No Poder do Espírito - 09 Cristo, nosso exemplo

no poder do espirito w. w prescot

The Bible echo, 3 e 10 de fevereiro de 1896, Pregado em 9 de novembro de 1895 

Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve” (Mt 11:28-30, ACF).

Quero chamar atenção especial para estas palavras: “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim”. Todo mundo sabe que Cristo é nosso exemplo na vida cristã. Seria inútil tomar tempo para explicar isso. Existem muitos que desejam imitar o exemplo de Cristo e muitos que não sabem como fazê-lo. 

Assim, o propósito de nosso estudo agora será, se possível, ajudar a como alcançar esse ideal. Estou certo de que todos os cristãos sabem que devem ser semelhantes a Cristo. Esse é o ensino mais claro das Escrituras. 

Temos a promessa de que, mesmo que o discípulo não seja maior que seu mestre, todos os que forem aperfeiçoados serão semelhantes ao Mestre. Nosso propósito é apresentar algumas lições claras e simples que, esperamos, sejam de grande ajuda para vocês compreenderem melhor como imitar a vida de Cristo.

Três Pontos definidos

Podemos nos demorar bastante nesse assunto, ocupar todo nosso tempo, e mesmo assim não conseguir deixá-lo bem definido em nossa mente. Quero, porém, deixar duas ou três lições fixadas em nosso coração, pois são a base de todas as outras lições. Para deixar claro em nossa mente o que significa aprender dEle, quero apresentar três pontos.

Devemos imitar o exemplo de Cristo de viver em Deus, com Deus e para Deus. Como viveremos segundo o modelo de Cristo, o qual viveu em Deus, com Deus e para Deus?

Cristo, o renovo

Cristo foi a revelação de Deus, a vida de Deus na Terra. Em Zacarias 6:12 o profeta fala Dele nos seguintes termos: 

Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; Ele brotará do Seu lugar [não do lugar errado, mas de onde Ele está – Ele brotará do Seu lugar], e edificará o templo do Senhor (Zc 6:12, ACF).

Aqui Cristo é citado como renovo, e Ele era o renovo de Deus. Mas sua raiz estava no Céu, sendo, porém, o renovo de Deus neste mundo. Ele é, em outro sentido, o braço de Deus. Deus estava no Céu, mas Ele estava esticando-se através de Jesus Cristo para alcançar este mundo. 

Como o renovo, Cristo cresceu como um broto, para tornar-se visível ao mundo. Deus Se encontra nas nuvens e nas trevas, mas quando Ele quis Se revelar ao mundo que tinha se separado dEle pelo pecado, Cristo veio como um renovo, ou uma ramificação do próprio Deus.

A fonte oculta de vida

Vocês sabem que as raízes de uma árvore estão escondidas sob o solo. No Entanto, elas são a fonte secreta da vida, e o que é visível, que chamamos de árvore, não passa de raiz que se sobressai à vista. Cristo era o renovo para o mundo, mas suas raízes estavam escondidas em Deus, e Ele foi manifestado para que o mundo visse o que Deus é. 

A vida de Cristo, quando esteve em carne, estava escondida em Deus, e Ele dependia de Deus tanto para a vida quanto para Seu serviço aqui, assim como nos cumpre também depender de Deus. Para ser claro, Ele tinha vida; “Porque assim como o Pai tem vida em Si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em Si mesmo” (Jo 5:26). 

Mas quando Ele veio para ser a revelação de Deus a este mundo, e um exemplo à humanidade, Ele se colocou no lugar da humanidade. Visto que a humanidade estava fraca, Ele veio fraco por causa da humanidade. 

Como a humanidade era dependente de um poder fora de si mesma, assim também Ele tornou-Se dependente. E disse: “Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim, quem de Mim se alimenta, também viverá por Mim” (Jo 6:57, ACF).

Ele assumiu uma posição de dependência, de fraqueza para que pudesse passar pela experiência daqueles a quem veio salvar. Sua vida estava escondida em Deus, e Ele dependia completamente de Deus e do ministério de Seus anjos.

A vida de Cristo em Deus

Não pensem que a vida de Cristo aqui era fácil só porque Ele era o divino Filho de Deus. Ele era o divino Filho de Deus, mas velou essa divindade. Contemplem a maravilhosa condescendência de Deus em Cristo. 

Apesar de ter poder, Ele Se tinha despido desse poder, e tornou-Se dependente. Essa verdade se encontra relatada nas Escrituras. O evangelho de João é o grande evangelho da vida. Vamos a ele quando queremos aprender sobre a vida. Nesse evangelho, Cristo diz: 

Se não faço as obras de Meu Pai, não Me acrediteis; mas, se faço, e não Me credes, crede nas obras; para que possais saber e compreender que o Pai está em Mim, e Eu estou no Pai (Jo 10:37).

Apesar de ser verdade que Jesus Cristo era a divindade velada na humanidade, também é verdade que Ele era a humanidade conservada na divindade. 

Em Sua humanidade Ele se apegava a Seu pai por ajuda, por força, por tudo de que Ele precisava como ser humano. Em Sua divindade, o Pai habitava nEle, e operava através dEle. Ele era a divindade na humanidade, as raízes chegando-se ao Céu. Assim Ele diz em João 14:10:

Não crês que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo não as digo por Mim mesmo; mas o Pai, que permanece em Mim, faz as Suas obras.

Ele rogou por Seus discípulos para “que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti” (Jo 17:21, ACF). Cristo era a união do divino com o humano, e nisso se encontra a perfeição da humanidade, porque a divindade opera dentro e através da humanidade.

“Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, Esse O revelou” (Jo 1:18, ACF). Notem a afirmação! O texto não diz: “que veio do seio do Pai”, mas: “que está no seio do Pai”. Havia tanta união entre Cristo e Seu Pai que onde Cristo estava, ali estava o Pai. Assim, Ele estava no seio do Pai quando esteve aqui na Terra. Sua vida estava escondida em Deus por causa de nós.

A vida de Cristo Com Deus

Vamos considerar agora a vida de Cristo com Deus. Ela, em outras palavras, significava Sua comunhão com Deus, Sua amizade com Deus. Enquanto Sua vida estava com Deus, esta fluía também através da humanidade. 

Além disso, Cristo, ao pôr-Se na posição de humano, Ele Se torna como vaso vazio que deve ser enchido pelo Pai. Ele Se coloca numa posição em que, através de Sua comunhão com Deus, Ele recebia de Deus o que dava ao mundo. Em Sua última oração Ele disse: “Porque Eu lhes tenho transmitido as palavras que Me deste”; “Eu lhes tenho transmitido a glória que Me tens dado” (Jo 17:8, 22).

Ele ficou entre o homem e Deus, para receber de Deus, do Seu lado divino, e alcançar a humanidade com Seu lado humano, fazendo assim uma conexão completa entre o divino e o humano. 

Convém ressaltar, porém, que, ao assim fazer, Ele sujeitou-Se às mesmas condições em que nós nos encontramos. Ele não tinha nada em Si mesmo, Ele se esvaziou, e tornou-Se um canal de bênção, luz e poder, vida e glória para o homem. O que Ele trouxe ao mundo, trouxe porque o Pai Lhe concedeu. Ele precisava ir ao Pai para conseguir o que o Pai daria por meio dEle ao mundo graças a Sua dependência.

A fonte de força de Cristo

Assim, vemos frequentemente Cristo indo ao Pai para comunhão, buscando força dEle. Vamos ler dois ou três versos que enfatizam esse ponto: E, levantando-Se de manhã, muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava (Mr 1:35, ACF).

Por quê? Porque Ele tinha um dia diante dEle para revelar o Pai, um dia para oferecer Deus ao povo. Por isso, Ele precisava acordar antes do amanhecer, e ir ao Pai, e em comunhão e amizade com Ele, receber dEle o que havia de dar ao povo.

E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batizado também Jesus, orando Ele, o céu se abriu; e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia: Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo (Lc 3:21-22, ACF).

Os Céus se abriam para Cristo quando Ele orava. Os Céus estarão abertos a nós quando orarmos.

Subindo ao monte Para orar

Cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras, tomando consigo a Pedro, João e Tiago, subiu ao monte com o propósito de orar. E aconteceu que, enquanto Ele orava, a aparência do Seu rosto se transfigurou e Suas vestes resplandeceram de brancura (Lc 9:28-29).

Mas eu lhes digo que Ele fez mais do que uma curta oração naquela noite. Cristo fazia orações curtas em público, mas quando entrava em comunhão com Deus nas horas da noite, era ali que Ele derramava Sua alma diante de Deus, saindo de Sua fraqueza, e Se apegando a Deus, não apenas por Si mesmo, mas por todo o povo, por causa de nós, para que Ele pudesse tomar posse do poder divino. E foi enquanto orava que Seu semblante foi alterado.

Foi quando Moisés esteve na presença de Deus que sua face brilhou com a glória de tal maneira que, quando voltou, o povo não conseguia permanecer diante dele. 

Foi quando Cristo, como nosso representante, orou naquela noite na montanha, até que Seus discípulos dormissem e o orvalho da noite caísse sobre Ele, que os céus foram abertos para Ele. É em nossa comunhão com Deus que a glória repousa sobre nós, e nossas vestes empoeiradas se transformam em vestes brancas da justiça de Cristo.

A vida de Cristo Para Deus

E foi assim, em resposta à Sua comunhão com o Pai, que Ele recebeu de Deus as bênçãos para dar à humanidade. Agora, tendo uma vida em Deus, mantida pela comunhão com Deus, aquela vida de poder deveria ser usada para Deus. 

A vida de Cristo foi uma vida de sacrifício, uma vida de serviço para Deus. Ele era o representante de Deus, assim como era o representante da humanidade. Ele foi enviado para este mundo para representar o caráter divino, e também para mostrar que o caráter divino é possível revelar-se na humanidade.

Não pensem que Deus é um ser distante. A vida e experiência de Cristo serviram para mostrar ao mundo que Deus pode habitar na humanidade; que Deus fez da humanidade um templo de Sua habitação. 

E Cristo recebeu a presença do Pai habitando em Sua humanidade para mostrar que a humanidade pode ser templo para o Deus vivo.

Cristo passou toda a Sua vida em serviço para Deus. Toda a força recebida do Pai em Suas horas de oração O acompanhou no ministério. Ele alimentou, ensinou e trabalhou pelo povo, cansou-Se ao andar por toda a Judéia, dando a Sua vida pelo Seu povo. Por fim, deu Sua vida na cruz por eles. Esta é a vida de Cristo, em Deus, com Deus, e para Deus.

A vida de Cristo deve se repetir em nós

Sinto grande alegria quando medito na vida de comunhão e serviço de Cristo aqui neste mundo. Esse quadro da vida de Cristo deve estar sempre diante de nossa mente. 

Gostaria, porém, de dizer-lhes que a única razão pela qual esses episódios da vida de cristo foram registrados nas páginas da História é porque Deus intenciona que a mesma experiência se repita em nós. É propósito de Deus que sejamos semelhantes a Cristo; e Ele fez provisão para que isso aconteça. 

Sei que somos fracos, somos indefesos e indignos. Mas sei também que Deus fez provisões maravilhosas. Deus sabia que éramos indignos. Por isso, Ele fez provisão para que, por meio da mesma humanidade como a que temos hoje aqui, tendo fé em Cristo, Ele pudesse revelar em nós Seu caráter e nos tornar canal de benção para o mundo. 

Esse é o desígnio de Deus para nós. Devemos nos alegrar nesse pensamento. Tiremos nossos olhos das coisas comuns e baratas e das quedas da experiência cristã, e olhemos para o trono de Deus e de Cristo, nosso advogado, que ali está para interceder por nós. Creiamos que Deus pretende que tenhamos uma maravilhosa esperança em Seu Filho. Este é o Seu plano, e para isso Sua graça é suficiente.

Nossa vida, assim como a de Cristo em Seu ministério terrestre, deve estar em Deus, com Deus e para Deus. “Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:3, ACF). 

Essa experiência é para nós, e devemos relembrar a cada dia que não temos vida em nós mesmos, que não temos poder algum em nós mesmos, mas que toda nossa vida e poder devem vir de Cristo. Nossa vida, assim como a de Cristo, deve estar entre a montanha e a multidão, subindo a montanha com Deus, conseguindo o que Ele tem para nós, para que possamos compartilhar com as pessoas ao nosso redor.

Quando Cristo alimentou os milhares com Seu milagre, Ele não entregou com Suas mãos o pão ao povo. Ele abençoou o pão, o partiu e deu a Seus discípulos; e foram eles que deram ao povo. 

Devemos ir a Cristo, e Ele abençoará o pão, e o receberemos de Suas mãos. Dessa forma, com um pão abençoado por Ele, e tendo nEle vida e salvação, devemos levá-lo ao povo. E assim devemos continuar nossa vida de comunhão com Deus. vida de Comunhão Com deus

E essa vida de comunhão deve ser, nos mínimos detalhes, semelhante à de Cristo. Devemos nascer no Espírito como Ele nasceu no Espírito; devemos ser batizados pelo Espírito Santo assim como Ele o foi. 

Quando enfrentarmos a tentação, devemos enfrentar como Ele – levados pelo Espírito. Quando retornarmos da vitória sobre a tentação, devemos retornar como Ele, no poder do Espírito. Quando pregarmos, devemos dizer como Ele disse:

O Espírito do Senhor está sobre Mim, pelo que Me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-Me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos (Lc 4:18).

Ele foi batizado pelo Espírito Santo, e “andou fazendo bem” (At 10:38, ACF). Ele desviava-Se do Seu caminho para dar oportunidade a alguém de se beneficiar dEle. Sua vida foi de serviço e sacrifício próprio. E Ele nos chama a seguir Seu exemplo, não com nossa própria força, mas tendo uma vida em Deus, enraizada no Céu. Ele nos ordena a vir com coragem ao trono da graça, para “recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4:16).

Aprendendo com o serviço

Nossa vida, sendo uma vida com Deus no poder do Espírito, deve também ser uma vida para Deus. Muitas vezes somos impedidos de ter uma experiência mais plena por estarmos com medo de Deus. 

Tememos que, se nos entregarmos completamente e sem reservas a Ele e dissermos “na morte ou na vida, na saúde ou na doença, toda minha vida será para Deus”, então Deus nos chamará para fazer algo que não queremos. 

Na verdade, é esse medo que impede Deus de Se revelar a nós e em nós. Deus não Se revela falando de Si mesmo. Ele diz: “tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim”. Em outras palavras, Ele nos chama para aprender pelo serviço.

Não entramos na escola de Cristo para que Ele nos conte a teoria da vida cristã, como simplesmente algo a ser estudado por nós. Deus nos dá o conhecimento de Si mesmo, revelando-Se em nós. 

E quando Ele quer que conheçamos a experiência e a vitória da fé, Ele nos leva até um Mar Vermelho para nos ensinar o que significa essa vitória. É através da vida com Deus que aprendemos de Deus. 

Nossas mentes podem estar cheias de ótimas teorias. Contudo, elas serão inúteis, a menos que conheçamos quem é Deus por vermos o que Ele faz por nós, e por observarmos o que Ele pode fazer por aqueles que creem nEle, permanecem nEle e O deixam operar.

Temos grandes lições a aprender sobre Deus, e a lição fundamental é: “andar na luz”. Tudo depende da luz. Tire-a e as flores morrerão, pois elas vivem na luz. Tire a luz de Deus de nós, e nossa experiência cristã desaparecerá, mas a luz continuará. Ela não cessa, mas está sempre em movimento, e cabe a nós nos mover com ela para continuarmos com a luz que temos e abrirmos o canal para mais luz. Vamos ver agora nossa vida para Deus.

Negando o eu

Em Mateus 16:24 lemos: “Então, disse Jesus a Seus discípulos: Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me”. “Negue-se a si mesmo”. 

Essas palavras têm um significado muito mais amplo do que se distanciar de um lugar de diversão ou abandonar algum alimento que agrade ao paladar e não à saúde. 

Elas significam o sacrifício do eu, a deserção do eu, o esvaziamento do eu, a própria negação do eu. Pedro negou a Cristo quando disse: “não O conheço”. Essa atitude é um exemplo de como devemos tratar o eu. 

O eu se levanta e pede reconhecimento? Então diga: “Não te conheço”. Assim como Pedro claramente negou Cristo três vezes, assim nós, quando o eu se levantar e quiser nos controlar, devemos dizer: “Não te conheço; não terei nada a ver contigo”. Neguem o eu, deserdem o eu, deixem que ele morra, e mantenham-no morto.

Paulo disse: “Eu morro a cada dia!” (1Co 15:31, KJV). Muitas pessoas são atormentadas em sua experiência humana porque o eu se ergue continuamente. “Nossa”, dizem elas, “eu pensei que havia ganho completa vitória ontem, e que meu eu havia sido crucificado”. 

O eu estava crucificado enquanto a fé que o expulsou o manteve fora. Mas no momento em que a fé vacila, o eu se levanta e reafirma o seu poder. A fé que mata o eu deve mantê-lo morto. O eu deve ser crucificado diariamente, e a cada momento, através da fé em Jesus Cristo.

“Então, disse Jesus a Seus discípulos: Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me” (Mt 16:24) Gostaria de relembrar-lhes hoje o que está incluso na cruz de Cristo [cross, em inglês]. Vamos soletrá-la:

C – Crucificação. A primeira letra representa a primeira lição da cruz. Paulo disse em sua carta aos Gálatas: 

Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si Mesmo Se entregou por mim (Gl 2:20).

E novamente falou nesta mesma carta:

Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo (Gl 6:14).

Tomar a cruz significa morte para o eu. Levar a cruz significa morrer para eu diariamente e mantê-lo morto. Isso é crucificação, exatamente a primeira letra da palavra cruz [cross]. Temos a letra seguinte:

R – Ressurreição. Depois da crucificação está a ressurreição. “Porque, se fomos plantados juntamente com Ele na semelhança da Sua morte, também o seremos na da Sua ressurreição” (Rm 6:5). 

Gosto de uma outra versão que diz: “Porque, se nós fomos unidos juntamente com Ele na semelhança da sua crucificação, também o seremos na da Sua ressurreição”. 

Se você soletra o C, você pode soletrar o R, pois, “como Cristo foi levantado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós devemos andar em novidade de vida” (Rm 6:4). Cristo viveu Sua vida na Terra por nós. Ele foi crucificado pelas nossas ofensas, mas ressuscitou para nossa justificação. 

Não precisamos nos lamentar, pois Aquele que fez os céus e a Terra é nosso Salvador e vive hoje por nós. Ele disse quando esteve aqui: “Todo poder Me foi dado no Céu e na Terra”. Ele ganhou esse poder por meio de Sua morte, e quando foi levantado, ressuscitou em novidade de vida. Diz Paulo: 

Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus (Rm 6:10, 11).

E a nova vida para a qual somos renascidos não é a antiga vida do eu, 

mas é a vida de Jesus Cristo, aquela vida divino-humana, que não é simplesmente a vida de Deus fora da carne, nem a vida da carne fora de Deus, mas a vida de Deus que tem operado na carne humana. 

Essa vida chega a nós na ressurreição que se segue à crucificação do eu. Quando o eu morre, Cristo vive; onde o antigo homem foi enterrado, nasce o novo homem; onde o velho homem vivia em pecado, o novo homem anda com Deus. É a vida ressurreta no poder da ressurreição de Cristo.

Paulo disse em sua carta aos filipenses: 

[…] considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo (Fl 3:8).

Paulo, portanto, considerava a experiência do passado menos que nada, “para o conhecer, e o poder da sua ressurreição” (Fl 3:10). Nós, cristãos, precisamos do poder da ressurreição; precisamos da vida da ressurreição. 

Agradeço a Deus porque a ressurreição nos é oferecida. Não se satisfaça com nada menos do que isso. É o dom gratuito de Deus em Jesus Cristo. 

Se eu pudesse, faria com que todos que têm o mínimo de fé se apossassem grandemente do poder de Jesus Cristo. Não há perigo de acabar o suprimento. Seus recursos são infinitos, Seu amor é infinito e infinito é o Seu desejo por nós. Ele só está esperando que nos apeguemos a essa certeza pela fé. Graças a Deus por ser assim.

O – Obediência. Ela anda junto com a cruz. Para todos os que pensam que não podem obedecer à lei de Deus, eu digo: obedeçam ao evangelho! Se você tem medo da lei, obedeça ao evangelho, é o suficiente!. O que acontece com os que não obedecem ao evangelho? Leiamos o que diz Paulo:

E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando Se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do Seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do Seu poder (2Ts 1:7-9, ACF).

Amigos, obedeçam ao evangelho, e a lei não mais será uma ameaça para vocês. Obedeçam ao evangelho, pois sabemos da forma mais clara possível que o evangelho é simplesmente a lei em Cristo.

2 Coríntios 10:5 nos mostra até onde vai essa obediência:

Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2Co 10:5).

Aquele que não obedece ao evangelho no pensamento, não obedece ao evangelho de forma alguma. Aquele que não obedece a verdade em pensamento, não obedece à verdade de forma alguma. Nenhuma aparência externa pode satisfazer. 

A obediência deve estar na vida mais íntima da alma. A vida externa não será nada além de uma revelação do que está dentro. “A boca fala do que está cheio o coração”, disse Cristo em Lucas 6:45. Devemos lembrar que a glória do pensamento puro e da santa ação deve ser dada a Cristo, que nos amou e Se entregou por nós. A obediência se encontra bem no centro da cruz.

S – Sacrifício. Um autossacrifício, ou seja, um sacrifício que oferece o próprio eu, que faz uma entrega completa de tudo a Deus, que se consagra completamente e depõe tudo no altar de Deus. 

Quem assim se sacrifica não se importa com a opinião dos homens, mas busca unicamente a opinião de Deus; não se importa com a palavra dos homens, mas olha para Deus e busca em Jesus Cristo a Sua palavra. Aquele que se sacrifica vive a vida que Ele viveu na carne, pela fé do Filho de Deus que nos amou e Se entregou por nós.

S – Serviço. Uma vida entregue a Deus, dedicada completamente a Ele. A missão de Cristo aqui era salvar o perdido. Essa deve ser também a missão de cada representante Seu. 

Deixem-me dizer, meus amigos, no temor de Deus, que não estaremos limpos à Sua vista se não trabalharmos por Ele. O egoísmo não tem lugar no Céu. De fato, a menos que nos livremos do eu, nunca poderemos ir para o Céu. Jesus Cristo é o único que pode nos levar para lá. O eu, por outro lado, nos arrastará para o inferno. 

Deixemos que Jesus Cristo nos leve! Vamos consagrar nossa vida e tudo que temos ao serviço de Deus, apesar de tudo ser dEle. É demais pedir que deem a Deus o que já pertence a Ele? 

Qualquer coisa menor que esse sacrifício é roubar a Deus. Somos dEle por criação e por redenção. Pela boca dessas duas testemunhas fica, portanto, estabelecido que somos dEle. Assim, aja como pertencendo a Ele, e deixem que Ele aja como nosso proprietário.

O propósito da vida de Cristo no Céu agora é que a imagem de Deus apareça em nossa vida. Cristo viveu Sua vida aqui em carne para nos mostrar o significado da imagem de Deus. 

Mas Ele não está satisfeito com isso apenas. Ele quer que cooperemos com Ele, permitindo que esta vida seja vivida novamente em nós. Cristo disse aos Seus discípulos, logo antes de subir, que Ele enviaria o Seu Santo Espírito para habitar neles. 

Eu gostaria que isso ficasse bem claro em nossa mente: que o propósito de Deus é que a vida que Cristo viveu seja vivida pelos Seus seguidores. E que vivamos essa vida através da submissão e disposição em entregar nossa vida e deixar Deus ser glorificado em Jesus Cristo.

Esse é o verdadeiro significado da vida cristã! Se eu pudesse, imprimiria em cada cristão o significado de tal privilégio. Se você não O conhece, agarre-se a Jesus Cristo. 

Deus é capaz de fazer grandes coisas por nós. Ele prometeu fazer grandes coisas por nós, e Sua promessa nunca falha; elas se cumprem hoje, amém, em Jesus Cristo. O que Deus quer que façamos é que exerçamos fé em Suas promessas e O tratemos como nosso Pai amado, que nos deu tudo em Jesus Cristo.

Na cruz temos: crucificação, ressurreição, obediência, sacrifício e serviço. Tudo começa com a morte do eu, seguida pela ressurreição para uma nova vida, a vida de Cristo. Esta se manifesta por meio de implícita obediência a Deus, em Jesus Cristo, e se entrega em sacrifício aos outros. A esse respeito, lemos nas Escrituras:

Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a Sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos (1Jo 3:16).

Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos (Mt 20:28).

Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á (Mt 16:25).

Aquele que se apega ao desejo pessoal perecerá com o eu. Aquele que se despojar do eu viverá em Jesus Cristo, e achará uma vida que harmonize com a vida de Deus.

Abandono do eu: só uma questão de tempo

A questão é quando iremos abandonar a vida centrada no eu. Vocês 

estão bem cientes de que os dias da nossa vida não passam de:

[…] setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos (Sl 90:10).

Abandonaremos nós a vida do eu e receberemos a vida de Cristo? Ou nos apegaremos a essa vida até que seja tomada de nós e seja tarde demais para receber a vida de Cristo? Precisamos conhecer Deus face a face. Nós O conheceremos em Cristo ou no eu? 

Precisamos conhecer a lei de Deus. Conheceremos essa lei em Jesus Cristo ou em nós mesmos? Essa experiência chegará a todos. A pergunta a ser feita é a seguinte: chegará a nós em Cristo ou sem Cristo? Nossa segurança, nossa glória, nossa alegria está em conhecer essas experiências em Jesus Cristo.

Títulos na escola de Cristo

Gostaria de chamar sua atenção para a experiência de Paulo quando 

discípulo na escola de Cristo. Antes de se converter, Paulo era um discípulo na escola de Gamaliel. Não sei quais eram os costumes das escolas judaicas naquele tempo, ou se eles conferiram algum título a Paulo. 

Mas sei que ele era um homem bem instruído, e suponho que ele tenha absorvido toda a sabedoria daquela época conforme lhe havia sido ensinado nas escolas judaicas. Falando de si mesmo, em sua carta aos filipenses, ele disse: Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne. 

Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível (Fl 3:3-6).

Falando sobre o mesmo assunto, ele assim se expressa aos Gálatas: 

Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava. E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais (Gl 1:13-14).

Essa era a posição de Paulo quando se ingressou na escola de Cristo. Vamos acompanhar a experiência de Paulo na escola de Cristo, e ver os títulos que ele alcançou.

Tomando como modelo a titulação acadêmica americana, o primeiro título foi:

B.A (Bachelor of Arts): Born Again – Nascido de Novo

Este título é o primeiro título que qualquer pessoa recebe na esco-

la de Cristo. Escrevendo aos coríntios, Paulo disse: “E, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo” (1Co 15:8). Cristo disse: “Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3:7, ARC). 

Mas em estreita conexão com este “necessário” encontra-se outro. “E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado” (Jo 3:14). É necessário que nasçamos de novo, e é também necessário que o Filho do homem seja levantado, pois nEle se encontra a vida para o novo nascimento. Assim, o primeiro título é nascer de novo.

O próximo título que Paulo recebeu foi o seguinte:

M.A (Master of Arts): Moulded Afresh – Moldado Novamente

Ser refeito completamente pela nova vida. Paulo fala a esse respeito em Colossenses 3:9, 10:

Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem dAquele que o criou.

O primeiro título, nascido de novo, nos é concedido para que a nova 

vida, habitando em nós, possa nos remodelar à imagem de Deus.

O próximo título é:

D.D (Doctor in Divinity): Delivered Debtor – Devedor Liberto.

Após receber o novo nascimento e ser moldado para uma nova vida, a que ou a quem o cristão é devedor? Disse Paulo:

Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma (Rm 1:14-15). 

Paulo havia sido liberto. Agora sentia-se devedor para dar aos outros o que ele havia recebido. Ele recebeu esse título e com mérito. Sua vida era prova de que ele merecia de fato o título de D.D – um devedor liberto em Cristo que ofereceu sua vida para dar a outros o que Deus lhe havia entregue.

Creio que Paulo progrediu ainda mais na escola de Cristo e recebeu também o título mais avançado de:

LL.D (Doctor of Laws): Life Lovingly Dedicated – Vida Dedicada em Amor.

Estes são os títulos genuínos da escola de Deus: Novo Nascimento, Moldado Novamente, Devedor Liberto, Vida Dedicada em Amor. Esses títulos refletem a qualidade de vida do cristão que já discutimos: vida em Deus, vida com Deus e vida para Deus. Essa foi a experiência de Paulo, e Deus deixou essa experiência registrada porque ela pertence a cada filho Seu.

Poderíamos nos delongar mais sobre esse assunto, mas espero que nossas considerações tenham ajudado a firmar esses pensamentos na mente de cada um de vocês. Eles merecem ser muito mais comentados e ponderados do que as coisas insignificantes e comuns da vida. 

Que nossa mente se encha das coisas de Deus, da Palavra de Deus. Se vocês assim procederem, certamente Deus lhes comunicará grandes coisas de Sua palavra, e lhes revelará Seus profundos pensamentos. Procuremos alcançar esses títulos em nossa vida cristã. 

Nenhuma universidade fundada pelo homem pode conferir esses títulos a ninguém. Na escola de Cristo, porém, eles estão abertos a todos. Qualquer um que quiser se graduar com esses títulos, basta se matricular e frequentar a escola de Cristo e receber os títulos que ali estão disponibilizados.

Desejo que vocês levem consigo estes pensamentos hoje: Deus em Jesus Cristo viveu uma vida de perfeição na Terra. Ele vive agora no Céu, como nosso Sumo Sacerdote, fazendo interseção por nós. Esse Cristo recebeu do Pai a promessa de Seu Espírito para que pudesse nos conceder a vida que Ele viveu. 

O desejo de Deus é que o próprio caráter que foi formado em Jesus Cristo seja formado também em nós, para a glória de Deus. Se vocês acreditarem que Deus efetua essa obra na vida de cada um de vocês pela crucificação, pela obediência, pelo sacrifício próprio, pelo serviço, Deus abençoará grandemente a vida de vocês em Cristo Jesus.


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