Cristo disse: “Eu sou a porta” (João 10:9). É igualmente o redil, e também o Pastor. O homem supõe que é livre saindo fora do redil, e pensa que vir ao redil significa por obstáculos a sua liberdade; porém, é precisamente o contrário. O redil de Cristo é um lugar amplo, enquanto que a incredulidade é uma prisão estreita.
A largura do pensamento do pecador nunca poderá superar o âmbito do estreito. O verdadeiro pensador-livre é aquele que compreende “com todos os santos, a largura e a longitude, a profundidade e a altura do amor de Cristo, e [conhece] esse amor que supera a todo o conhecimento” (Efe. 3:18 e 19). Fora de Cristo não há mais que escravidão. Só nEle há liberdade. Fora de Cristo, o homem está em prisão, “seu próprio pecado o prende como um laço” (Prov. 5:22).
“Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei”. (1 Cor. 15:56). É a lei que declara pecador o homem, e lhe faz consciente de sua condição. “Pela lei vem o conhecimento do pecado”, e “o pecado não é imputado não havendo lei” (Rom. 3:20; 5:13). A lei revela as paredes da prisão do pecador.
O prende a ela, e faz que se sinta incômodo, oprimido pela sensação do pecado, como se o privasse da vida. O pecador se debate em vãos e frenéticos esforços para escapar, mas os Mandamentos se erguem ao seu redor como muros inexpugnáveis. Aonde quer que vá, sempre encontra um mandamento que diz: 'Você nunca poderá encontrar a liberdade por mim, pois tens pecado'.
Tenta colocar-se de bem com a lei e promete obedecer-lhe, mas a situação não melhora em nada, já que seu pecado permanece de qualquer maneira. A lei o perturba (aguilhoneia), e o leva à única via de escape: “a promessa... por meio da fé em Jesus Cristo”. Em Cristo torna-se verdadeiramente livre, já que é feito justiça de Deus. Em Cristo está a perfeita lei da liberdade.
A lei prega o Evangelho
Toda a criação fala de Cristo, proclamando o poder de sua salvação. Cada fibra do ser humano clama por Cristo. Embora o homem não saiba, Cristo é o “Desejado de todas as nações” (Ageu 2:7). Somente Ele pode “abençoar a todo vivente” (Sal. 145:16). Somente nEle se encontra o remédio para a inquietude e anseio do mundo.
Cristo, em quem há paz – já que “Ele é a nossa paz” –, está procurando os que estão cansados e sobrecarregados, e os chama para virem a Ele, e tendo em conta que todo homem tem anseios que nenhuma outra coisa no mundo pode saciar, fica claro que se a lei desperta no homem uma percepção clara de sua condição, e a lei continua perturbando-o, sem lhe dar descanso, impedindo-lhe qualquer caminho de fuga, o homem terminará por encontrar a porta de salvação, pois ela está aberta de par em par. Cristo é a cidade de refúgio para onde pode escapar todo aquele que está sitiado pelo vingador do sangue, com a segurança de que será bem-vindo.
Só em Cristo achará o pecador descanso do chicote da lei, porque em Cristo se completa em nós a justiça da lei (Rom. 8:4). A lei não permitirá que ninguém seja salvo, a menos que possua a justiça que vem de Deus pela fé” (Fil. 3:9), fé de Jesus.
25 Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio.
26 Porque todos vós sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus.
"A fé vem pelo ouvir, e pelo ouvir pela palavra de Deus (Cristo)” (Rom. 10:17). Quando o homem recebe a Palavra de Deus, a palavra da promessa que traz com ela a plenitude da lei, em vez de lutar contra, rende-se a ela, lhe “veio a fé”. O capítulo décimo primeiro de Hebreus demonstra que a fé veio desde o princípio. Desde os dias de Abel, o homem tem encontrado a liberdade por meio da fé. A fé pode vir hoje, agora. “Agora é o tempo aceitável, agora é o dia da salvação” (2 Cor. 6:2). “Se hoje ouvis a sua voz, não endureçais o vosso coração” (Heb. 3:7).
27 Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo.
“Não sabeis que todos os que foram batizados em Cristo Jesus, foram batizados em sua morte” ? (Rom. 6:3). É por sua morte que Cristo nos redime da maldição da lei, mas temos que morrer com Ele. O batismo é “uma morte semelhante a sua” (Rom. 6:5). Ressuscitamos para andar “em novidade de vida”, a vida de Cristo (ver Gál. 2:20). Havendo sido revestidos de Cristo, somos um nEle.
Somos totalmente identificados com Ele. Nossa identidade se perde na sua. Freqüentemente ouvimos dizer de quem se converteu: 'Mudou tanto que é difícil reconhecê-lo. Não é mais o mesmo'.
Não, não é mais. Deus fez dele outro homem. Então, sendo um com Cristo, pertence-lhe tudo o que é de Cristo, inclusive um lugar nos lugares celestiais onde Cristo habita. Da prisão do pecado até a habitação de Deus, é exaltado. Isso pressupõe, então, que o batismo é para ele uma realidade, não uma simples formalidade externa. Não é só na água visível que se batiza, mas “em Cristo”, na vida dEle.
Como nos salva o batismo?
O vocábulo grego que traduzimos por “batizar”, significa “submergir”. O ferreiro grego batizava em água o material que forjava, com o objetivo de o esfriar. A dona de casa, batiza a roupa para lavá-la. E com o mesmo propósito todos ‘batizam” suas mãos em água. Sim, e todos utilizavam com freqüencia o baptisterion – ou tanque - com o propósito semelhante. Disto retiramos a palavra batistério. Que era e é um lugar onde a pessoa poderia submergir completamente debaixo da água.
A expressão “batizados em Cristo”, indica como deve ser nossa relação com Ele. Deveríamos parecer sórdidos e perdidos se comparados a sua vida. Então se verá somente a Cristo, de forma que já não vivo eu, já que “fomos sepultados junto com ele para morte por meio do batismo” (Rom. 6:4).
O batismo nos salva “pela ressurreição de Jesus Cristo” (1 Ped. 3:21), pois somos batizados em sua morte, “se Cristo ressuscitou dos mortos para a glória do Pai, igualmente nós andemos em novidade de vida”. Se fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho; muito mais agora, seremos salvos por sua vida” (Rom. 5:10). Portanto, o batismo em Cristo – não a mera forma, mas o fato –, nos salva.
Batismo significa “uma boa consciência” perante Deus (1 Ped. 3:21). Em ausência disto, não há batismo cristão. Então, o candidato para o batismo deve ter idade bastante para poder ter consciência do fato. Deve ter consciência do pecado, e também do perdão por meio de Cristo. Há de conhecer a vida que então se manifesta, irá depor voluntariamente a velha vida de pecado, rendendo-se a uma nova vida de justiça.
Batismo não consiste em remover “as impurezas do corpo” (1 Ped. 3:21), nem na limpeza externa desse corpo, mas em “uma consciência boa como resposta para Deus” (N. T. Interl.), uma purificação da alma e da consciência. Há uma fonte aberta, para lavar o pecado e a imundícia (Zac. 13:1), e por essa fonte flui o sangue de Jesus.
A vida de Cristo flui desde o trono de Deus, “no meio” do qual está de pé “um Cordeiro como se houvesse sido imolado” (Apoc. 5:6), da mesma maneira que fluiu do lado ferido de Cristo, na cruz. Quando “pelo Espírito Eterno se ofereceu sem mancha a Deus” (Heb. 9:14), de seu lado ferido brotou água e sangue (João 19:34). “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra [literalmente: banho de água na palavra]” (Efe. 5:25 e 26).
Ao ser sepultado nas águas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o crente demonstra sua aceitação voluntária da água da vida, o sangue de Cristo, que purifica de todo o pecado, e se prepara para viver de toda a palavra que vem da boca de Deus. Deste momento em diante perde a si mesmo de vista, e só a vida de Cristo se manifesta em sua carne mortal.
28 Nisto não há judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.
29 E, se sois de Cristo, também sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.
“Não há diferença” (Rom. 3:22; 10:12). É a nota tônica do evangelho. Todos são igualmente pecadores, e todos são da mesma maneira salvos. Quem buscasse fazer diferença em razão da nacionalidade – judia ou gentil –, poderia igualmente fazer com base no sexo – macho ou fêmea –, ou da condição social – amo ou escravo –, etc. Mas não há diferença.
Todos os seres humanos são iguais perante Deus, sem importar a raça ou condição. “Sois um em Cristo Jesus”, e Um é Cristo. “Não diz: aos descendentes, como falando de muitos, mas como de um só: E a tua descendência, que é Cristo” (Gál. 3:16). Não há mais que uma descendência, mas abrange a todos os que pertencem a Cristo.
Ser revestido de Cristo significa ser vestido “do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e santidade” (Efe. 4:24). Aboliu na carne a inimizade, a mente carnal, “criando em si mesmo dos dois um novo homem, que faz a paz” (Efe. 2:15). Ele é o autêntico Homem, “Jesus Cristo homem”. Fora dEle não existe verdadeira humanidade. Chegamos “a um varão perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efe. 4:13).
Na plenitude do tempo, Deus juntará todas as coisas em Cristo. Não haverá mais que um único Homem, e apenas sua justiça, na medida em que o“Descendente” seja um. “E já que sois de Cristo, de certo sois descendentes de Abraão, e de acordo com a promessa, herdeiros”.
O “Descendente” é Cristo. Assim declara o texto. Mas Cristo não viveu para si mesmo. Ganhou uma herança, não para si, mas para seus irmãos. O propósito de Deus é reunir em Cristo, “sob uma só cabeça, tudo o que está no céu e o que está na terra” (Efe. 1:10). Um dia porá um fim a todas as divisões, seja da classe que forem, e já o faz naqueles que o aceitam.
Em Cristo não há distinções de nacionalidade, classe ou cor. O Cristão pensa em qualquer um, - inglês, alemão, francês, russo, Turco, chinês ou africano - simplesmente como uma pessoa, e portanto, como um possível herdeiro de Deus por meio de Cristo. Se aquela outra pessoa, da raça ou condição que seja, se torna cristão, os laços vêm a ser mútuos, e até ainda mais fortes. Não há judeu nem grego, nem servo ou livre, nem homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.
Essa é a razão que torna impossível que um Cristão vá a guerra. O Cristão não conhece distinção de nacionalidade, vê um irmão em todo homem. A vida de Cristo é sua vida, pois é um com Cristo. Será tão impossível entregar-se a luta, como o teria sido para Cristo o brandir a espada e lutar em sua própria defesa, ante o ataque dos soldados romanos, assim, dois cristãos não podem lutar entre si mais do que Cristo pode lutar contra si mesmo.
Não obstante, a guerra não é agora o objeto de nosso estudo, e sim, mostrar a absoluta unidade dos crentes em Cristo. Realmente, eles são um. Apesar dos muitos milhões de crentes que existam, são um em Cristo. Cada um possui sua própria individualidade, mas sempre é a manifestação de algum aspecto da individualidade de Cristo.
O corpo humano tem muitos membros, e todos eles diferem em suas peculiaridades. Porém, observamos perfeita unidade e harmonia no corpo humano, em seu estado de saúde, e também nos que foram revestidos do “novo homem”, o qual, “se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos” (Col. 3:10 e 11).
A colheita
Na explicação que Cristo deu da parábola do trigo e do joio, mostrou que a “boa semente [ou descendente] são os filhos do Reino” (Mat. 13:38). O fazendeiro não permitiu que se arrancasse o joio, pois no estado inicial era difícil distinguir este do trigo, e parte do trigo poderia ser destruída; então, disse: “Permita crescer um e outro até a colheita. E no tempo da sega se dirá aos segadores: Arranque primeiro o joio, e amarre em pacotes para queimar, mas juntai o trigo em meu celeiro” (vers. 30). Como é conhecido, está é a colheita quando se recolhe o grão/ semente.
A parábola tem por ensino específico mostrar que é na colheita que a semente é manifestada em sua plenitude. Tudo aquilo que se colhe espera a plena manifestação e maturidade da semente.
Agora então, “a sega é o fim do mundo”. Então, o tempo mostrado ou em Gálatas 3:19, “até que viesse a semente [ou descendente] a quem tem sido prometida” (N. T. Interl.), não é outro que o fim do mundo, momento no qual se cumprirá a promessa com respeito à nova terra. A “semente” – ou descendente – não pode manifestar-se antes desse tempo.
Leiamos Gálatas 3:19 novamente (R.V. 1977): Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgresssões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita”. O que nos ensina o versículo? Simplesmente isto: que a lei, tal que foi proclamada no Sinai, sem mudar um jota ou um til, é parte integrante do evangelho, e deveria ser apresentada no evangelho, até a segunda vinda de Cristo no fim do mundo.
“Enquanto o céu e a terra existirem, nem uma letra, nem um ponto da Lei perecerão, sem que tudo se cumpra” (Mat. 5:18). E o que diremos do momento em que este céu e esta terra passarem, estabelecendo-se os novos? Então não haverá mais necessidade de que a lei esteja escrita num livro para se pregar aos pecadores, e que seus pecados sejam expostos. Naquele tempoestará no coração de todo o homem(Heb. 8:10 e 11). Abolida? De maneira nenhuma, e sim, gravada indelevelmente em cada pessoa, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo.
A “semente” se refere também a todos quantos pertencem a Cristo,e nós sabemos que a “herança” prometida não se manifestou em sua plenitude. Jesus, em seus dias na terra, não a recebeu em maior medida que Abraão. Mesmo Cristo não pode possuir a “herança” prometida antes que o faça a Abraão, pois “as promessas foram feitas a Abraão e a seu Descendente [ou semente]".
O Senhor falou por meio de Ezequiel que essa “herança” seria no momento em que Davi deixasse de ter um representante de seu trono na terra, e predisse a queda de Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma nestes termos: “assim diz o Senhor Deus: Tira o diadema e remove a coroa; o que é já não será o mesmo; será exaltado o humilde e abatido o soberbo. Ruína! Ruína! A ruínas a reduzirei, e ela já não será, até que venha aquele a quem ela pertence de direito; a ele a darei” (Eze. 21:26 e 27).
Deste modo, Cristo está sentado no trono de seu Pai, e “desde então aguarda que seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés” (Heb. 10:13). Logo voltará. Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, estes são filhos de Deus, e herdeiros com Cristo, de forma que Cristo não pode possuir a herança antes deles. A “semente” é uma; não está dividida. Quando Cristo vier para executar o juízo, e destruir os que disseram “não queremos que este homem reine sobre nós”; quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com Ele, “então se sentará em seu trono de glória” (Mat. 25:31).
Então estará completa a “semente”, e a promessa será cumprida. Até aquele momento, a lei continuará cumprindo fielmente sua missão de despertar e condenar a consciência dos pecadores, não dando-lhes descanso até que venham a identificar- se com Cristo, ou o rejeitarem completamente. Aceitarás as condições, caro leitor? Porás fim a tuas reclamações da lei que te salva de perder-se num sono fatal?
Aceitarás a justiça da lei, em Cristo? Se assim o fizeres, como verdadeira semente de Abraão que és, e herdeiro segundo a promessa, podes alegrar-te em tua libertação da escravidão do pecado, cantando:
Feliz o dia em que escolhi Servir-te, meu Senhor e Deus! Precioso é meu gozo em ti
Se mostre hoje com obra e voz.
Sou feliz! Sou feliz!
e em teu favor desfrutarei.
Em liberdade e luz me vi
quando triunfou em mim a fé,
e a abundancia carmesim,
saúde de minha alma enferma foi.