Capítulo 9: EXCERTOS DAS PUBLICAÇÕES OFICIAIS DA IGREJA II - (1916-1952)

tocados por nossos sentimentos


Capítulo 9 EXCERTOS DAS PUBLICAÇÕES OFICIAIS DA IGREJA - (1916-1952)

O ano de 1915 não apresentou qualquer mudança na interpretação da doutrina adventista da Encarnação. Todavia, ele marcou a morte de Ellen White. Com seu passamento, o último sobrevivente do grupo de pioneiros de 1844 desapareceu. Ellen White repetiu a ressonante advertência pouco antes do fim de sua vida: “Nada temos a temer do futuro, a menos que nos esqueçamos a maneira como Deus nos tem conduzido, e Seu ensino em nossa história passada.” 

Todos os documentos do período de 1916 a 1952 existentes trazem um testemunho uniforme da posição mantida pela igreja sobre a natureza humana de Jesus, a saber, que Ele tomou sobre Si mesmo a natureza de Adão após a queda; em outras palavras, natureza decaída, mas sem haver cometido um só pecado.

Excertos dos Periódicos da Igreja

Um índice contendo cerca de 200 declarações dos periódicos oficiais da igreja mostra que não houve qualquer variação nessa tradicional posição. Pastores, professores, editores, administradores, executivos da Conferência Geral, incluindo muitos presidentes, todos falaram em uníssono.

Em 6 de setembro de 1917, Joseph E. Steed escreveu na Review and Herald: “Foi necessário que Cristo tivesse uma experiência como a do homem, de forma a poder socorrê-lo em todas as suas tentações e também agir como seu intercessor... Já ficou demonstrado que esse Salvador tornou-Se um homem sujeito a todas debilidades da carne, nascido em carne pecaminosa; e enquanto nessa carne, sofreu como outros homens sofrem em seu conflito com o pecado.” 

O testemunho de R. S. Owen é também interessante: “A obra de Cristo na carne foi a condenação do pecado na carne. O pecado habita em nossa carne pecaminosa, e Cristo o condenou habitando na própria casa do pecado, mas nunca Se rendeu a clamores ilícitos e nunca respondeu a seus maus convites. Ele demonstrou que o homem pode conseguir com a ajuda de Deus, aquilo que o capacitará a viver na carne, e ainda viver para Deus.” 

Nesse mesmo mês, J. A. Rippey escreveu no periódico australiano Signs of the Times: “Nada, então, poderia estar mais claro do que ser essa espécie de carne que Davi possuía, a mesma que Jesus tomou. Quem foi Davi? Ele foi o filho de Jessé. Mas quem foi Jessé? Ele era filho de Rute. Rute era uma moça moabita, uma descendente de Moabe; e Moabe era filho de uma das filhas de Ló. Gênesis 19:36 e 37. Descobrimos do estudo dos ancestrais de Jesus que eles eram os mais obscuros da Terra, e desceram às maiores profundezas do pecado.”

“Quando Jesus nasceu, tomou sobre Si mesmo a carne pecaminosa após estar ela enfraquecida por cerca de 4.000 anos de iniqüidade. Ele poderia ter vindo de outra linhagem, mas proveio da mais fraca dentre as fracas, para que pudesse provar ao mundo que o homem nunca submerge tão fundo no pecado, que o poder de Deus não seja suficiente para habilitá-lo a viver uma vida vitoriosa. 

Ele ‘foi tentado em todos os pontos, como nós, mas sem pecado’ Heb. 4:15. Ele não foi apenas tentado, mas Suas tentações eram tão fortes que Ele sofreu quando era tentado. Hebreus 2:18. Embora Jesus tivesse em Sua carne todos os desejos que habitaram na carne de Seus antepassados, todavia Ele nunca, nem mesmo por uma só vez, cedeu ao pecado.” 

Em 22 de março de 1927, L. A. Wilcox publicou na Signs of the Times um artigo que discutia a questão: “Há esperança de vencer nossas herdadas tendências para o mal?” Ele responde recorrendo à genealogia de Jesus: “Eu estou feliz por causa dela [a genealogia de Cristo]. Pois ela me ajuda a compreender como Ele pôde ser ‘tocado pelo sentimento’ de todas as minhas enfermidades. 

Ele veio até onde eu estava e ficou em meu lugar. Em Suas veias estava o incubo de uma hereditariedade corrompida, como um leão enjaulado sempre buscando atacar e destruir. Por 4.000 anos a raça viera se deteriorando em força física, poder mental e dignidade moral; e Cristo tomou sobre Si as fraquezas da humanidade em seu pior estado. Apenas assim poderia Ele resgatar o homem das mais baixas profundidades da degradação.” 

Então Wilcox cita em apoio à sua declaração uma passagem de Ellen White, extraída do livro O Desejado de Todas as Nações: “Se tivéssemos, em certo sentido, um mais probante conflito do que teve Cristo, então Ele não estaria habilitado para nos socorrer. Mas nosso Salvador Se revestiu da humanidade com todas as contingências da mesma. Tomou a natureza do homem com a possibilidade de ceder à tentação. Não temos que suportar coisa nenhuma que Ele não tenha sofrido.” 

“É bom saber que”, acentua Wilcox, “Ele, o Filho de Deus, tornou-Se o Filho do homem, para que eu, um filho do homem, pudesse tornar-me um filho de Deus. Ele Se tornou como eu sou, para que eu pudesse tornar-me como Ele é. Ele participou da minha humana natureza, para que eu pudesse participar de Sua natureza divina. 

Em cada tentação que ataca, há poder em saber que tal tentação, em toda a sua avassaladora força, O atacou também de todas as maneiras e em ocasiões inesperadas, e que, com iguais tendências para o mal, a despeito do mau sangue e maldade herdados, através do mesmo poder ao qual eu tenho acesso, Ele venceu. Ele venceu por mim. Ele me oferece Sua vitória como minha própria – um dom gratuito. E assim, em todas essas coisas, sou mais do que vencedor através dAquele que me amou.”379

Mais tarde, F. M. Wilcox, editor da Review and Herald (1911-1944), também co-fundador do Patrimônio Literário Ellen G. White e membro do conselho de seus depositários, explicou por que achava importante identificar a carne de Cristo com a da humanidade decaída: “O terreno seguro para nós ao irmos ao Senhor Jesus é o fato de que Ele tomou sobre Si a natureza do homem, e na forma humana venceu Satanás, transpondo desse modo o abismo que o pecado abrira entre Deus e a humanidade. Passando por essa experiência em favor da raça perdida, Ele Se tornou um Salvador perfeito... 

Identificou-Se com o homem em todas as provas e tentações... Cristo foi intensa e severamente tentado, tentado como nenhum outro ser humano jamais foi, contudo Ele suportou tudo isso sem pecar. Nem uma só vez Ele cedeu ao poder do tentador. Em cada conflito Ele foi vitorioso. Com a mente firmada em Deus, confiando no amor e no poder de Seu Pai celestial, Cristo resistiu todas as vezes aos ataques do inimigo. Isso, a herança da vitória sobre o pecado, Ele igualmente nos transmitiu, em acréscimo, a simpatia que nos dispensa em tempos de provação. Como Ele lançou mão do divino poder, é nosso privilégio fazer o mesmo. Os recursos que estavam abertos a Seu pedido, também estão a nós.” 

Esse ensino não ficou restrito aos editores dos vários periódicos denominacionais. Ele também foi pregado pelas mais altas autoridades da igreja, como presidentes de divisão, vice-presidentes, e presidentes da Conferência Geral. Essa foi realmente a mais autêntica expressão da fé encontrada na comunidade adventista sobre a questão da Cristologia. Sem desejar citar cada um individualmente, desejamos fazer referência a uns poucos testemunhos dos mais representativos autores.

Durante esse período, W. W. Prescott foi certamente o mais prolífico e competente. Então, como secretário geral e vice-presidente da Conferência Geral no período de 1915 a 1937, ele continuou a propagar esse ensino denominacional através de seus numerosos artigos. Sua interpretação já foi amplamente apresentada, de forma que não será repetida aqui. Mais tarde, W. H. Branson, que foi presidente da Conferência Geral de 1950 a 1954, proclamava as mesmas convicções em artigos publicados nos diferentes periódicos. 

Repetidas vezes ele escreveu: “Para Cristo poder compreender as fraquezas da natureza humana, precisava experimentá-la... Portanto, Ele Se tornou osso de nossos ossos e carne de nossa carne... Deus precisou primeiro descer até o homem para poder erguê-Lo até Si mesmo.”  “Não foi a natureza dos anjos que Ele assumiu, mas a de Abraão. Ele Se tornou ‘semelhante a Seus irmãos’”.  “Oh, que vergonha que o Grande Deus Se propusesse vir habitar com os homens, morar em sua própria carne.” 

Dois presidentes da Divisão Sul-Européia, cuja sede se achava em Berna, Suíça, fizeram o seu melhor para divulgar na Europa a Cristologia ensinada nos Estados Unidos. A. V. Olson  foi o primeiro a expressar-se sobre o assunto da natureza humana decaída que Cristo assumiu. Olson escreveu: “Jesus herdou... a natureza de Sua mãe. Um homem chamado Jesus, feito de carne e sangue como os outros homens, viveu realmente em seu meio.” 

“Nesse sentido, o segundo Adão não era fisicamente idêntico ao primeiro. Foi também no sentido de depreciação em estatura e vitalidade que Cristo, pela lei da hereditariedade, tomou sobre Si mesmo nossa ‘natureza decaída’ (O Desejado de Todas as Nações, pág. 112), ‘nossa natureza em sua deteriorada condição (Signs of the Times, 9 de junho de 1898).” 

M. V. Campbell, igualmente, foi presidente da Divisão Sul-Européia (1954-1958), e mais tarde tornou-se vice-presidente da Conferência Geral. Eis como ele se expressou, num tempo quando se estava começando a formular a nova interpretação referente à natureza de Jesus:

“Ao vir a nosso mundo, o Salvador não desceu do Céu como um anjo ou como um ser de outro planeta. Ele tomou Seu lugar como membro da raça humana ao nascer numa família cujos ancestrais eram bem conhecidos. Nasceu tão desamparado como qualquer outro bebê... Jesus não veio à Terra como fez o primeiro Adão, que deixou as mãos do Criador sem nenhuma inclinação para pecar. Antes, Ele veio em semelhança ‘de carne pecaminosa’ (Rom. 8:3). Sua divindade não diminuiu Sua humanidade. Ela a preencheu, inundou-a, cercou-a, mas de modo nenhum a destruiu. O Salvador foi influenciado para pecar através da hereditariedade, do ambiente e das poderosas tentações do diabo... Para vencer o pecado, Jesus não usou qualquer poder espiritual que era Seu em virtude de ser o Filho de Deus. Ele apenas Se utilizou das armas que estão nas mãos do mais humilde de Seus seguidores.” 

Excertos da Literatura Adventista Européia

Os testemunhos desses dois presidentes da Divisão Sul-Européia – ambos americanos – são representativos do ensino que, naquele tempo, havia nas igrejas adventistas de fala inglesa do mundo. Mas, qual  era a crença geral sobre o assunto na Europa continental, onde a mensagem havia sido oficialmente introduzida em 1874? 

Como sabemos, a revista Signes des Temps (Sinais dos Tempos em francês) foi fundada por John Nevins Andrews na cidade de Basiléia, em 1876. É interessante notar que até 1938, nenhuma menção foi feita com relação à natureza humana caída de Cristo. Evidentemente, esse aspecto da Cristologia não constituía nenhuma importante característica do ensino adventista nesse tempo. 

Pode ser que os adventistas do continente partilhavam dos mesmos pontos de vista da maioria dos protestantes sobre esse assunto. O apoio para isso veio do editor-chefe da Signes des Temps: “Para salvar a humanidade, foi necessário, de acordo com a justiça de Deus, que Cristo fosse colocado sob as mesmas condições de Adão na criação, vale dizer, livre do pecado, mas suscetível de cair em tentação.” 

Desse modo, a Cristologia adventista tradicional, como ensinada no mundo de fala inglesa, não foi completamente obscurecida, mas sua introdução foi retardada no continente europeu até que as traduções inglesas dos livros e artigos de Ellen White se tornassem disponíveis.

A primeira menção da Cristologia tradicional é encontrada na Revue Adventiste (Revista Adventista em francês), o órgão informativo dos adventistas do sétimo dia na Europa Latina. O artigo está datado de 15 de novembro de 1923. Foi escrito por Tell Nussbaum, primeiro presidente da Associação Francesa.  Seu título: “Jesus, Filho de Deus e Filho do Homem”, sumaria o ensino da Igreja Adventista sobre o tema da pessoa e obra de Cristo. Eis um extrato:

“Jesus foi declarado com poder ser o Filho de Deus através do Espírito Santo, por Sua ressurreição dos mortos. Rom. 1:4. Tendo vindo em nossa carne enferma, nascido sob a lei, capaz de pecar, Ele não cometeu qualquer pecado. Foi nela que o pecado deveria ser vencido e o homem, em sua decaída natureza, pôde ser colocado num estado em que a santidade seria possível. Ele deveria viver a vida de Deus que se acha unicamente em Jesus Cristo, a qual Ele nos assegura continuamente pela fé.”

“O propósito de Jesus Cristo foi cumprido: transmitir Sua perfeita natureza à Sua posteridade. Mas ela não será completamente adquirida até o dia quando nós O virmos como é agora no Céu (João 17:22). Hoje, aceitando pela fé o que Cristo fez por nós, andamos pelo Espírito de Jesus Cristo... O Espírito de vida, que está em Jesus Cristo, nos libertou do pecado. Por Sua morte, Ele triunfou sobre o pecado a fim de nos conceder esse poder.” 

É duvidoso que essa declaração represente o pensamento da maioria dos adventistas da Europa continental. O objetivo do autor era aparentemente tornar conhecido mais amplamente o ensino aceito pela Igreja Adventista. Outra série de artigos com o mesmo propósito apareceu na Revue Adventiste, entre 1925 e janeiro de 1926. 

Esses foram, mais tarde, reimpressos em forma de panfleto com este significativo título: A Touchstone – Jesus Christ Come in Flesh (Uma Pedra de Toque – Jesus Cristo Veio em Carne). 

Seu autor foi Jules-Cesar Guenin, então presidente da Associação Francesa. Ele tinha um perfeito conhecimento da Cristologia como estabelecida por Ellen White e os pioneiros, aos quais faz referências. Para introduzir o assunto, ele se baseia em I João 4:1-3, asseverando que “todo espírito que confessa que Jesus veio em carne” é de Deus, mas todo espírito que não reconhece que Jesus veio em carne é do anticristo.

Mas Guenin pergunta: “O que a Bíblia quer dizer quando fala que ‘Jesus veio em carne’? Depois de considerar as principais passagens que tratam da Encarnação (Filip. 2:5-8; João 1:14; Rom. 8:3; Heb. 2:14-18; 4:15), ele conclui: “Essa doutrina tem tal importância que é, por assim dizer, a doutrina das doutrinas, o ponto alto da pregação apostólica e evangelística, a pedra de toque do cristianismo autêntico.” 

Abordando o problema da natureza humana de Cristo, Guenin perfila com seus colegas americanos: “A redenção da humanidade somente poderia ser adquirida mediante Deus tornar-Se homem. Foi revestido de carne como a nossa que Cristo enfrentou as lutas morais e correu os mesmos riscos que nós, de modo a provar que a justiça da lei poderia ser alcançada pelo homem. O Filho de Deus veio a este mundo com carne semelhante à nossa... Assim, o pecado foi gloriosamente vencido e finalmente condenado, e a santidade efetivada na carne humana.” 

Falando sobre as tentações que Cristo suportou, Guenin faz referência a várias declarações de Ellen White, tais como estas: “Se tivéssemos, em certo sentido, um mais probante conflito do que teve Cristo, então Ele não estaria habilitado para nos socorrer. Mas nosso Salvador Se revestiu da humanidade com todas as contingências da mesma. Tomou a natureza do homem com a possibilidade de ceder à tentação. Não temos que suportar coisa nenhuma que Ele não tenha sofrido.” 

Ademais, J. C. Guenin também citou o teólogo protestante E. de Presence, na questão das tentações que Jesus enfrentou no deserto: “O Redentor passou por Seu grande teste de liberdade sem o qual nenhum destino moral é alcançado. É aqui que precisamos aceitar o completo mistério de Sua humilhação. 

Se Lhe atribuirmos impecaminosidade, separamo-Lo das reais condições de uma existência terrestre; Sua humanidade não é, então, mais que uma ilusão, um véu transparente através do qual é vista Sua transcendente divindade. Não sendo como nós, Ele não mais está conosco. Ao excitante drama da luta moral segue uma indescritível fantasmagoria metafísica. Não devemos mais falar de tentações ou provas com respeito a esse assunto.”399

Da vitória de Jesus sobre o pecado, Guenin extrai a seguinte lição prática: “Cristo venceu o pecado para provar que cada crente pode vencer também; mas Ele triunfou porque desejava fazê-lo e porque lutou e sofreu usando apenas as armas da fé e da oração. É por esses meios, com esses armamentos, que o crente pode triunfar... Isso é o que significa confessar ter vindo Cristo em carne.” 

A doutrina da Encarnação constitui para J. C. Guenin “o ponto vital da religião redentiva e regenerativa de Jesus; negar isso é fazer com que o cristianismo perca toda a sua eficácia e valor prático.” 

Num artigo sobre os dois Adões publicado na Revue Adventiste, em 1942, J. C. Guenin reenfatiza a importância de Jesus ter participado de nossa completa humanidade. 

“Se Jesus houvesse vindo com a impossibilidade de pecar, como certos crentes e certa teologia preconizam, como poderia Ele ter-Se tornado o pai da nova humanidade vitoriosa, um ‘grande sumo sacerdote’ que podia simpatizar com as fraquezas da humanidade e provar a possibilidade de uma vida vitoriosa? Jesus não veio ao mundo apenas para resgatar do pecado, para expiar a culpa dos pecadores, mas também para dar à humanidade um exemplo de perfeita obediência à vontade divina, para provar que tal obediência é possível àquele que sinceramente deseja tê-la. Para fazer isso, era necessário que Cristo vivesse uma absoluta vida santa, sem pecado.” 

Almejando explicar a doutrina da Encarnação a seus leitores não-adventistas, J. C. Guenin publicou uma série de três artigos na Signes des Temps.  Foi a primeira menção da Cristologia adventista nesse magazine após 62 anos de existência. O conteúdo desses artigos está claramente patenteado em seus títulos: “Jesus Cristo Veio em Carne”; “Jesus Cristo, o Ideal da Humanidade”; “Foi Jesus um Pecador?” Neles encontramos repetido o ensino desenvolvido na brochura Uma Pedra de Toque: Jesus Veio em Carne.

Outros autores fizeram referências semelhantes à crença comum dos adventistas daquele tempo. Num artigo escrito por James Howard, traduzido do inglês e publicado na Revue Adventiste, encontramos a seguinte declaração acerca da tentação de Cristo: “A tendência hereditária para pecar é verdadeiramente forte. A mãe de Jesus Cristo herdou a ‘forma e a semelhança’ de seus ancestrais; ela nascera em carne pecaminosa. Sendo assim, seu Filho Jesus Cristo herdou a natureza humana.”

Também na exposição de um sermão pregado no dia 11 de julho de 1928, em Genebra, sobre “o preço de nossa redenção”, B. E. Beddoe, um visitante, falou acerca da natureza humana de Jesus que, sendo como nós, “conhecia as tendências da carne, os desejos que levam ao pecado”. Daí, ante a pergunta: “Poderia ter Ele pecado?”, o pregador respondeu sem hesitar: “Certamente”.  

Finalmente, é bom repetir o que Charles Gerber  escreveu em seus folhetos evangelísticos, distribuídos aos milhares e mais tarde compilados e formatados num livro intitulado Le Chemin du Salut (O Caminho da Salvação).  

No capítulo que trata do “mistério da Encarnação”, ele confirma a Cristologia adventista aceita. “Para salvar a humanidade, Deus deu Seu Filho, o qual assumiu nossa natureza e Se identificou conosco. O Filho de Deus consentiu em tornar-Se Filho do homem. ‘Deus enviou Seu filho, nascido de mulher, nascido sob a lei’ (Gál. 4:4). ‘O Verbo Se fez carne e habitou entre nós’ (João 1:14). ‘... Deus, enviando a Seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado, na carne condenou o pecado.”

“É um milagre, é um mistério, Deus descer entre nós e tornar-Se carne, é o Céu humilhando-se diante da Terra, é a escada de Jacó ligando a Terra ao Céu e o Céu à Terra... Jesus Se tornou homem... Sofreu fome, sede e cansaço assim como nós. Era ‘em todas as coisas... semelhante a Seus irmãos’; Ele enfrentou semelhantes tentações, derramou lágrimas e finalmente morreu.” 

Excertos das Lições da Escola Sabatina

Como já foi dito, as lições da Escola Sabatina são o melhor indicador oficial do ensino da Igreja Adventista. Preparadas por especialistas e revisadas por uma comissão de representatividade mundial, elas são realmente a mais autêntica expressão da fé adventista. 

Cada vez que as lições tocam no assunto da natureza humana de Jesus, as notas explicativas invariavelmente  apresentam o ensino tradicional. Exemplos do período compreendido entre 1916 e 1952 são tão poucos que é possível citá-los todos. O primeiro data do primeiro trimestre de 1921, e é relevante sobre a questão da Encarnação.

“Cristo assumiu, não a original impecável, mas nossa humanidade decaída. Nessa segunda experiência, Ele Se encontrou não precisamente onde Adão estivera antes dEle, mas, como dito anteriormente, com imensas desvantagens contra Si – o mal, com todo o seu vitorioso prestígio e sua conseqüente entronização na própria constituição de nossa natureza, armado com o mais terrível poder contra a possível realização desse divino ideal no homem – perfeita santidade. 

Tudo isso considerado, as desvantagens da situação, os tremendos riscos envolvidos e a ferocidade da oposição encontrada, faz-nos ter uma idéia da realidade e da grandeza desse vasto empreendimento moral; a natureza humana tentada, provada  e extraviada em Adão, é elevada por Cristo à esfera da consumada santidade.” 

Noutra lição acerca do sacerdócio de Cristo, editada no mesmo ano, verificamos este comentário versando sobre os primeiros dois capítulos da epístola aos Hebreus: “Aquele que é apresentado no primeiro capítulo como Filho, Deus e Senhor, cuja divindade e eternidade são enfatizadas, encontra-nos no segundo capítulo como o Filho do homem, com todas as limitações de nossa humanidade comum. 

Ele é conhecido por Seu nome pessoal e terrestre e como alguém que pode provar a morte (Heb. 2:9), e pode ser ‘aperfeiçoado pelos sofrimentos’ (verso 10). Ele participou da mesma carne e sangue que nós (verso 14), tornando-se tão verdadeiramente homem (verso 17), como é verdadeiramente Deus.”410

No terceiro trimestre de 1921, o mesmo conceito é encontrado destacadamente: “Quando o Filho de Deus nasceu de mulher (Gál. 4:4) e participou de nossa carne pecaminosa (Rom. 8:3), a vida eterna se manifestou em corpo humano (I João 1:2).” 

Em 1928, as lições do primeiro trimestre foram baseadas na epístola aos Efésios. Eis uma nota explicativa em relação a Efésios 2:15)“O homem carnal, natural, não pode abolir sua inimizade contra Deus. Ela faz parte de sua natureza. Está entretecida em cada fibra de seu ser. Mas Jesus tomou sobre Si mesmo nossa natureza de carne e sangue (Heb. 2:14), ‘em todas as coisas.... para ser semelhante a Seus irmãos’ (Heb. 2:17), ‘da semente de Davi segundo a carne’ (Rom. 1:3); ‘Ele enfrentou e aboliu a inimizade em Sua carne’, ‘a mente carnal’ (Rom. 8:7). Ele venceu o pecado na carne por nós, para sempre.” 

Excertos de Livros Selecionados

Durante o período que vai de 1916 até 1952, muitos livros tratando direta ou indiretamente da doutrina da Encarnação foram publicados pelas diversas casas editoras da igreja, tais como:

Review and Herald Publishing Association, Pacific

Press Publishing Association e Southern Publishing Association. Todos os livros por elas editados haviam recebido o prévio selo de aprovação de uma comissão editorial, certificando que o conteúdo estava em harmonia com a fé a as doutrinas adventistas.

1. A Doutrina de Cristo, de W. W. Prescott

Relembramos que Prescott, em seu livro datado de 1920 e por título A Doutrina de Cristo, demonstrava que sem participar da “carne e no sangue” daqueles a quem Ele viera libertar do poder do pecado e da morte, Cristo não poderia ter sido nosso Salvador. Essa verdade, na mente de Prescott, era a verdade central do evangelho.

2. Uma Vida Vitoriosa, de Mead MacGuire

Em 1924, foi lançado o livro de Mead MacGuire, Uma Vida Vitoriosa. O autor também foi um dos fundadores do Departamento de Jovens em nível de Conferência Geral. Ele foi, sucessivamente, secretário dos Departamentos Missionário e Ministerial.  No capítulo em que trata da “medonha natureza do pecado”, MacGuire responde à questão levantada por Paulo em Romanos 7:23: “Mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros.”

“Há apenas um meio de livramento dessa congênita lei do pecado. Ele é Cristo. Ele Se revestiu da humanidade. Ele venceu o pecado enquanto num corpo que estava sob a hereditária lei do pecado. Agora Ele nos propõe viver essa mesma vida impecável em meus membros. Sua presença neutraliza completamente o poder da lei do pecado.” 

Noutro capítulo, Macguire escreve: “Quando Jesus suportou a cruz, Ele admitiu a sentença de morte sobre a natureza do pecado. Cristo tomou nossa natureza, a natureza de Adão, a vida de Saulo, e concordando com o Pai de que essa natureza estava qualificada apenas para morrer, Ele foi voluntariamente até a cruz e conduziu essa natureza decaída até sua inevitável e necessária morte... Por Seu grande sacrifício, Cristo fez provisão para a morte da natureza de Adão em você e em mim, se estivermos dispostos a levar essa nossa degenerada natureza até Sua cruz e pregá-la nela.” 

3. Fatos da Fé, de Christian Edwardson

Em 1942, Edwardson abordou o assunto da

Encarnação e da natureza humana de Cristo sob um ângulo diferente. Ele discutiu II João 7, que declara que os enganadores e o anticristo não “confessam que Jesus Cristo veio em carne”. Em oposição ao argumento de que o papado poderia não ser o anticristo, uma vez que o catolicismo não nega a encarnação de Cristo, Edwardson escreveu:

“Esse argumento, todavia, está baseado num mal-entendido produzido pelo descuido de uma palavra no texto. 

O anticristo não nega que Cristo veio em carne, mas nega que Ele houvesse ‘vindo na carne, na mesma espécie de carne da raça humana que viera salvar... Sobre essa vital diferença articula-se a verdade ‘vital do evangelho’. Desceu Cristo totalmente para estabelecer contato com a raça caída, ou só parcialmente, de modo que precisamos ter santos, papas e padres para interceder por nós juntamente com Cristo, que está muito afastado da humanidade decaída e de suas necessidades para estabelecer contato direto com o pecador individualmente? Justamente aqui jaz a grande divisor que separa o protestantismo do catolicismo romano.”

Edwardson estende-se sobre o segredo da salvação do homem: “Por meio do pecado o homem separou-se de Deus, e sua natureza decaída é oposta à vontade divina... 

Apenas através de Cristo, nosso Mediador, pode o homem ser resgatado do pecado e novamente entrar em ligação com a fonte da pureza e do poder. Porém, para tornar-Se tal elo de ligação, Cristo teve de participar da divindade de Deus e da humanidade do homem, de forma que Seu divino braço pudesse cingir a Deus e com Seu braço humano envolver o homem, ligando assim ambos em Sua própria Pessoa. Nessa união do divino com o humano jaz o ‘mistério’ do evangelho, o segredo do poder para erguer o homem de sua degradação.”

Edwardson busca explicar o porquê da encarnação de Cristo: “Era o homem decaído quem devia ser resgatado do pecado. E para fazer contato com ele, Cristo tinha de condescender em tomar nossa natureza sobre Si mesmo (e não alguma espécie mais elevada de carne). ‘Portanto, visto como os filhos são participantes comuns de carne e sangue, também Ele semelhantemente participou das mesmas coisas... 

Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a Seus irmãos.’ Esse texto está redigido de um modo que não pode ser malcompreendido. Cristo‘tomou parte da mesma carne e sangue que os nossos’; Ele veio ‘na carne’. Negar isso é a marca do anticristo.”  

4. O Vinho da Babilônia Romana, de Mary E. Walsh 

Como sugerido pelo próprio título, esse livro contrasta o ensino católico com o das Escrituras. Mary E. Walsh, a autora, foi por 20 anos uma fervorosa católica. 

No capítulo dedicado à imaculada conceição, Mary Walsh escreve: “Tudo o que Maria deu a Cristo foi Seu corpo humano. É uma lei da Natureza que alguém não pode dar aquilo que não possui, e Maria, sendo humana em cada aspecto da palavra, não poderia conceder a Seu Filho a natureza da divindade.” 

Então, tendo mostrado ambos os aspectos da natureza de Jesus, o divino e o humano, Mary Walsh cita Rom. 8:3 e Hebreus 2:14, 17 e 18, para concluir: “Na genealogia de Cristo, como apresentada em Mateus, verificamos que Jesus é chamado o filho de Davi e também Filho de Abraão. Alguém tem de estudar apenas os caracteres de Abraão e Davi, para aprender que eles foram verdadeiramente humanos e tinham tendência para pecar. Assim vemos que espécie de natureza humana Cristo herdou de Seus progenitores.” 

No início dos anos cinqüenta, muitas outras obras foram publicadas buscando explicar o porquê da Encarnação e o que Cristo realizou vivendo uma vida impecável em carne pecaminosa. O livro de A. B. Lickey, Cristo Para Sempre e a obra de W. B. Ochs, Nisso eu Creio, ambos publicados em 1951 pela Review and Herald Publishing Association , mantiveram o ensino adventista tradicional dos últimos 100 anos.

Para completar nosso exame, abordaremos mais dois autores cujo testemunho é particularmente valioso porque veio num tempo em que uma radical mudança estava sendo implementada: F. D. Nichol, editor-chefe da Review and Herald de 1945 a 1966, e autor de muitos livros, e W. H. Branson, presidente da Conferência Geral de 1950 a 1954.

5. Respostas a Objeções, de F. D. Nichol 

Em 1952, Nichol se sentiu compelido a replicar ao criticismo freqüentemente dirigido contra os adventistas, nestes termos: “Os adventistas do sétimo dia ensinam que, como toda a humanidade, Cristo nasceu com uma natureza pecaminosa. 

Isso indica plenamente que Seu coração, também, era ‘enganoso, mais do que todas as coisas, e perverso’ (Jer. 17:9). Em harmonia com isso eles também ensinam que Cristo poderia ter falhado enquanto em Sua missão terrestre como Salvador do homem; que Ele veio ao mundo ‘sob risco de fracasso e eterna perda’, e que Ele ‘não falhou nem ficou desanimado’.” 

A resposta de Nichol é encontrada, antes de tudo, em dois artigos da Review and Herald, depois reproduzida no livro Answers to Objections (Respostas a Objeções) , publicado no mesmo ano. O prefácio foi escrito por W. H. Branson, então presidente da Conferência Geral. 

Branson escreveu: “Este volume fornece uma bem definida e convincente resposta às objeções mais amiúde levantadas pelos críticos das doutrinas mantidas pela Igreja Adventista do Sétimo Dia... Com cordial aprovação, portanto, recomendamos este livro a cada obreiro evangélico. Ele se provará um pronto auxiliar no enfrentamento dos ataques dos críticos teológicos, e sincero ao responder as indagações do perplexo inquiridor.” 

Em sua réplica, Nichol não diz que os críticos estavam enganados quanto às crenças dos adventistas sobre o assunto. Ele simplesmente procurou mostrar que eles se enganaram em concluir que “os adventistas do sétimo dia eram culpados de terrível heresia”.425 Na verdade, observa Nichol: “Os adventistas nunca fizeram um pronunciamento formal sobre o assunto em sua declaração de crenças. 

A única declaração em nossa literatura que poderia ser considerada como verdadeiramente autorizada nessa questão é aquela que a Sra. Ellen G. White escreveu.”  Além disso, os contestadores citam um excerto do livro O Desejado de Todas as Nações, para provar que eles não estão equivocados em seu julgamento, e Nichol faz o mesmo para confirmar que “Cristo tinha de ser, em todas as coisas, semelhante a Seus irmãos”.

“Essa é a crença adventista. E nós a sustentamos porque sentimos que ela concorda com a revelação e a razão.” Apoiando-se nos textos bíblicos habituais (Rom. 8:3; Hebreus 2:14, 16 e 17, e 4:15), Nichol assevera: “O opositor procura evitar a força dessas passagens declarando que quanto a Cristo, ‘tentado’ simplesmente significa ‘provado’ ou ‘experimentado’. 

Mas os textos que vimos enfatizam que a natureza da tentação de Cristo foi exatamente a mesma que sobrevém à humanidade. Realmente, essas escrituras mencionam uma diferença – quando Cristo foi tentado, Ele não pecou. O que não pode ser dito da humanidade. Em maior ou menor grau, todos caímos diante da tentação. O texto não diz que Cristo não poderia pecar, mas que Ele não pecou. Se em Sua natureza humana fosse-Lhe impossível pecar, por que Paulo não nos mostra os textos concernentes? Essa teria sido uma grande revelação.” 

Então Nichol prossegue mostrando que os adventistas não são os únicos que mantêm esse ponto de vista. Ele cita uma constelação de teólogos de diferentes denominações protestantes antes de concluir: “A crença adventista com relação a Cristo é que Ele era verdadeiramente divino e verdadeiramente humano; que Sua natureza humana estava sujeita às mesmas tentações para pecar que nos confrontam, para que triunfasse sobre a tentação mediante o poder a Ele dado por Seu Pai; e que Ele pode ser literalmente descrito como ‘santo, inocente, imaculado’ (Heb 7:26).”428

Algumas das expressões de Nichol alhures têm levado muitos a pensar que ele era um defensor da nova interpretação que surgiu por essa época. Mas o que ele escreveu sobre o tema das tentações de Cristo indica que esse não foi o caso. Note a comparação entre os dois Adões: “Cristo venceu a despeito do fato de ter tomado sobre Si ‘a semelhança da carne pecaminosa’, com tudo o que ela implica em efeitos maléficos e debilitantes do pecado sobre o corpo e o sistema nervoso do homem, e seus resultados sobre o meio ambiente – ‘Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?’”. 

Em nota adicional à objeção 94, Nichol explicou a expressão ‘carne pecaminosa’: “Os críticos, especialmente aqueles que vêem as Escrituras através de olhos calvinistas, lêem no termo ‘carne pecaminosa’ algo que a teologia adventista não requer. Assim, se usamos o termo ‘carne pecaminosa’ em relação à natureza humana de Cristo, como alguns de nossos escritores têm feito, arriscamo-nos a ser mal compreendidos. Realmente, com essa expressão queremos dizer simplesmente que Cristo ‘tomou sobre Si a semente de Abraão’, e Se tornou ‘em semelhança de carne pecaminosa’, mas os críticos não estão dispostos a crer nisso.” 

De acordo com o testemunho de Kenneth H. Wood, por muito tempo editor-associado de F. D. Nichol e seu sucessor como editor-chefe, de 1966 a 1982, Nichol sempre advogou em suas conversas e discussões a crença de que Cristo veio a este mundo com a natureza decaída do homem. Isso explicaria por que Walter Martin declarou: “A Conferência Geral inteligentemente separou Nichol de mim. Ele foi proibido de fazer contato comigo.” 

6. A Expiação e o Drama dos Séculos,  de W.H. Branson

O ponto de vista expresso por W. H. Branson em vários artigos é confirmado em dois de seus livros. No primeiro, A Expiação, publicado em 1935, ele declara aquilo que sempre foi o ensino da igreja até então. “Cristo, o Filho de Deus, o Criador do Universo, tomou sobre Si mesmo nossa natureza e tornou-Se homem. Ele nasceu de uma mulher. Tornou-Se ‘a semente de Abraão’, tornou-Se um de nós.” 

Em 1953, enquanto Branson era presidente da Conferência Geral, e provavelmente estando ciente de uma nova interpretação emergente, ele escreveu em sua última obra, Drama dos Séculos: “Foi da carne e sangue do homem que Jesus participou. Ele Se tornou um membro da raça humana. Ele Se tornou como os homens... 

Essa, então, era uma humanidade real. Não foi a natureza dos anjos que Ele assumiu, mas a de Abraão. Ele foi ‘em todas as coisas feito semelhante a Seus irmãos’. Tornou-Se um deles. Estava sujeito à tentação; Ele conhecia as angústias do sofrimento e não era estranho aos pesares comuns aos homens.” 

Então W. H. Branson explica sua posição com respeito ao motivo da participação de Cristo na natureza decaída da humanidade: “Para que Cristo pudesse compreender a fraqueza da natureza humana, Ele teve de experimentá-la. A fim de poder  simpatizar com os homens em suas aflições, Jesus teve de ser afligido. Precisou sofrer fome, cansaço, desapontamento, tristezas e perseguições. Teve de trilhar os mesmos caminhos, viver sob as mesmas circunstâncias e passar pelo mesmo tipo de morte. Portanto, Ele Se tornou osso de nossos ossos, carne de nossa carne. Sua encarnação foi na humanidade real.”

Conclusão

Nossa pesquisa, cobrindo um século de Cristologia adventista (de 1852 até 1952), permitenos afirmar que os teólogos e administradores da igreja falaram em uníssono sobre o assunto da pessoa de Cristo e Sua obra em favor da salvação do homem.

Embora, primeiramente, descobríssemos alguns sentimentos semi-arianos sobre o tema da natureza divina de Cristo entre os líderes da igreja, esses foram abandonados antes da passagem do século. Por outro lado, sobre a natureza humana de Cristo, não havia divergência. 

Desde o início, a Igreja Adventista apresentou notável unanimidade em seu ensino sistemático desse ponto. Seu estudo neotestamentário levou os pioneiros da mensagem e seus seguidores a compreenderem a Encarnação, não simplesmente envolvendo a crença de que Jesus veio em carne, mas acima de tudo, “à semelhança de carne pecaminosa”. 

E pela razão de ser seu ensino radicalmente oposto à tradição das igrejas estabelecidas, foi necessário repeti-la consistentemente para benefício dos novos conversos à mensagem adventista. Essa doutrina foi considerada como a “pedra de toque do Cristianismo autêntico”; como a “áurea cadeia na qual foram incrustadas as jóias da doutrina”, “a doutrina das doutrinas”, em resumo, “o ponto vital da regeneradora e redentiva religião de Jesus”.

Por volta de 1950, surgiu uma nova interpretação: Cristo não assumiu a decaída natureza da humanidade, mas aquela de Adão antes da queda. De fato, tal drástica mudança de interpretação encontrou viva reação. 

É, por conseguinte, muito importante considerar esse novo passo na história da Cristologia adventista, para compreender as causas reais da controvérsia que perfurou o próprio âmago da igreja. Muito importante: é necessário afiar a capacidade de distinguir o ensino que concorda com o evangelho, daquele que não o faz. Esse é um ponto de destaque, porque de acordo com o apóstolo João, o teste do verdadeiro Espírito de Deus centraliza-se precisamente sobre o conceito de Cristo vindo em carne (I João 4:1-3).




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