No Poder do Espírito - 10 A relação entre a lei e o evangelho

no poder do espirito w. w prescot

The Bible echo, 20 e 27 de Abril; 4, 11, 18 e 25 de maio; 1° de Junho de 1896, Pregado em 1895, sem 

Tudo aquilo que o homem perdeu com o pecado foi restaurado “mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3:24). “Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo” (1Jo 3:8). 

Tudo isso é realizado em nosso favor, “não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo Sua misericórdia, Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que Ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 3:5-6).

Contudo, Deus não torna Seu plano de salvação efetivo sem a cooperação do indivíduo. Deus honrou o homem ao conceder-lhe o poder do raciocínio e o livre arbítrio. Apesar de o homem não poder salvar-se por si só, não é plano de Deus salvá-lo sem o seu consentimento. Ele diz: 

Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã (Is 1:18).

Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida (Ap 22:17).

No princípio, “criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou” (Gn 1:27). Essa imagem, contudo, foi desfigurada e quase destruída pelo pecado. Mas “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). 

Assim, por meio de Cristo, que “é a imagem do Deus invisível” (Cl 1:15), o homem pode ser “criado em Cristo Jesus para boas obras” (Ef 2:10), e restaurado à imagem de Deus, sendo “conformes à imagem de Seu Filho” (Rm 8:29). 

As maravilhosas provisões da graça de Deus, pelas quais Ele é “justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:26), visam a nada menos do que isto: que “assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial” (1Co 15:49).

O instrumento empregado por Deus para levar a efeito esse alvo chama-se “o evangelho”, que é descrito como “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16). 

Trata-se do “evangelho da vossa salvação” (Ef 1:13), “o evangelho da graça de Deus” (At 20:24), o “evangelho da paz” (Ef 6:15), o mesmo evangelho que “anunciou primeiro […] a Abraão” (Gl 3:8, ARC), e depois aos filhos de Israel, “porque também a nós foram pregadas as boas-novas, como a eles” (Hb 4:2, ARC). 

Este evangelho de Cristo é o poder de Deus para salvar os crentes, pois “a justiça de Deus se revela no evangelho” (Rm 1:17). A justiça de Deus é revelada no evangelho. É por essa razão que o evangelho é “o poder de Deus para a salvação”. 

A salvação do pecado e a restauração para uma vida de justiça: é disso que precisamos. Essa experiência nos é fornecida pela encarnação, morte e ressurreição de Cristo, que se tornou “em semelhança de homens” e “foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4:25). Esse é o evangelho. Paulo diz ainda:

Também vos notifico, irmãos, o evangelho […], pelo qual também sois salvos […]; porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (1Co 15:1-4, ACF).

A eficácia do evangelho também é vista nestas palavras: 

Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus (1Co 1:17-18, ACF).

O evangelho é o poder de Deus para todo aquele que crê. Para aqueles que são salvos, o poder de Deus é um discurso que fala da cruz, porque a cruz de Cristo – o Salvador crucificado morrendo pelo pecado – é o pensamento central do evangelho. Assim lemos novamente: 

Mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, […] Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus (1Co 1:23-24).

Vemos nessas passagens que a eficácia do evangelho, seu poder para salvação, se encontram no fato de que o evangelho é a mensagem de júbilo da parte de Deus “com respeito a Seu Filho” (Rm 1:3), Jesus Cristo nosso Senhor, que é chamado de “Senhor, Justiça Nossa” (Jr 23:6). 

Assim, parece que o evangelho de Deus se torna o poder de Deus para salvação por causa da justiça que é revelada nele; e também porque esta justiça se encontra apenas em Cristo e nunca se separa dEle. Conforme o apóstolo 

Paulo, nessa verdade se encontra a esperança do evangelho […], isto é, Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo (Cl 1:23, 27-28). E estais perfeitos nEle (Cl 2:10, ARC).

Ideias erradas sobre nossa relação para com o plano da salvação surgiram pela falta de compreensão da plenitude do caráter de Deus. 

Embora seja verdade que Ele “tem prazer na misericórdia” (Mq 7:18) e “agrada-Se […] dos que esperam na sua misericórdia” (Sl 147:11), também é verdade que Ele é “tão puro de olhos, que não [pode] ver o mal” (Hc 1:13), e que Ele “executará o juízo e a justiça na terra” (Jr 23:5). 

Deus exige que Seu próprio caráter, como revelado em Cristo, seja o padrão de caráter para Seus filhos. “Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5:48). “Segundo é santo Aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (1Pe 1:15).

Além disso, abundante provisão foi feita em Cristo para que as expectativas de Deus para o homem fossem inteiramente satisfeitas. Paulo reconhece isso ao afirmar que “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo […] nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” e “nos elegeu nEle […] para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em amor” e “nos fez agradáveis a Si no Amado” (Ef 1:3, 4, 6, ARC). 

Mas tudo isso é para um propósito definido, ou seja, para que nós, “libertados do pecado e feitos servos de Deus” (Rm 6:22, ARC), pudéssemos se achados “justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor” (Lc 1:6). 

Mateus confirma esse propósito afirmando a respeito da obra de Cristo: “E lhe porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o Seu povo dos pecados deles” (Mt 1:21). Não existe provisão feita para salvar o povo nos pecados deles.

Para que o homem inteligentemente cooperasse com Deus em Seu propósito de restaurar Sua imagem nele, Deus revelou ao homem o Seu próprio caráter como padrão de perfeição e teste de justiça. 

Visto que Deus deseja renovar Sua semelhança em nós, sabemos o que Ele é através do que Ele pede de nós. A santidade, a justiça, a bondade de Deus, são estabelecidas em Sua lei, que é declarada ser “santa, justa e boa” (Rm 7:12). A perfeição que Ele requer de nós será revelada em uma vida que esteja em harmonia com “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2).

Visto que “o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé de Jesus Cristo” (Gl 2:16, KJV), e porque não estamos “debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6:14), alguns têm caído no erro de supor que os cristãos nada têm que ver com a lei de Deus. E, por isso, é de grande valor dedicarmos um tempo para considerar os propósitos para os quais a lei nos foi dada, e a relação entre a lei e o evangelho.

Para que seja verdade que “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1:7, ARC), devemos “[confessar] os nossos pecados” (1Jo 1:9), e devemos estar cientes do pecado antes de confessá-lo. 

Isso traz à tona o primeiro propósito da lei: por ela vem o conhecimento do pecado (Rm 3:20). Na verdade, eu “não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás” (Rm 7:7). 

A maneira pela qual a lei revela o pecado é vista pelo fato de que “toda injustiça é pecado” (1Jo 5:17), e que a lei revela a injustiça quando define a justiça. 

A lei, sendo a transcrição do justo caráter de Deus, é usada pelo Santo Espírito para “[convencer] o mundo do pecado” (Jo 16:8), mostrando que os homens são “miseráveis, pobres, cegos e nus” (Ap 3:17), quando o caráter deles é posto em contraste com a pureza e santidade de Deus. 

Quando vemos Deus assim, exclamamos como Isaias: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros” (Is 6:5), e, como Jó, dizemos: “Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:6). Tudo isso é esclarecido nas Escrituras. O salmista exclama:

Justo és, ó Senhor, e retos são os Teus juízos. Os Teus testemunhos que ordenaste são retos e muito fiéis (Sl 119:137, 138, ARC). A minha língua falará da Tua palavra, pois todos os Teus mandamentos são justiça (Sl 119:172, ARC).

No entanto, embora a lei nos torne conhecido o pecado dessa maneira, apresentando o justo caráter de Deus e sendo ela mesma justiça, ela é completamente incapaz de nos revestir da justiça. Paulo esclarece esse ponto:

Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, seguese que morreu Cristo em vão (Gl 2:21).

[…] se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei. Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que crêem (Gl 3:21-22).

É aqui que a obra de Cristo nos beneficia. E o próprio objetivo dessa obra é que a justiça definida pela lei e revelada no evangelho, possa ser cumprida em nós. Paulo esclarece afirmando:

Porquanto o que era impossível à lei, porquanto estava fraca pela carne, Deus, enviando o Seu próprio Filho, em semelhança de carne pecaminosa, e por causa do pecado, condenou, na carne, o pecado. 

Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm 8:3-4, KJV). Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus (2Co 5:21).

A justiça da lei foi cumprida por Cristo, que não veio para “revogar, [mas] para cumprir” (Mt 5:17) a lei. Por uma vida de perfeita obediência à vontade do Pai, Ele tornou-Se “obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2:8). 

Mediante essa obra, Cristo “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1Co 1:30, ARC). Paulo sintetiza: Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos. 

Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 5:19-21).

A obra realizada por Cristo em favor do homem vai além do pagamento pela penalidade de uma lei quebrada; inclui a harmonização do homem com a lei. Paulo escreveu a Tito:

[Cristo Jesus] […] a Si mesmo Se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para Si mesmo, um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras (Tt 2:14).

Por essa razão, tornou-se necessário que a justiça não fosse apenas imputada a nós, mas também comunicada; e que Cristo não apenas vivesse por nós, mas que também vivesse em nós. 

Era necessário não apenas que fôssemos “justificados pela fé” (Rm 5:1), mas que também fôssemos “santificados pela fé” (At 26:18). Assim, “o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória [o Seu caráter], glória [o caráter] como do Unigênito do Pai” (Jo 1:14). 

Os anjos foram usados para transmitir mensagens da parte de Deus, e realizaram importantes obras para Deus. Contudo, apenas o Filho de Deus poderia revelar a justiça de Deus, uma vez que Ele é Deus.

Em Sua vida entre os homens, Cristo tornou-Se a justiça conforme definida na lei. “A lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade [a graça e a realidade] vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1:17). Na lei, considerada meramente como um código, temos apenas a forma da verdade. Cristo, porém, é a própria verdade. Paulo esclarece esse ponto: 

Eis que tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e sabes a Sua vontade, e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei (Rm 2:17-20, ARC).

A lei, portanto, dá a forma; Cristo, porém, é a realidade. Cristo tinha a lei em Seu coração, e, assim, Sua vida era a lei em caracteres vivos. Isso foi mostrado na profecia que falava de Sua obra, séculos antes de haver “nascido de mulher”:

Deleito-me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração (Sl 40:8, ARC).

Em Seus ensinos, Cristo interpretou o caráter espiritual da lei, mostrando que odiar era o mesmo que cometer assassinato, pensar de maneira impura, o mesmo que cometer adultério, cobiçar, o mesmo que cometer idolatria. 

Sua vida estava tão completamente em harmonia com os sagrados preceitos interpretados por Ele, que poderia desafiar os que estavam constantemente buscando algo contra Si lançando-lhes a seguinte pergunta: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” (Jo 8:46).

Cristo, como Aquele que “não cometeu pecado” (1Pe 2:22), trabalhou nesta vida em perfeita justiça, não em Seu próprio favor, mas para nosso benefício, para que a imagem de Deus pudesse ser revelada novamente em nossa vida. 

A lei estava dentro do coração de Cristo, e Ele veio fazer a vontade de Deus, a fim de que a mesma lei pudesse ser escrita em nossos corações e fossemos restaurados à benção de fazer a vontade de Deus, para que a forma se tornasse a realidade em nós. 

Essa obra é operada em cada indivíduo através de sua aceitação da obra de Cristo por ele, pela fé na Palavra de Deus, ao ele abrir a porta do coração para Cristo, e permitir que Cristo Se torne a própria vida de sua vida, para que seja “salvo pela Sua vida” (Rm 5:10). Isso é justiça pela fé. Isso significa

[ser] achado nEle, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé (Fl 3:9, ARC).

Assim, vemos que a lei nos traz primeiramente o conhecimento do pecado. Estabelece um perfeito patamar de justiça, definindo assim a justiça requerida. Contudo, isso não pode nos conferir tal justiça. 

A lei não torna o homem pecador; ela simplesmente revela o fato de que ele é um pecador. Não pode dar a justiça; simplesmente mostra a necessidade dela. Mas Deus, que requer a justiça da lei em nosso caráter, fez provisões para que essa justiça nos seja trazida em Cristo, que é o centro do evangelho. O padrão de caráter definido pela lei nos é apresentado em Cristo, no evangelho. Assim lemos: 

Mas agora, a justiça de Deus, sem a lei, é manifesta, testemunhada pela lei e pelos profetas; isto é, a justiça de Deus, que é pela fé de Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem; pois não há distinção. 

Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, o qual Deus propôs como propiciação, pela fé no Seu sangue, para declarar a Sua justiça para a remissão dos pecados passados, mediante a tolerância de Deus; para declarar, neste tempo presente, a Sua justiça, para que Ele seja justo e também o justificador daquele que crê em Jesus (Rm 3:21-26, KJV).

O pecado é revelado pela lei; a justiça é revelada no evangelho. A lei torna conhecida a deficiência; a cura se encontra no evangelho de Cristo. Este é o primeiro passo na relação entre a lei e o evangelho.

Após nos achegarmos a Cristo e sermos justificados pela fé, sem as obras da lei (Rm 3:28), após nos tornarmos “filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo” (Gl 3:26), tendo-O recebido, a Ele que é justiça e a lei viva, qual será então nossa relação com a lei? Tal relação ficará mais bem evidenciada quando considerarmos os resultados da genuína fé em Cristo.

Crer em Cristo é receber Cristo; não é consentir com um credo, mas aceitar uma vida; não significa lutar por manter certos costumes exteriores, mas tornar-se “participante da natureza divina” (2Pe 1:4). 

Credos e formas não podem salvar as pessoas de seus pecados. Terrível é a lista de pecados daqueles que “tendo forma de piedade, [negam]-lhe, entretanto, o poder” (2Tm 3:5; cf. v. 1-5). Uma nova vida deve ser comunicada antes que o homem possa “viver para Deus” (Gl 2:19):

Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (Jo 3:3). Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura (Gl 6:15, ARC).

Essa experiência depende da fé que cada um exercita por si mesmo. Como diz Paulo, “essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça” (Rm 4:16). 

Para todos os que sinceramente fazem a oração, “cria em mim […] um coração puro”, (Sl 51:10), vem a resposta: “credes que Eu posso fazer isso? […] Faça-se-vos conforme a vossa fé” (Mt 9:28, 29). “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo 5:4). Mas a fé para a vitória é a “fé que opera por amor” (Gl 5:6, ARC).

“Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei” (Rm 3:31). Esta é a vitória que vence o mundo: nosso Cristo tornar-Se presente em todo o Seu glorioso poder pela fé. 

Mas esse é o Cristo em cujo coração está a lei de Deus, e que disse de Si mesmo: “Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai” (Jo 15:10). Que era e que é a lei de Deus personificada. 

Dessa forma, quando a oração de Paulo “para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração” (Ef 3:17, ARC) é respondida, a lei em Cristo é “escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (2Co 3:3). E, assim, estabelecemos a lei.

A fé só existe de fato onde não houver apenas crença na Palavra de Deus, mas submissão da vontade a Ele; e onde houver um coração que se entregue a Ele, e cujas afeições se fixam nEle. Num ambiente assim, a fé realmente existe e opera pelo amor e purifica a alma. Através dessa fé, o coração é restaurado à imagem de Deus. 

E o coração que, em seu estado não restaurado, não era sujeito à lei de Deus, e nem o podia ser (cf. Rm 8:7), agora se deleita em Seus santos preceitos. A Bíblia nos diz que “Deus é amor” (1Jo 4:8), e Sua lei é uma expressão desse amor; e Cristo é esta lei do amor expressa na vida. Assim, quando recebemos Cristo no coração, o amor, fruto do Espírito, é recebido também no coração. 

E quando o princípio do amor é implantado no coração, cumpre-se a promessa da nova aliança: “Na sua mente imprimirei as Minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei” (Hb 8:10; cf. Caminho a Cristo, p. 60). Essa experiência é real porque “o cumprimento da lei é o amor” (Rm 3:10). É dessa forma que “estabelecemos a lei” pela fé.

Após a lei ser estabelecida no coração, pela fé, por permanecermos em Cristo, e O deixarmos habitar em nós, a Ele que é a lei viva, será então demonstrado na vida o fruto de tal união com Cristo. “Quem permanece em Mim, e Eu, nele, esse dá muito fruto” (Jo 15:5). 

Dessa forma, ficaremos “cheios do fruto de justiça” (Fl 1:11). Agora, a lei, que revelava o pecado, mas não podia conferir justiça, testemunha do caráter da justiça que recebemos pela fé em Cristo. “Mas agora, a justiça de Deus, sem a lei, é manifesta, testemunhada pela lei e pelos profetas” (Rm 3:21). 

A lei revela o pecado ao definir o que é justiça e nos mostrar o caráter de Deus. O evangelho revela a justiça: “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho” (Rm 1:17). Nós recebemos essa justiça como o dom gratuito de Deus, quando recebemos Jesus Cristo. 

A lei não pode nos dar aquilo de que precisamos. Ela nos leva a Cristo, e ali recebemos o que ela exige, mas não pode dar. Então, voltamos à mesma lei, e ela dá testemunho do fato de que a justiça que recebemos em Cristo Jesus é a mesma justiça que ela exige, mas não pode comunicar.

Esse era o plano de Deus para que os que cressem em Cristo pudessem alcançar a justiça. Deus ofereceu em Seu Filho a perfeita justiça da lei. Em todos os que abrirem o coração completamente para receber a Cristo, a própria vida de Deus, Seu amor, fará morada neles e os transformará à Sua própria imagem. 

Dessa forma, mediante o dom gratuito de Deus, haverão de possuir a justiça exigida pela lei (cf. O Maior Discurso de Cristo, p. 54, 55).

As palavras “abolir”, “tirar”, “destruir” e “mudar” têm estado tão persistentemente conectadas com a lei, da parte de alguns pregadores populares, que chega a existir na mente de muitas pessoas a convicção honesta de que Cristo efetivamente fez tudo isso para com a lei. 

É verdade que Ele veio para “abolir” algo, “tirar” algo, “destruir” algo e “mudar” algo. Porém, é importante saber exatamente o que foi que Ele aboliu, e o que Ele tirou, e o que Ele destruiu, e o que Ele pretendeu mudar com Sua obra em favor do homem. Esses questionamentos podem ser facilmente esclarecidos pelas Escrituras.

O que foi Abolido

Está escrito que nosso Salvador, Jesus Cristo, “destruiu a morte, [e] trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho” (2Tm 1:10). Morte é o resultado do pecado. “E o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tg 1:15). 

Mas “pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3:4). Cristo, portanto, veio para abolir o estado resultante de estar em desarmonia com a lei. Isso Ele fez, não abolindo a lei, mas trazendo-nos à harmonia com a lei. o que foi tirado

Lemos que Cristo “Se manifestou para tirar os nossos pecados (1Jo 3:5, ARC). Ele é o portador dos pecados. Pedro nos informa que Cristo “carreg[ou] […] em Seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (1Pe 2:24). Pecado é ilegalidade (anomia no grego; cf. 1 João 3:4), e Cristo Se manifestou para tirar, não a lei, mas a ilegalidade. 

O que ele veio destruir

A atitude de Cristo para com a lei é demonstrada na seguinte profecia de Isaías: Ele irá “engrandecer a lei e fazê-la gloriosa” (Is 42:21). 

Em Seu sermão da montanha, que é, em si mesmo, nada mais do que a interpretação dos princípios contidos nas palavras ditas a Moisés no Monte Sinai, Cristo disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5:17). “Ele veio para explicar a relação da lei para com o homem, e exemplificar-lhe os preceitos mediante Sua própria vida de obediência” (O Desejado de Todas as Nações, p. 308). 

As Escrituras nos informam que “para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo” (1Jo 3:8). As obras do diabo são aquelas que contrariam a lei de Deus. “O diabo peca desde o princípio (1Jo 3:8, ACF), e, em todos os casos, “pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3:4).

Além disso, Cristo veio para destruir o próprio diabo. Satanás introduziu neste mundo a rebelião contra Deus e Sua lei. Nesse contexto, a missão de Cristo, bem como Sua obra, consistiu em dar um basta à rebelião e um fim ao seu instigador. A fim de fazer isso, Ele tomou nossa carne, “para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo” (Hb 2:14).

O que ele veio mudar

É um bendito conforto sabermos que uma mudança foi operada por Cristo ao dar-Se a Si mesmo pelo homem. Certamente houve a necessidade de que ocorresse uma mudança. 

Os homens estavam longe da justiça, […] alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração (Ef 2:12). Mas Deus, sendo rico em misericórdia, […] nos deu vida juntamente com Cristo, […] e, juntamente com Ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 2:4-6).

E assim, “todos nós […] somos transformados, de glória em glória, na Sua própria imagem” (2Co 3:18). Contudo, mais do que apenas uma mudança de caráter nos foi provida. As Escrituras nos apresentam a promessa de restauração final: 

Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua glória (Fl 3: 20, 21).

[…] nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta (1Co 15:51, 52).

Gloriosa mudança! Um caráter renovado e um corpo renovado! Essa é a plenitude da salvação que nos é dada em Cristo Jesus.

Torna-se evidente, com base no ensinamento das Escrituras, que Cristo veio para abolir, não a lei, mas a morte; Ele veio para lançar fora, não a lei, mas os nossos pecados; Ele veio destruir, não a lei, mas o diabo e suas obras; veio para mudar, não a lei, mas a nós. Ele fez tudo isso “pelo sacrifício de Si mesmo” (Hb 9:26). Se a lei pudesse ser mudada ou abolida, Cristo não precisaria ter morrido.

o Pecado é transitório – A Lei é eterna

De diferentes maneiras Deus nos ensina que o pecado é transitório, enquanto a lei é eterna. Certa ocasião, quando Jesus estava ensinando, “os escribas e fariseus trouxeram à Sua presença uma mulher surpreendida em adultério”, e perguntaram-Lhe o que deveria ser feito nesse caso. 

Eles não perguntaram porque desejavam ser instruídos, mas “tentando-O, para terem de que O acusar”. Após os algozes da mulher terem feito sua acusação, “Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo” (Jo 8:3, 6). “Apesar de fazer isso sem aparente propósito, Jesus estava traçando na areia, em caracteres legíveis, os pecados particulares dos quais eram culpados os acusadores da mulher” (The Spirit of Prophecy, vol. 2, p. 350). 

Jesus, portanto, escreveu o registro de pecados sobre a areia. Quão facilmente tal registro poderia ser apagado! Um sopro de vento ou uma borrifada de água, e já não mais existiria. 

Mas Deus escreveu Sua lei, com o próprio dedo, sobre tábuas de pedra – um imutável e imperecível registro de Seu próprio caráter. Esta mesma lei, Ele a escreve no coração do crente, para permanecer ali por toda a eternidade, pois “aquele […] que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2:17). 

O pecado e a morte, resultantes do pecado, serão aniquilados, pois “o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1:7), e “tragada [será] a morte pela vitória” (1Co 15:54). A Bíblia diz ainda: 

Todos os Teus mandamentos são justiça (Sl 119:172).

A Tua justiça é justiça eterna (Sl 119:142).

Ouvi-Me, vós que conheceis a justiça, vós, povo em cujo coração está a Minha lei (Isa 51:7).

Minha salvação durará para sempre, e a Minha justiça não será anulada (Isa 51:6).

Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre (Hb 13:8).

A própria acusação feita contra Deus por Satanás foi a de que Seu plano de governo era defeituoso, e Sua lei, imperfeita. 

Na verdade, toda a controvérsia entre Cristo e Satanás tem sido conduzida tendo como pano de fundo o seguinte aspecto: será o governo de Deus reconhecido e Sua lei respeitada neste mundo? Ou irá a rebelião vencer e o reino de Satanás ser estabelecido aqui? 

Não está claro, portanto, que todo aquele que hoje toma a posição de que a lei de Deus foi mudada ou abolida está, na verdade, pondo-se ao lado do “deus deste século” (2Co 4:4) e opondo-se ao “Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”? (Ef 1:3). 

Deus, porém, mostrará, para a satisfação do Universo, após ter desmascarado toda obra de satanás, que Sua lei é perfeita e Seu governo é justo:

Quem Te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? Porque só Tu és Santo; por isso, todas as nações virão e se prostrarão diante de Ti, porque os Teus juízos são manifestos (Ap 15:4, ARC).

Um Padrão necessário

Se aceitarmos a alegação de que a lei de Deus foi mudada ou abolida, chegaremos à conclusão de que não há mais qualquer padrão que teste o caráter da justiça que os homens pretendem ter recebido pela fé. 

Cada um então estará em plena liberdade para estabelecer seu próprio padrão a fim de satisfazer suas próprias inclinações. Um ensinamento dessa natureza está atualmente produzindo seu legítimo fruto neste mundo. 

A santa lei de Deus não é mais conclamada às consciências dos homens para convencê-los do pecado como o foi em dias passados. Por essa razão, a necessidade de um Salvador não é sentida no mesmo grau. Sem um padrão para testar a professa justiça dos homens, a contrafação passa por genuína, e a religião verdadeira é reprovada. 

É universalmente reconhecido que há uma extrema necessidade de se ter um padrão para todas as transações entre os homens. É por essa razão que temos, por exemplo, padrões de peso e medida. 

Sem esses e outros padrões haveria a mais terrível confusão no mundo dos negócios. Além disso, esses padrões não podem ser variáveis. Um padrão variável, simplesmente não é padrão. Porventura é o homem mais sábio que Deus? Disse acertadamente uma escritora cristã:

Fossem os homens livres para se apartar das reivindicações do Senhor e estabelecer uma norma de dever para si mesmos, e haveria uma variação de normas para se adaptarem aos vários espíritos, e o governo seria tirado das mãos de Deus. 

A vontade do homem se tornaria suprema, e o alto e santo querer de Deus – Seu desígnio de amor para com Suas criaturas – seria desonrado, desrespeitado (O Maior Discurso de Cristo, p. 51, 52).

Função da Lei

A função da lei de tornar o pecado conhecido e testemunhar da justiça recebida por meio da fé em Cristo pode ser ilustrada pela maneira como se usa um espelho. Quando homem se olha no espelho, pode descobrir que sua face está manchada com sujeira. O espelho não colocou a sujeira lá, e nem pode tirá-la dali. 

Ele simplesmente revela sua presença. Outros meios devem ser utilizados para remover a mancha. Quando isso é feito, o mesmo espelho é usado para testificar de que a face está limpa. 

Mas suponha que o homem quebre ou jogue fora o espelho, pelo fato de ter o mesmo mostrado que sua face está manchada, e agora, não plenamente satisfeito com isso, tente ele fazer a limpeza por si só. 

Pergunto: o que irá agora indicar sua satisfação pelo êxito de seus esforços? Ele pode se sentir melhor pelo fato de ter feito algum esforço para se limpar, porém pode ter feito somente um serviço incompleto, ou até piorado as coisas. 

Da mesma forma, estamos manchados pelo pecado. A lei revela esse fato; contudo, ela não pode nos limpar. Existe, porém, “uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza” (Zc 13:1). 

Nessa fonte podemos nos lavar e ficar limpos. A lei testifica do caráter da obra efetuada em nosso favor por “Aquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados” (Ap 1:5, ARC). 

Mas se a lei for mutável, ou se ela tiver sido abolida, somos deixados em incerteza. Nesse caso, a justiça própria pode passar por justiça, porque as pessoas se sentem satisfeitas em tentar alcançar o padrão que elas mesmas estabeleceram.

O Penhor de uma Lei imutável

O fato de a lei de Deus não ter sido posta de lado é o penhor de nossa segurança no Céu: “Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade” (Tg 2:12). 

Essa lei é o padrão no juízo. Harmonia com a lei de Deus é a condição de entrada no reino. Todo aquele que busca ser admitido ali é testado por ela. A lei é um transcrito do caráter de Deus. Para não ser lançado fora do reino, faz-se necessário alcançar esse padrão em sua perfeição. 

Contudo, não podemos alcançar tal padrão, a menos que recebamos Cristo; e quando recebemos Cristo, sabemos que temos o padrão que passará no teste. 

Se qualquer um fosse admitido no reino sem estar em harmonia com a lei de Deus, tal pessoa levaria o pecado para dentro do mundo vindouro. O próprio fato de que a lei de Deus não pode ser mudada e nem abolida é nossa segurança no reino eterno, a garantia de que “não se levantará por duas vezes a angústia” (Na 1:9).

A Lei sem Cristo e A Lei em Cristo

Observem a diferença entre a lei de Deus como um código rígido, e a mesma lei vinda a nós em Cristo. Uma ordem que, sem Cristo, é uma regra rígida, em Cristo se torna uma promessa viva. 

A lei, sem Cristo, como simples código rígido, diz: “Faça isso” e “Não faça aquilo”. Mas a mesma lei, em Cristo, se torna uma viva promessa, uma dentre as “preciosas e mui grandes promessas” (2Pe 1:4) que Deus tem nos dado. “Em toda ordem ou mandamento dado por Deus, há uma promessa, a mais positiva, a fundamentá-la” (O Maior Discurso de Cristo, p. 76). 

Quando lemos: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra” (Mt 5:5), vemos aí claramente uma promessa. Quando lemos na lei: “Não matarás”, podemos ler esse mandamento sem Cristo, simplesmente como uma ordem; por outro lado, podemos lê-lo em Cristo como uma promessa viva. 

Em outras palavras, Cristo, por meio de Sua vida, promete a cada um de nós: “Tu não matarás”. Eu não posso, de mim mesmo, deixar de odiar, mas isso significa quebrar o sexto mandamento. Tento não fazer isso, mas ainda faço. 

Dou meia volta e descubro que essa mesma ordem, em Cristo, escrita pelo Espírito Santo do Deus vivo nas tábuas de carne do meu coração, brilha como uma promessa e me diz: “Tenho uma promessa para você. Você me recebeu. Por isso, você não vai matar”.

Sem Cristo, a lei, como um código, me diz: “Não furtarás”. Eu, porém, não consigo deixar de furtar. Dou então meia volta e descubro que essa mesma lei, em Cristo, brilha como uma promessa, e me diz agora: “Você é alguém que tem roubado. Eu tenho uma promessa a lhe fazer: Você não vai roubar”.

A lei revela o pecado ao definir o que é justiça, e então nos dirige a Cristo, Aquele que é o centro do evangelho. Ali a justiça da lei é revelada. 

[Ver Apêndice A, p. 149,“Carta 96, 1896, a Uriah Smith”]. obediência Plena

Obediência parcial é um caminho muito espinhoso; obediência plena é o fardo leve que nos é prometido. Quando dizemos ao Senhor que guardaremos todos os seus mandamentos, Ele imediatamente toma posse de nós e diz que o faremos. 

Não abolimos a lei pela fé; pelo contrário, “é a fé, e a fé somente, que nos torna participantes da graça de Cristo, a qual nos habilita a render obediência” (Caminho a Cristo, p. 60, 61). 

Tal obediência, porém, não é alcançada mediante a ordem “você deve obedecer”, dada ao crente, mas, sim, pelo abundante derramamento, em seu coração, do amor de Deus. Esse amor lhe dá a bendita certeza firmada nesta promessa: “Você obedecerá!”. 

A experiência de obediência não funciona assim: “Você deve cumprir a lei, caso contrário não vai viver”, mas assim: “Porque você vive agora nAquele que é o Deus vivo, você cumprirá a lei”. Isso é justiça pela fé. Essa é a genuína representação do evangelho.

O mesmo padrão de justiça foi estabelecido perante o homem em todas as eras. Nos tempos antigos, a instrução foi: “Teme a Deus e guarda os Seus mandamentos, porque isto é o dever de todo homem” (Ec 12: 13). 

A morte de Cristo não causou nenhuma mudança nesse ensinamento, pois “a circuncisão é nada, e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus” (1Co 7:19, ARC), e “este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; e os Seus mandamentos não são pesados” (1Jo 5:3, ARC). 

Além disso, a provisão para que alcancemos esse padrão de justiça também tem sido a mesma em todas as épocas. O Senhor disse dos antigos, através do profeta: 

Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o Meu Espírito e farei que andeis nos Meus estatutos, guardeis os Meus juízos e os observeis (Ez 36:26, 27). 

O mesmo fundamento de esperança para vitória na vida cristã nos é apresentado na oração inspirada do grande apóstolo: 

Ora, o Deus da paz, […] vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a Sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dEle, por Jesus Cristo (Hb 13:20, 21).

Síntese

Estamos agora preparados para resumir os resultados de nosso estudo sobre a relação entre a lei e o evangelho. Descobrimos que a lei revela o pecado, ao definir o padrão da justiça, e que a justiça requerida pela lei é revelada no evangelho. 

Descobrimos que o evangelho é o evangelho de Cristo, e que a justiça que ali é revelada é a justiça operada em nosso favor por Cristo por meio de Sua vida de perfeita obediência à lei de Deus. Dessa forma, o evangelho é a provisão de Deus não apenas para cumprir as exigências da lei por nós em Cristo, mas também para cumprir as exigências dessa mesma lei em nós por intermédio de Cristo. 

Isso é alcançado quando recebemos Cristo, a própria lei encarnada, dentro de nossos corações pela fé, de tal maneira que podemos dizer com o apóstolo: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20).

O fruto de tal união com Cristo é visto na vida que se harmoniza com a mesma lei que foi a inspiração para a vida dEle. E a lei que em primeiro lugar revelou o pecado, agora dá testemunho do genuíno caráter dessa justiça “que é pela fé de Jesus Cristo” (Rm 3:22, ARC). 

Assim, o que a lei não podia fazer, visto que estava fraca por causa da nossa carne, foi feito em nosso favor ao ser essa mesma lei posta na carne de Cristo, e, por meio dEle, em nossa carne, “para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:4).

Essas considerações nos conduzem à conclusão de que O EVANGELHO É SIMPLESMENTE A LEI EM CRISTO. Portanto, qualquer tentativa de abolir a lei constitui uma tentativa de abolir Cristo e o evangelho; e qualquer tentativa de mudar a lei representa uma tentativa de mudar o caráter de Cristo e desviar o propósito do evangelho. 

Um coração cheio de amor por Cristo e pelo Espírito da verdade não tem nenhum desejo de alcançar esses resultados. Ao contrário, dirá como o coração cheio de gratidão: “Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles ela não será uma pedra de tropeço” (Sl 119:165, tradução de Spurril).


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