás ... Seu castigo deve ser muito maior do que o daqueles a quem enganou”. 17

Feito o confronto da pertinaz e constante determinação, e consciente teimosia em recusar a salvação, ocasionando toda sorte de proposital maldade, com os atos de amor e misericórdia divinos, Deus permitirá que o próprio senso de culpa de cada um deles os liquide: “... Eu farei sair um fogo do teu meio, ele te devorará, e te trarei às cinzas sobre a terra  ...” (Ez 28.18 - KJ).

Esse ‘fogo’ é o real senso de culpa. Não que Deus, a propósito, tome a iniciativa de exterminá-los. Ele não vai torturar, nem vai fazer sofrer ou matar alguém, de modo intencional. “Os pecadores em Sião estão com medo. Pavor tem surpreendido os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o Fogo devorador? Quem dentre nós habitará com as Chamas eternas?” (Is 33.14 - KJ). 

“Porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb 12.29 - KJ). Um ser em pecado não pode continuar vivo na presença do ‘Fogo Consumidor’. “Não poderás ver a Minha face, porque ninguém pode Me ver e viver” (Êxodo 33.20). 

Assim, como uma roupa, encharcada com gasolina, incendeia-se e queima ao aproximar-se do fogo, também os ímpios, na presença de um Deus santíssimo, serão liquidados por seus pecados. “E o forte será como estopa, e o que fez como uma fagulha [faísca]. Ambos queimarão juntos e ninguém os apagará” (Is 1.31 - KJ).

Deus não tem como evitar as consequentes tortura e morte, que sobrevirão aos ímpios, porque essa foi a escolha deles próprios, e Ele a respeitará. 

O respeitar a escolha de morte, feita pelos ímpios, é um ato de amor, por parte de Deus, permitindo que um ‘fogo’ – senso da culpa – saia de dentro deles, e os consuma; pois, que sentido faria continuar vivendo, quando a única coisa que poderiam extrair da vida seria mais dor, avolumada angústia, ampliada miséria e maior sofrimento para si próprios?

Na verdade, se a vida dos ímpios continuasse, seria uma tortura, uma agressão e um terrível suplício para eles. Obrigá-los a permanecer num ambiente de puro amor, quando seus hábitos inalteráveis são de ódio, egoísmo e vícios, seria mau. Muito mau! Seria uma perversidade.

Como o mal se transforma em culpa

O que possibilita que o mal se transforme em culpa é o saber, o conhecimento prévio, o esclarecimento da consciência. “De fato, até antes da ,lei, existia o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado se não houver lei”; “ao passo que onde não há lei, também há transgressão” (Rm 5.13; 4.15 - EP). 

“Eu não aprenderia o que é o pecado se não fosse pela lei; porque eu não teria consciência do que é a cobiça se a lei não dissesse: NÃO COBIÇARÁS. ... porque sem a lei o pecado estava morto [não existia]” (Rm 7.7-8). 

Como se vê, não somos culpados de pecado, se não houver consciência dele. Para haver ofensa ao Senhor, para que Ele considere alguém indigno de Sua confiança, é imprescindível que haja antes uma consciência esclarecida, que concorde em praticar o mal, que decida fazer a vontade de Seu inimigo.  

“Se Eu não viesse nem lhes tivesse falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa por seus pecados. ... Se Eu não houvesse feito diante deles as obras que nenhum outro fez, não teriam pecado, mas agora certamente viram, e Me aborreceram tanto a Mim como a Meu Pai” (Jo 15.22-24). Logo, pecado não é natureza; não é o que somos. Antes, pecado é uma escolha consciente e maldosa. 

O que nos torna culpados do próprio mal? É o conhecimento, o consentimento consciente! “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado, mas agora, porquanto dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece” (Jo 9.41). O que transforma, então, o mal em culpa é o fazer escolhas com plena compreensão, com consciente e claro conhecimento de que são contrárias à vontade de Deus. 

Mau desejo não é pecado, mas pode tornar-se, se ...

Em Tiago 1.14-15 (KJ), aprendemos como os maus desejos, a cobiça, a concupiscência, as inclinações, e tendências ao mal – que não são ainda pecado – transformam-se em pecado, gerando culpa, apenas quando, mentalmente, cedemos a eles, apenas quando os aceitamos. “Mas cada homem é tentado, quando atraído e seduzido pela sua própria concupiscência. 

Depois, havendo a concupiscência concebido, gera o pecado”. O mau desejo ainda não é pecado, por isso, não gera culpa. Essa é gerada apenas quando consentimos. 

O simples fato de termos algum mau pensamento ou algum desejo pecaminoso não ofende a Deus. Tentação não é pecado. O fato de sermos tentados, através de nossas tendências ao mal, mediante desejos ou pensamentos maus, não é ainda uma ofensa a Deus. 

Ofendemo-Lo apenas quando, conscientemente, consentimos, acariciamos,  nutrimos ou cedemos ao mau pensamento. Apenas quando acatamos e cedemos ao mau desejo, de modo racional, é que pecamos em pensamento, em nossa mente e, como resultado, nos tornamos culpados. 

Uma coisa é o pensamento, a ideia, a tendência, a inclinação, o desejo; outra coisa é a intenção, o propósito, o desígnio, a decisão. Na primeira não há pecado; já na segunda, há. 

Se alguém se dirige ao supermercado tendo a intenção de comprar frutas, é porque, em sua mente, já decidira comprá-las. Jesus afirmou: “Eu, porém, vos digo: Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela” (Mt 5.28 - RA). Olhar, sem a intenção impura, obviamente, não é pecado.

Assim, é evidente que, na ‘intenção impura’ referida por Cristo não havia apenas um desejo mau ou um pensamento impuro. Não! Na ‘intenção impura’ – além do desejo mau ou do pensamento impuro – houve também a decisão consciente de praticar o adultério. Na mente do homem, o ‘mau desejo concebeu, dando à luz o pecado’, ou seja, ele, conscientemente, cedeu ao mau desejo, concordou com ele, decidiu praticar o ato. Antes mesmo de praticá-lo, ‘no seu coração’ já adulterou. Pecou em pensamento.

Entretanto, se, ao vir pensamento mau ou desejo impuro, a pessoa o tivesse, pela graça de Deus, afastado como odioso, é certo que não teria ‘adulterado com ela no coração’. Pecado, que é ofensivo ao Senhor e nos torna culpados, é apenas quando, em nossa mente, escolhemos, conscientemente, aquilo que sabemos ser contrário à vontade de Deus e, portanto, ofensivo.

Um comentário muito interessante

“Primeiramente, é importante não confundir pecado como um princípio de ação e pecados como ação.

“1. Pecado Como um Poder e Pecados Como Ações

“A Bíblia estabelece importante distinção entre pecado, no singular, como o poder da tentação; e pecados, no plural, como atos transgressores da lei. Paulo, em especial, faz a diferença entre o que ele chama de ‘lei do pecado’, que o mantém ‘cativo’ (Rm 7.23), e ‘as obras da carne’, as quais ele relaciona (Gl 5.19-21; Tt 3.3).

“Em sua análise do homem ‘vendido sob o pecado’, Paulo especifica que o princípio do pecado vive nele, isto é, em sua carne. Esse princípio atua em seus membros, ‘guerreando contra a lei ...’ Assim, ‘quando quero fazer o bem, o mal está presente comigo’. ‘Pois o querer está presente em mim, mas o executar o bem eu não encontro’. Consequentemente, ‘já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim’ (Rm 7.14-23 - KJ).

“Paulo define o princípio que torna a humanidade ‘cativa [prisioneira] debaixo da lei do pecado’, usando várias expressões. Primeiro o chama de ‘inclinação da carne’ [phronema tes sarkos], opondo-se à ‘inclinação do Espírito’ [phronema tou pneumatos] (Rm 8.6 - CF). 

A palavra phronema inclui as afeições, a vontade, bem como a razão de alguém que vive de acordo com sua natureza pecaminosa ou de acordo com o Espírito (Rm 8.4 e 7). Paulo utiliza a expressão ‘a concupiscência da carne’ [epithumian sarkos] (Gl 5.16-17 CF), traduzida frequentemente pela palavra carne (Rm 1.24; 6.12; 7.7). 

Finalmente, a expressão ‘força do pecado’ [dunamis tes hamartias] (1 Co 15.56 - KJ) traduz bem o aspecto dinâmico do princípio que opera no homem e o torna escravo do pecado.

“Através dessas expressões Paulo não quer referir-se a ações de pecado, mas simplesmente às tendências da carne que impelem ao pecado. Essas são apenas inclinações, ainda não são pecados. Mas tais tendências naturais para a desobediência, herdadas de Adão, inevitavelmente se tornam pecados quando cedemos aos apelos delas”.

Jean R. Zurcher, Tocado por Nossos Sentimentos, capítulo 16, p. 288-289 [221].

Pecado é uma escolha maldosa e nos torna indignos da confiança divina

Como vimos anteriormente, ao criar os seres inteligentes, Deus os dotou com o livre-arbítrio. Lúcifer, no céu, escolheu desobedecer a Deus: foi expulso; dois terços dos anjos escolheram obedecer a Deus: permaneceram no céu; um terço dos anjos escolheram desobedecer a Deus: foram expulsos; Adão e Eva, no Éden, escolheram comer do fruto: foram expulsos. 

Desses todos, nenhum deles tinha natureza pecaminosa quando escolheu; mas todos usaram seu livre-arbítrio. Conclusão: Pecado não é natureza, mas, sim, escolha maldosa.

Como temos visto, na Bíblia, define-se pecado tão somente como escolha. Se o pecado for cometido de maneira consciente, voluntária: gera culpa. Se for cometido inconsciente, involuntário não gera culpa. Se alguém, inconscientemente, tem o hábito de praticar o mal, como o nosso justo Deus o consideraria indigno de Sua confiança? E se alguém tem o hábito de fazer algo, sabendo que é contrário à vontade do Senhor, como poderia ser julgado digno de Sua confiança? 

Conclusões das duas correntes: 

Pré-lapsarianismo Pós-lapsarianismo

Perfeição moral: Impossível. Não Perfeição moral: Possível. É-nos se pode ter ‘azeite em vasilhas’ (Mt possível ter ‘azeite em vasilhas’.

25.4); ; isto é, dominar o ego pela fé.

Justificação  pela  fé:  Justiça pela Justificação pela Fé: Justiça fé imputada e comunicada. Deus nos imputada: Deus tão somente nos declarando e nos tornando justos. declarando justos.

Cristo – caráter impecável em Cristo – teria assumido ‘carne natureza humana pecaminosa, isto santa’, isto é, sem tendências é, com tendências hereditárias ao hereditárias ao mal . mal; mas sem as cultivadas .

Pecado como natureza (o que somos). Pecado como escolha.

Vamos orar? “Querido Pai Celestial, muito obrigado por nos teres ensinado a diagnosticar corretamente a nossa doença espiritual. Em nome de Jesus. Amém”.

 Dennis E. Priebe, Face To Face With The Real Gospel, final do capítulo 1. Adaptado.

Apoio ao conteúdo deste capítulo

“Uma vida de rebeldia contra Deus incapacitou-os para o Céu. A pureza, santidade e paz dali lhes seriam uma tortura; a glória de Deus seria um fogo consumidor. Almejariam fugir daquele santo lugar. 

Receberiam alegremente a destruição, para que pudessem esconderse da face dAquele que morreu para os remir. O destino dos ímpios se fixa por sua própria escolha. Sua exclusão do Céu é espontânea, da sua parte, e justa e misericordiosa da parte de Deus”.   

“Os homens frequentemente cometem erros por ignorância ou falta de discernimento. Em muitos casos não há erro premeditado; ele é causado por falta de reflexão. Aquele que trata isto como pecado é ele mesmo um pecador. Existe em muitos forte imaginação que os torna ofensores por uma palavra ou ação. Frequentemente, porém, aquele que é julgado, é inocente à vista de Deus”.  

“Sem o consentimento próprio, ninguém poderá ser vencido por Satanás. O tentador não tem poder para governar a vontade ou forçar a alma a pecar. Pode angustiar, mas não contaminar. Pode causar agonia, mas não o aviltamento”.    

“Não seremos considerados responsáveis pela luz que não atingiu nossa percepção, mas pela luz a que resistimos e que rejeitamos. Um homem não poderia compreender a verdade que nunca lhe foi apresentada, e não pode, portanto, ser condenado pela luz que nunca teve”. 

“A verdade que atingiu seu entendimento, a luz que brilhou na alma, mas que foi negligenciada ou rejeitada, condená-los-á. Aqueles que nunca tiveram luz para rejeitar não estarão sob condenação”.   

“A luz manifesta e condena os erros que se ocultavam nas trevas; e, ao chegar a luz, a vida e o caráter dos homens devem mudar correspondentemente, para com ela se harmonizarem. Pecados que eram outrora cometidos por ignorância, devido à cegueira do espírito, já não podem continuar a merecer condescendência sem que se incorra em culpa”.   

“O cristão sentirá as sugestões do pecado, pois a carne cobiça contra o Espírito; mas o Espírito luta contra a carne, mantendo um constante conflito”.     

“Há pensamentos e sentimentos sugeridos e despertados por Satanás que molestam até mesmo o melhor dos homens; mas, se esses não são acariciados; se são reprimidos como odiosos, a alma não é manchada pela culpa e ninguém é contaminado por sua influência”.     

“Tentações e provas nos virão a todos, mas não precisamos nunca ser derrotados pelo inimigo. Nosso Salvador venceu em nosso favor. Satanás não é invencível. ... Cristo foi tentado a fim de saber como ajudar a toda pessoa que houvesse de ser tentada posteriormente. A tentação não é pecado; este consiste em ceder. Para a pessoa que confia em Jesus, tentação significa vitória e maior resistência”.  


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