No Poder do Espírito - 06 O verbo se fez carne

no poder do espirito w. w prescot


The Bible echo, 6 e 13 de Janeiro de 1896, Pregado em 31 de outubro de 1895 

 “E o verbo Se fez carne, e habitou entre nós” No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo “era Deus” (Jo 1:1).

(Jo 1:14). A Versão Revisada da Bíblia inglesa diz: “A Palavra tornou-Se carne”. O tema da redenção será a ciência e o cântico de eras sem fim, e é muito proveitoso que ele ocupe nossa mente durante a curta estadia que temos aqui. 

Nenhuma outra porção desse grandioso tema representa um desafio tão grande a nossa mente, a fim de que o compreendamos no mínimo grau que seja, como o assunto que estudaremos nesta noite – “O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós”. Tudo se fez por meio dEle; agora, Ele mesmo Se fez. 

Aquele que tinha toda a glória com o Pai, agora a deixa de lado e Se faz carne. Deixa de lado Seu modo divino de existência, e assume o modo humano, e Deus torna-Se manifesto na carne. Esta verdade é o próprio fundamento de todas as verdades.

Uma verdade auxiliadora

Jesus Cristo tornando-Se carne, Deus sendo manifesto na carne, constitui uma das verdades mais auxiliadoras, uma das mais instrutivas, a verdade acima de todas as verdades com a qual a humanidade se deve alegrar.

Nesta noite, desejo estudar este assunto para nosso benefício pessoal 

e presente. Vamos tentar nos concentrar ao máximo, pois, a fim de compreendermos que o Verbo Se tornou carne e habitou entre nós, é necessário que empenhemos toda nossa capacidade mental. Primeiro, consideremos que tipo de carne foi essa. Com efeito, esse é o próprio fundamento da questão, pois está pessoalmente relacionado conosco. Vejamos o que dizem as Escrituras:

Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também Ele, igualmente, participou, para que, por Sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida. 

Pois Ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão. Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, Se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados (Hb 2:14-18).

Para que Ele, mediante a morte, tendo sido feito sujeito à morte, tomando sobre Si a carne do pecado, pudesse, por meio de Sua morte, destruir aquele que tinha o poder da morte.

A versão King James da Bíblia inglesa diz: “Certamente Ele não tomou sobre Si a natureza dos anjos; mas tomou sobre Si a semente de Abraão” (Hb 2:16, KJV). 

A leitura da margem dessa mesma versão diz: “Ele não tomou posse de anjos, mas da semente de Abraão”. A Almeida Revista e Corrigida diz: “Ele não tomou os anjos”; e a Almeida Revista e Atualizada traduz da seguinte forma: “Ele, evidentemente, não socorre anjos”. Entenderemos a razão nos versos a seguir: 

Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, Se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus (Hb 2:17).

Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao Seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo (Gl 3:16).

Ora, verdadeiramente, Ele socorre a semente de Abraão, tornando-Se, Ele mesmo, semente de Abraão. Deus, enviando Seu único Filho em semelhança de carne pecaminosa, e pelo pecado, condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei fosse revelada em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito (cf. Rm 8:3, 4). 

Assim, vocês podem perceber que o que as Escrituras afirmam claramente é que Jesus Cristo teve exatamente a mesma carne que nós – a carne de pecado, carne na qual nós pecamos, na qual, entretanto, Ele não pecou; mas carregou nossos pecados nessa carne de pecado.  Não deixem de lado esse ponto. 

Sem levar em conta o modo como você considerou esse assunto no passado, considere agora como o exprime a Palavra; e quanto mais você enxergar o tema dessa maneira, mais razão terá para agradecer a Deus por haver sido assim.

O Pecado de Adão Como tipo

Qual era a situação? Adão havia pecado, e sendo ele o cabeça da família humana, seu pecado era um pecado típico, ou seja, tinha um caráter representativo. Deus fez Adão à Sua própria imagem, mas, devido ao pecado, aquela imagem se perdeu. Adão então gerou filhos e filhas, mas os gerou à sua própria imagem, e não à imagem de Deus. Assim, descendemos dessa linhagem, porém todos nós somos feitos à imagem de Adão.

Durante quatro mil anos foi assim. Então veio Jesus Cristo, feito de carne, e na carne, nascido de mulher, nascido sob a lei; nascido do Espírito, porém estando na carne.  

E que carne poderia Ele tomar a não ser a carne da época? Além disso, essa foi exatamente a carne que Ele planejou assumir, pois a questão era ajudar a tirar o homem da dificuldade na qual ele havia caído; e o homem é um agente moral livre. 

Ele deve ser socorrido como agente moral livre. A obra de Cristo não devia ser destruir o homem, criando uma nova raça, mas sim recriar o homem, restaurando nele a imagem de Deus. 

Pergunta indaga: “Até que ponto partilhou Jesus de nossa humanidade comum?” Após citar Hebreus 2:17, o estudo tece os seguintes comentários: “Em Rom. 8:3 e 4, Paulo declara corretamente que Jesus Cristo possuía a mesma carne que nós, carne de pecado, carne na qual pecamos, na qual, entretanto, Ele não pecou; mas carregou nossos pecados nessa carne de pecado. Por haver nascido na mesma família humana, Jesus é meu irmão na carne; ‘por cuja causa não Se envergonha de lhes chamar irmãos’ (Heb. 2:11)” (p. 66).

Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem (Hb 2:9).

Uma raça Perdida e desamparada

Deus fez o homem um pouco menor do que os anjos, mas o homem desceu ainda muito mais devido a seu pecado. Agora se encontra bem distante de Deus; contudo, deve ser trazido de volta novamente. 

Jesus Cristo veio para realizar essa obra; e, a fim de fazê-la, Ele veio, não para onde o homem se encontrava antes da queda, mas para onde este se encontrava após a queda. Esta é a lição da escada de Jacó. Estava colocada sobre o terreno onde Jacó se encontrava. Contudo, sua parte mais alta alcançava o céu. 

Quando Cristo vem para tirar o homem do poço, Ele não chega à beira do poço e diz: “Suba até aqui, e Eu lhe ajudarei a retornar”. Se o homem pudesse se ajudar a retornar ao ponto de onde havia caído, poderia fazer todo o resto. Se pudesse socorrer-se a si mesmo um único passo, poderia socorrer-se na questão toda. 

Porém, pelo fato de o homem estar completamente arruinado, fraco, ferido e despedaçado, ou seja, completamente impotente, Jesus Cristo desce lá em baixo, onde o homem está, e o encontra ali. Ele toma a sua carne e Se torna seu irmão. Jesus Cristo é nosso irmão na carne: Ele nasceu nessa família.

“um filho se nos deu”

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito”. Ele tinha apenas um único Filho, e Ele O entregou. E para quem Ele O entregou? “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu” (Is 9:6). 

O pecado causou uma mudança até mesmo no Céu, pois Jesus Cristo, por causa do pecado, tomou sobre Si a natureza humana, e hoje Ele veste essa natureza humana, e o fará por toda a eternidade. Jesus Cristo tornou-Se o Filho do Homem bem como o Filho de Deus. 

Ele nasceu em nossa família. Ele não veio como um ser angélico, mas nasceu na família, e nela cresceu. Em nossa família Ele passou pelo estágio de criança, adolescente, jovem e homem no completo vigor da vida. Ele é o Filho do homem, nosso parente, tendo a carne que nós temos.

Adão era o representante da família humana. Portanto, seu pecado foi um pecado representativo. Ao vir Jesus Cristo, veio para tomar o lugar em que Adão havia fracassado. “Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. 

O último Adão, porém, é espírito vivificante” (1Co 15:45). O segundo Adão é o homem Cristo Jesus, e Ele desceu para unir a família humana com a família divina. Deus é mencionado como o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, de quem toma o nome toda família, tanto no Céu como sobre a terra. 

Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo, veio, Ele próprio, para esta parte da família de Deus, a terrestre, a fim de que pudesse reavê-la, de modo a haver uma família novamente unida no Reino de Deus.

A família reunida

Ele veio e tomou a carne de pecado que esta família trouxera sobre si ao pecar, e, em favor deles, operou a salvação, condenando o pecado na carne. 

Adão fracassou em sua posição e, pela ofensa de um, muitos foram feitos pecadores. Jesus Cristo Se entregou, não apenas por nós, mas para nós, unindo-Se à família, a fim de tomar o lugar do primeiro Adão, e reaver, como cabeça da família, o que havia sido perdido pelo primeiro Adão. 

A justiça de Jesus Cristo é uma justiça representativa, do mesmo modo como o pecado de Adão foi um pecado representativo. Jesus Cristo, como segundo Adão, reuniu para Si toda a família [a celestial e a terrestre].

Contudo, houve uma mudança desde que o primeiro Adão tomou sua posição, e a humanidade tornou-se uma humanidade pecaminosa. O poder da justiça foi perdido. Para redimir o homem do lugar onde caíra, Jesus Cristo vem e toma a própria carne que a humanidade agora possui. 

Ele vem em carne pecaminosa e assume o caso onde Adão foi provado e falhou. Ele não Se tornou apenas um homem, mas tornou-Se carne; tornou-Se humano, e reuniu para Si próprio toda a humanidade, abraçando-a em Sua própria mente infinita e pondo-Se como representante de toda a família humana. 

A primeira coisa em que Adão foi tentado foi na questão do apetite. Cristo veio e, após um jejum de quarenta dias, o Diabo O tentou a usar Seu poder divino para prover alimento para Si. Notem que foi em carne pecaminosa que Ele estava sendo tentado, e não na carne na qual Adão caíra. 

Esta verdade é maravilhosa, e fico admirado e contente que seja assim. Segue-se, portanto, que, por nascimento, por haver nascido na mesma família humana, Jesus Cristo é meu irmão na carne, “por isso, é que Ele não Se envergonha de lhes chamar irmãos” (Hb 2:11). 

Ele entrou para a família, identificou-Se com a família, e é tanto o pai quanto o irmão da família. Como pai da família, Ele a defende. Veio redimi-la, condenando na carne o pecado, unindo a divindade com a carne de pecado. Jesus Cristo fez a conexão entre Deus e o homem para que o Espírito Divino pudesse descer sobre a humanidade. Ele preparou o caminho para a humanidade. eLe CArreGou As nossAs dores

Cristo veio para bem junto de nós. Não está nem mesmo a um passo de distância de qualquer um de nós. Ele tornou-Se “em semelhança de homens” (Fl 2:7). Agora, encontra-Se na semelhança do homem, e ao mesmo tempo mantém Sua divindade. Ele é o divino Filho de Deus. 

Consequentemente, pelo fato de Sua divindade ter-Se unido à humanidade, Ele irá restaurar no homem a semelhança com Deus. Tomando o lugar de Adão, Jesus Cristo tomou nossa carne. Tomou completamente o nosso lugar, a fim de que pudéssemos tomar o Seu lugar. 

Ele tomou nosso lugar com todas as consequências – e isso significou a morte – para que pudéssemos tomar o Seu lugar, com todas as consequências – e isto significa a vida eterna.

“Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Cor 5:21). Ele não era pecador, mas pediu a Deus que o tratasse como se fosse pecador, para que nós, que éramos pecadores, pudéssemos ser tratados como se fôssemos justos. “Certamente, Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre Si; e nós O reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido” (Is 53:4). 

As dores que Ele tomou foram as nossas dores, e Ele Se identificou com a nossa natureza humana de forma tão real que levou sobre Si todas as dores e todas as enfermidades de toda a família humana. “Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados” (Is 53:5). 

Aquilo que O feria nos curava, e Ele foi ferido para que fôssemos curados. “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos” (Is 53:6). 

Então Ele morreu, pois sobre Ele foi posta a iniquidade de todos nós. NEle não havia pecado algum, mas os pecados do mundo inteiro foram postos sobre Ele. Vejam o Cordeiro de Deus, que carrega os pecados do mundo inteiro: “E Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1Jo 2:2).

O Preço Pago em favor de Cada Pessoa

Gostaria que a mente de vocês captasse a verdade de que, quer a pessoa se arrependa ou não, ainda assim, Cristo levou suas enfermidades, seus pecados, suas dores, e ela é convidada a colocá-los sobre Cristo. Se cada pecador do mundo se arrepender de todo o coração, e se voltar a Cristo, o preço já foi pago. 

Jesus não esperou que nos arrependêssemos antes de morrer por nós. “Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (Rm 5: 8, ACF; 1Jo 4:10). 

Cristo morreu em favor de cada pessoa que se encontra aqui. Ele carregou suas enfermidades e levou suas dores. Ele simplesmente nos pede que as lancemos sobre Ele e deixemos que Ele as carregue.

Cristo, Justiça nossa

Além disso, cada um de nós estava representado em Jesus Cristo quan-

do o Verbo Se fez carne e habitou entre nós. Todos nós estávamos lá em Jesus Cristo. Todos nós estávamos representados em Adão segundo a carne; e quando Cristo veio como o segundo Adão, Ele tomou o lugar do primeiro Adão. 

Assim, todos nós estamos representados nEle. Ele nos convida a entrar para a família espiritual. Ele formou esta nova família, da qual Ele é a cabeça. Ele é o novo homem. NEle temos a união do divino com o humano.

Nessa nova família, cada um de nós está representado: 

E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu ao encontro deste (Hb 7:9).

Quando Melquisedeque saiu ao encontro de Abraão, ao este retornar com os despojos, Abraão pagou-lhe a décima parte de tudo que trazia. Levi ainda não havia sido gerado por Abraão, seu pai, mas pelo fato de ser ele seu descendente, aquilo que Abraão fez, as Escrituras nos declaram que Levi o fez, em Abraão. Levi descendeu de Abraão segundo a carne. 

Ele não era nascido quando Abraão pagou o dízimo. Mas ao Abraão pagar o dízimo, Levi também o pagou. É exatamente assim que acontece nessa família espiritual. O que Cristo fez como o cabeça dessa nova família, nós o fizemos nEle. 

Ele foi nosso representante. Ele Se tornou carne, Ele Se tornou nós. Ele não Se tornou simplesmente um homem, mas tornou-Se carne, e cada pessoa que nascesse em Sua família estava representada em Jesus Cristo quando Ele viveu aqui em carne. 

Podemos perceber, portanto, que todos os que se unem a essa família recebem crédito por tudo o que Cristo fez, como tendo sido feito por eles em Cristo. Cristo não era um representante separado ou desconectado deles. Na verdade, assim como Levi pagou o dízimo em Abraão, assim também todos os que haveriam de nascer nessa família espiritual fizeram o que Cristo fez.

O novo nascimento

Veja o que essa verdade significa com referência ao sofrimento vicá-

rio (ou substitutivo). Não que Cristo tenha vindo de fora e tomado nosso lugar como um intruso. Ao unir-Se conosco mediante Seu nascimento, toda a humanidade foi unida sob o Líder divino, Jesus Cristo. Ele padeceu na cruz. Assim, em Jesus Cristo, a família inteira foi crucificada. “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram” (2Co 5:14).

O que precisamos é entender individualmente o fato de que realmente morremos nEle. Por outro lado, embora seja verdade que Jesus Cristo pagou o preço total, carregou toda dor e assumiu a própria humanidade, é verdade também que homem algum recebe benefícios da condescendência de Jesus a menos que receba a Cristo, a menos que nasça de novo. 

Unicamente aqueles que nascem duas vezes é que podem entrar no Reino de Deus. Todos nós que nascemos na carne, devemos nascer novamente, nascer do Espírito, a fim de sermos beneficiados pelo que Jesus Cristo fez na carne, a fim de realmente estarmos nEle.

A obra de Cristo é de conceder-nos o caráter de Deus; e, nesse meio tempo, Deus olha para Cristo e para Seu perfeito caráter em vez de olhar para nosso caráter pecaminoso. 

No exato momento em que nos esvaziamos, ou permitimos que Cristo nos esvazie de nosso eu, e cremos em Jesus Cristo e O recebemos como nosso Salvador pessoal, Deus realmente olha para Ele como nosso representante pessoal. Assim, Ele não vê a nós e a nossos pecados; Ele vê a Cristo.

Nosso representante nas Cortes Celestiais

“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo” (1Tm 2:5, Almeida Antiga). No Céu, agora, existe um homem – o homem Jesus Cristo – que possui a nossa natureza humana; contudo, não mais com uma carne de pecado, mas sim a carne glorificada. 

Tendo vindo aqui e vivido na carne de pecado, Ele morreu; e no que Ele morreu, morreu para o pecado; e quanto a viver, vive para Deus. Quando Ele morreu, libertou-Se da carne de pecado e ressuscitou glorificado. Jesus Cristo veio aqui como nosso representante. 

Ele trilhou Seu caminho de volta ao Céu como membro da família: morreu para o pecado e ressuscitou glorificado. Viveu como Filho do homem, cresceu como Filho do homem, subiu como Filho do homem. Hoje, Jesus Cristo, nosso próprio representante, nosso próprio irmão, o homem Cristo Jesus, está no Céu, vivendo para interceder por nós.

Ele passou por cada uma de nossas experiências. Será que Ele não conhece o significado da cruz? Subiu ao Céu passando pela cruz, e nos diz: “Venham”. Foi isso que Cristo fez ao tornar-Se carne. Nossa mente humana fica chocada diante dessa questão. 

Como expressar em linguagem humana o que foi feito por nós quando “o Verbo Se fez carne e habitou entre nós”? Como expressar o que Deus nos deu? Ao entregar-nos Seu Filho, entregou o dom mais precioso do Céu, e O entregou para nunca mais tomá-Lo de volta. 

Por toda a eternidade o Filho do homem levará em Seu corpo as marcas feitas pelo pecado. Para sempre será Ele Jesus Cristo, nosso Salvador, nosso Irmão mais velho. Isso é o que Deus fez por nós ao entregar-nos Seu Filho.

Cristo se identificou Conosco

Esta união do divino com o humano trouxe Jesus Cristo para bem perto de nós. Não há uma pessoa sequer que esteja tão rebaixada que Cristo não possa estar com ela. Ele Se identificou completamente com esta família humana. 

No juízo, quando as recompensas e punições forem repartidas, Ele declara: “Sempre que o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mt 25:40). Cristo olha para cada membro da família humana como sendo Seu. 

Quando a humanidade sofre, Ele sofre. Ele é a humanidade. Uniu-Se a essa família. É o nosso cabeça; e quando em qualquer parte do corpo há uma pontada de dor, a cabeça sente. Ele uniu-Se a nós, unindo-nos, assim, a Deus, pois lemos nas Escrituras: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e Ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)” (Mt 1:23). unidAde em Cristo

Dessa forma, Jesus Cristo uniu-Se à família humana para que pudesse estar conosco estando em nós, da mesma maneira que Deus estava com Ele por estar nEle. O propósito de Sua obra era que Ele estivesse em nós, e que, como Ele representava o Pai, então nEle pudessem estar unidos os filhos, o Pai e também o Irmão mais velho.

Vejamos qual era Seu desejo em Sua última oração: 

A fim de que todos sejam um; e como és Tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles em Nós; […] Eu lhes tenho transmitido a glória que Me tens dado, para que sejam um, como Nós o somos; Eu neles, e Tu em Mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que Tu Me enviaste e os amaste, como também amaste a Mim. 

Pai, a Minha vontade é que onde Eu estou, estejam também comigo os que Me deste, para que vejam a Minha glória que Me conferiste, porque Me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não Te conheceu; Eu, porém, Te conheci, e também estes compreenderam que Tu Me enviaste. Eu lhes fiz conhecer o Teu nome e ainda o farei conhecer (Jo 17:21-26).

E as últimas palavras de Sua oração foram: “A fim de que o amor com que Me amaste esteja neles, e Eu neles esteja” (Jo 17:26). E quando subiu ao Céu, Suas palavras de despedida aos discípulos foram: “E eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28:20). Estando em nós, Ele está sempre conosco, e para que isso pudesse ser possível – para que pudesse estar em nós – Ele veio e tomou nossa carne.

Essa também é a maneira pela qual a santidade de Jesus opera. Ele possuía uma santidade que O habilitou a vir e habitar em carne pecaminosa, bem como glorificar a carne pecaminosa por Sua presença nela. Isso é o que Ele fez. 

Portanto, ao ressuscitar dentre os mortos, Ele foi glorificado. Seu propósito era que, tendo purificado a carne pecaminosa por nela haver habitado, pudesse então vir e purificar, em nós, a carne pecaminosa, e glorificar, em nós, a carne pecaminosa. Paulo assim se expressa: 

[Ele] transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua glória, segundo a eficácia do poder que Ele tem de até subordinar a Si todas as coisas (Fl 3:21). 

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8:29).

A eleição da Graça

Permita-me dizer que a questão toda da predestinação está vinculada nessa ideia. Existe uma predestinação: é uma predestinação do caráter. Existe uma seleção: é uma seleção do caráter. 

Todo aquele que crê em Jesus Cristo é eleito, e a totalidade do poder de Deus está por detrás dessa eleição para que a pessoa receba a imagem de Deus. Recebendo essa imagem, ela está predestinada a passar toda a eternidade no Reino de Cristo. Todos, porém, que não recebem a imagem de Deus estão predestinados à morte. Trata-se de uma predestinação de Deus em Cristo Jesus. Cristo fornece o caráter, e o oferece a quem quer que acredite nEle.

O âmago e o Princípio Vital do Cristianismo

Busquemos experimentar pessoalmente o fato de que Deus entregou Jesus Cristo para habitar em nossa carne pecaminosa, a fim de operar em nossa carne pecaminosa aquilo que Ele operou quando esteve aqui. 

Aqui veio e aqui viveu para que pudéssemos, por meio dEle, refletir a imagem de Deus. Essa verdade constitui o próprio âmago do Cristianismo. Qualquer coisa contrária a isso não é cristianismo. Leiamos o que João diz: 

Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus (1Jo 4:1-3). 

Ora, isso não significa apenas reconhecer que Jesus Cristo esteve aqui e viveu na carne. Os demônios reconheceram esse fato. Eles sabiam que Cristo havia vindo na carne. A fé que vem do Espírito de Deus diz: “Jesus Cristo veio na minha carne; Ele habita na minha carne; eu O recebi”. Este é o âmago e o princípio vital do cristianismo. 

O problema com o cristianismo de hoje é que Cristo não habita no coração dos que professam Seu nome. É como um estranho, alguém que é contemplado de longe, apenas um exemplo. 

Mas Ele é mais que um exemplo para nós. Ele nos revelou qual é o ideal de Deus para a humanidade, e então veio e viveu esse ideal aos nossos olhos, para que pudéssemos ver o que significa possuir a imagem de Deus. Então morreu e subiu para Seu Pai, enviando Seu Espírito, Seu próprio representante para viver em nós, a fim de que a vida que Ele viveu na carne possa ser vivida novamente por nós. Isso é cristianismo.

Cristo Precisa habitar no Coração

Não é suficiente falar de Cristo e da beleza de Seu caráter. Cristianismo que não tenha Cristo habitando no coração não é cristianismo genuíno. O verdadeiro cristão é unicamente aquele em cujo coração Cristo habita. Somente poderemos viver a vida de Cristo se Ele habitar em nós. 

Ele anseia que tomemos posse da vida e poder do cristianismo. Não se dê por satisfeito com nada menos que isso. Nem dê ouvidos a qualquer pessoa que lhe dirija por outro caminho. “Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl 1:27). Seu poder, Sua presença habitando no íntimo, isso é Cristianismo. 

É disso que precisamos agora; e agradeço a Deus por haver corações que anseiam por esta experiência, e que a reconhecerão quando vier. Não faz a mínima diferença qual tenha sido seu nome, ou a que igreja você tenha pertencido. Reconheça a Jesus Cristo e permita que Ele habite em você. 

Ao seguirmos por onde Ele nos guiar, saberemos por experiência própria o que significa cristianismo e o que significa habitar na luz de Sua presença. Garanto a vocês: esta é uma verdade maravilhosa. A linguagem humana é incapaz de adicionar, seja em palavras ou em pensamentos, ao que é declarado nesta frase: “O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós”. Esta é a nossa salvação.

O objetivo deste sermão não é meramente introduzir uma sequência de ideias. Em vez disso, tem como objetivo trazer a nossa alma uma nova vida, expandindo nossas ideias acerca da Palavra de Deus e de Seu dom, a fim de habilitar-nos a compreender Seu amor por nós. 

É disso que precisamos. Nada menos que isso será suficiente em face do que temos de enfrentar – o mundo, a carne, e o diabo. Entretanto, Aquele que é por nós é mais poderoso do que aquele que é contra nós. Tenhamos, pois, em nossa vida diária, a Jesus Cristo – “o Verbo” que “Se fez carne”.


Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem